Esse é um foco bem diferente daquele encontrado em outros títulos do gênero, e também um dos grandes fatores “ame ou odeie” do jogo. Se você não gostar dos puzzles ou não encontrar satisfação apenas na resolução deles, é muito provável que não gostará da nova obra de Jonathan Blow.
Labirintos e mais labirintos
Essa premissa simples sofre algumas reviravoltas. Aos poucos, novas regras são acrescentadas. Primeiro você tem que agrupar certas partes do labirinto, depois formar objetos geométricos com a linha, em seguida passar por determinados caminhos… Cada regra adicionada é reiterada à exaustão e misturada com as outras, tornando os quebra-cabeças insanamente complicados com o tempo.
Tamanho foco nos quebra-cabeças permite que o jogo use uma abordagem um tanto quanto diferente, observando os problemas inerentes aos puzzles de adventures e tentando achar algumas soluções. Nenhuma delas é universal ou aplicável ao gênero como um todo, mas as respostas encontradas não deixam de ser muito interessantes.
Um dos problemas abordados é a falta de clareza em certos puzzles. Sabe como em alguns adventures nem sempre é óbvio o que você deve fazer? Às vezes você nem sabe se está diante ou não de um puzzle, levando ao infame pixel hunting — o ato de clicar desesperadamente em tudo e todos tentando descobrir o que fazer. Em The Witness, esse tipo de dúvida não existe.
A princípio, o jogo evita isso de forma extrema, separando explicitamente os puzzles da exploração. Os quebra-cabeças encontram-se em painéis específicos e a resolução do problema só começa ao se clicar neles. Essa separação é desconstruída aos poucos. Não leva muito tempo para você perceber que o ambiente em que se encontra e o entendimento dele é essencial para se prosseguir. Mas, mesmo nesses casos, continua sendo muito claro qual é o problema a se resolver — restando ao jogador desvendar o “como”.
Também diferente de seus irmãos do gênero, os quebra-cabeças de The Witness têm uma mecânica principal. Há apenas um objetivo: traçar uma linha do início de um labirinto até o fim. Não importa quantas regras são adicionadas ou variações introduzidas, a forma de se interagir com os labirintos e o objetivo continuam os mesmos sempre.
Você decide a aventura
Com tanto foco assim nos quebra-cabeças, por que eu ainda teimo em chamar The Witness de “adventure”, e não admito logo que é um puzzle game? Mesmo com os puzzles sendo a parte principal e mais interessante do game, ele é mais do que isso. A exploração é outra peça integral da experiência do jogo. Quanto mais quebra-cabeças você resolve, mas você pode desbravar a misteriosa ilha em que se encontra.Diga-se de passagem, que ambiente fantástico. Ele passa uma sensação de solidão e mistério que somente Myst (PC), em 1993, conseguiu fazer de forma similar. Mas aqui a estética não é fantasiosa como no clássico dos anos 1990. A ilha de The Witness está muito mais próxima do realismo mágico. É tudo muito plausível… mas tão inusitado que não pode ser real.
A ilha também serve como um grande narrador, ensinando o que está acontecendo a medida que ela é explorada e observada. É como se a trama do jogo em si fosse também um gigantesco quebra-cabeça, que deve ser montado aos poucos.
Graças à liberdade de ir para a direção que quiser, a cena montada é única para cada jogador. Cada pessoa tem uma experiência particular, narrativa e mecânica. O level design até tenta conduzir você por um caminho mais orgânico e natural, enfrentando primeiro os puzzles mais fáceis, mas nada lhe impede de ignorá-lo e explorar a ilha como bem entender.
Isso acaba tornando o jogo ainda mais divisivo. Suas decisões de onde ir e quando podem acabar afetando completamente o ritmo do jogo. A experiência que pode ser suave para alguns rapidamente se torna frustrante para outros simplesmente por terem escolhido uma esquerda diferente.
Mas, no final das contas, sou obrigado a indicar esse jogo para todo mundo justamente por ele ser divisivo. Ele só é polarizador assim porque não se limita a padrões de gênero e tenta fazer as coisas ao seu próprio modo, doa a quem doer — não muito diferente do que Braid (Multi) fez com os jogos de plataforma anos atrás. Ele não marca uma revolução no gênero, mas certamente é um ponto interessante na história dos adventures.
Prós
- Quebra-cabeças fáceis de entender mas que rapidamente ficam complexos e interessantes;
- Ambientação solitária e misteriosa;
- Narrativa contada de forma silenciosa e efetiva;
- Linda direção de arte.
Contras
- Trilha sonora tímida, quase inexistente;
- Pode frustrar quem não gosta de puzzles;
- É sério, é muito puzzle! Se você não gostar deles, o jogo não é pra você!
The Witness — PC e PS4 — Nota Final: 8.5Versão utilizada para análise: PC