Em uma montanha russa de altos e baixos, há qualidades significativas nesse quinto episódio. Entretanto, elas acabam perdendo força perante a erros sérios, que comprometem a diversão que todo Street Fighter sempre trouxe nos jogos da franquia.
A arte da luta
Considerando as lutas em si, o famoso “x1”, Street Fighter V é um ótimo jogo. Todas as promessas feitas nesse quesito foram atendidas.Houve uma simplificação na execução dos golpes. Técnicas de carregar comandos ou movimentos complexos foram quase extintos. A intenção por trás dessas mudanças é não travar o jogo por conta de dificuldades na realização dos golpes, deixá-lo acessível de forma que você possa fazer o que quiser.
Não significa que o Street Fighter V seja um jogo raso nesse aspecto. Ainda existem diversas camadas de complexidade que devem ser desbravadas. O jogo não está mais fácil, mas sim mais controlável. Com um pouco de treino e dedicação, fazer alguns combos mais elaborados não parece tão impossível.
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Rashid é um lutador bem ofensivo |
V de Vitória
Somado a essas mudanças, temos as novas habilidades específicas desse Street Fighter V. As estreantes da vez são a nova barra chamada V-Gauge e três novas técnicas:- V-Skill: Acionado com Soco Médio + Chute Médio, é um movimento único para cada personagem, variando de um ataque a um movimento defensivo;
- V-Trigger: Gasta completamente a V-Gauge, gerando um golpe especial ou aumentado a força do lutador por um tempo, dependendo do personagem;
- V-Reversal: Usa uma divisória da V-Gauge e abre uma brecha no ataque inimigo para contra-ataque. Ativado apertando para frente mais três socos ou três chutes, dependendo do personagem.
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A V-Gauge é o recurso que permite um lutador em desvantagem alterar o rumo da partida. Desde que ele tenha a habilidade para usar essa ferramenta. |
Todas essas mudanças são benéficas no sentido de “obrigarem” a pessoa a entender o jogo. A execução mecânica passa a ter menos peso, dando espaço a um maior foco em estratégias e análises da luta.
Falando em barras, a barra de stun agora é visível, dando a noção exata de quanto um personagem está próximo de ficar tonto. Isso também traz aquela clássica indagação dos tempos de fliperama: vale pegar tonto?
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Graficamente, SF V está muito bonito. |
As pedras no caminho do guerreiro
Bom, pelo escrito acima, é visível que a Capcom fez um grande esforço para tornar Street Fighter V o mais abrangente possível. Mas todas essas mudanças são borradas pelo resto do jogo, que é incompleto e fraco. Se as decisões de design dentro das partidas são boas, as externas são péssimas.O modo História é uma breve introdução para cada personagem. Literalmente. São duas ou três lutas de um round, com um nível de dificuldade praticamente inexistente. É um bom meio de introduzir os lutadores, mas definitivamente não há desafio aqui.
Temos então o modo Versus, que não traz opção de lutar contra o CPU, só contra um player 2, e o modo Sobrevivência. Neste último, o nível de dificuldade deixa a desejar de maneira geral. O seu maior inimigo será você mesmo, já que depois de um tempo de jogo esse modo só se torna cansativo. Tudo isso só para ganhar uma cor extra para o personagem.
Por fim, há o modo Treinamento. Com diversas opções, é um modo bem competente. E o único lugar onde você pode lutar com o CPU definindo o nível de dificuldade da máquina.
A falta de um modo equivalente ao Arcade é uma punhalada nas costas de SFV. A sensação que tive é que a ideia era criar só uma plataforma online, e que os modos single-player estão presentes só para completar a tela, como suporte para os confrontos via internet.
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Menu principal do jogo. Estou até agora procurando um modo arcade, mas sem sucesso. |
Futuramente haverá o modo Desafio (março) e o tão falado modo História “de verdade” (junho). Ao pegar o jogo agora, fica aquela sensação de ter pago por um produto que não foi finalizado da maneira adequada.
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F.A.N.G usa venenos no adversário, tirando a vida do oponente de pouco em pouco. |
A briga agora é online
Por tudo o que eu disse, podemos pensar que pelo menos as partidas online, o carro chefe do produto, estão funcionando de forma satisfatória. Bom, infelizmente a história não é bem essa.Como todo grande lançamento nesses últimos anos, complicações nos servidores foram constantes. Em comparação com o primeiro dia, a situação está aos poucos melhorando, mas a demora para achar partidas ainda incomoda.
Eventualmente, acredito que esse problema deva ser atenuado, mas em um título que aposta todas suas fichas no online, e traz tão pouco conteúdo offline, esses erros ganham uma dimensão muito maior. Pelo menos durante as lutas, poucas vezes tive problemas de lag e, quando houve, nunca foi algo grave.
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Não há mais tela de seleção antes de lutar on-line. Você já deixa sua escolha pré-definida, assim já vai direto para a luta quando encontra um oponente. |
Por fim, ainda há o Capcom Fighters Network, que serve de hub para adicionar amigos ou outros jogadores que você queira acompanhar, ver replays da comunidade e os placares de pontos.
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Geralmente isso costuma doer |
A busca pelo mais forte está longe de acabar
Street Fighter V tinha potencial para ser um dos melhores lançamentos de 2016, mas o que temos é um produto com cara de inacabado e terminado às pressas para atender uma demanda de torneios e contratos. Pelo jeito como foi entregue, é triste ver que temos só pedaços de um jogo. A impressão é que a Capcom quis mais entregar uma plataforma de luta online do que um jogo completo, um que carrega o nome de Street Fighter.Há coisas muito boas, como as novas mecânicas de luta. A parte gráfica e sonora são de ótima qualidade. Com todos os patches e expansões prometidas, provavelmente Street Fighter V será um jogo bem melhor daqui seis meses ou um ano. Mas hoje, pelo que foi disponibilizado, é difícil recomendar o título para alguém que não queira se dedicar nas partidas online ou já tenha alguns amigos para jogar junto.
É uma pena ver tanto cuidado com algumas partes e tanto descuido com outras, pois eu realmente me diverti jogando. Como fã da franquia, espero que o tempo, com seus pacotes de atualizações, cure as feridas, e que Street Fighter V se torne o jogo que ele já deveria ser logo no lançamento.
Prós
- Novo sistema V-Gauge;
- Simplificação de mecânicas de luta;
- Variedade de perfil de lutadores;
- Ótima trilha sonora.
Contras
- Falta de modos do jogo single-player;
- Dificuldade baixa nos modos existentes;
- Problemas nos servidores ainda persistem;
- Jogo lançado “em parcelas”.
Street Fighter V — PC/PS4 — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: José Robson Jr.