Stronghold: Crusader (PC) trazia a guerra medieval até a Terra Santa

Vastos desertos lhe aguardavam, seja para construir o castelo perfeito ou conquistá-lo com flechas, espadas e outras artimanhas.

em 17/01/2016

A história começa em um pequeno castelo montado por europeus situado no meio de algum dos desertos do Oriente Médio, próximo a um pequeno oásis no qual alguns fazendeiros plantam trigo e cuidam de gado. Arqueiros vigiam do alto de suas torres por perigos, enquanto um par de espadachins fazem uma ronda por seus muros. Porém, nenhum deles enxerga o assassino se esgueirando pela areia, que escala o muro com uma corda. O mesmo assassino sobe até a torre, derrota os arqueiros e corre até o portão do castelo, fugindo da rota dos espadachins. Ele toma controle do portão, e o abre para seus companheiros. Pouco tempo depois, um enorme contingente de árabes invade o castelo pelo portão, com o objetivo de tomá-lo para si.



O que podia parecer cenas de um bom filme de ação é na verdade parte da jogabilidade padrão de Stronghold: Crusader. O jogo de estratégia lançado em 2002 era a continuação direta de Stronghold, lançado um ano antes. Ambos focavam na criação de uma pequena vila em torno de um castelo, na qual você precisava organizar seus servos para produzirem alimentos para se sustentarem e equipamentos para que você pudesse criar exércitos e derrubar o castelo de seus oponentes. Nisso ele lembrava bastante a série Lords of the Realm, mas, por apresentar a jogabilidade em tempo real, assemelhava-se também a Age of Empires.

A caminho dos desertos

O primeiro Stronghold apresentou uma história de um nobre derrubado de seu poder por quatro outros na Europa, e que teve um jovem comandante tendo que reconquistá-la a ferro e fogo em diversas regiões. A história continuava por aqui ao assumir que esse mesmo comandante resolveu tomar parte das Cruzadas, e partiu para a Terra Santa.

Apesar disso ficar parcialmente evidente na campanha Crusader Trail, a história nunca mais é citada e no fim acaba deixada de lado. Ela acabava sendo mais evidente nos mapas referentes a combates históricos, que representavam parcialmente alguns dos vários conflitos que envolveram a Primeira, Segunda e Terceira Cruzadas, tanto pelo ponto de vista europeu como árabe, em locais como Antióquia e Jerusalém.
Bem vindo aos desertos, senhor

As maravilhas do deserto

Boa parte dos mapas do jogo se situavam no deserto, mas isso não quer dizer que não era possível encontrar outros recursos por ali. Depósitos naturais de pedras e ferro podiam ser explorados a partir da construção de minas, enquanto pequenos oásis podiam ser aproveitados como terra fértil para fazendas e árvores para produção de madeira. Até mesmo piche podia ser retirado caso houvesse um pântano no mapa.

Cada um desses recursos tinha usos importantes. Madeira era a base de qualquer construção, já a comida era necessária para manter sua população trabalhando. Ferro era necessário para produção de armas e armaduras, enquanto pedra podia ser utilizada para muros e algumas construções.
Explorar os recursos de minas era importante para criar tanto armas como muros


Já o piche fazia parte das defesas do castelo. Era possível montar um campo de piche e usar um arqueiro para atear fogo nele no momento correto, normalmente quando tropas inimigas se aproximavam. O fogo dizimava tropas, e fazia ainda mais estrago caso o inimigo fosse devagar para sair do chão pegando fogo. Outras armadilhas também podiam ser construídas, como espinhos escondidos no chão, um fosso, uma pessoa com um pote de óleo para jogar em quem passasse embaixo ou até mesmo cães raivosos. Defender um castelo era bem divertido.
Fogo também podia ser utilizado ofensivamente, destruindo estruturas inimigas aos poucos

O Senhor dos Recursos

Outro recurso extremamente importante que não podia ser extraído diretamente era ouro. Dinheiro era necessário para recrutar tropas, montar armas de cerco como catapultas e construir estruturas como estábulos e igrejas. Ouro era gerado via impostos cobrados de sua população ou vendendo recursos salientes através de um mercado. Porém, quanto maior a cobrança de impostos, pior seria a moral de seus servos. E uma moral muito baixa afugentava servos de seus domínios. De que adiantava ser um poderoso senhor feudal se você não tinha ninguém para dar ordens?

Aqui era possível mover a moral de seus servos ao assumir atitudes boas ou ruins em seu castelo. Ser um senhor feudal bondoso significava construir jardins e outras amenidades para agradar a sua população. Com isso, você ganhava um bônus de moral com o povo, porém uma queda de produtividade. Aparentemente, seus servos começavam a lhe achar bonzinho até demais, e começavam a relaxar em suas tarefas, fazendo pausas entre as atividades. E isso piorava conforme você colocava mais itens positivos.
Itens positivos tornam sua população mais feliz e embelezam seu castelo.

Por outro lado, o ponto negativo pressionava sua população a trabalhar ainda mais. Menos pausas entre trabalhos, movimentação mais rápida e até mesmo entregar itens a mais eram alguns dos efeitos que você via em seus servos após colocar itens como uma masmorra, guilhotina ou uma forca. E obviamente isso tinha um impacto negativo na população, já que todos morriam de medo de serem os próximos em algum desses itens.

Mesmo assim, era bem fácil de lidar com a moral de sua população. Outros itens a afetavam, como rações de comida, impostos, religião e tavernas. Acabava sendo simples de manter impostos altos só com tavernas funcionando a todo vapor, devido ao enorme bônus que concediam para moral. E quando combinado com rações extras de comida, tornava-se viável manter impostos abusivos em uma população amedrontada e mesmo assim manter a moral no máximo. Normalmente essa era a tática mais efetiva para gerar o máximo de recursos possível e montar um enorme exército para derrotar seus inimigos sem problemas.

As ferramentas de guerra

Trazidas diretamente do jogo original, as unidades europeias dependiam de armas e algum dinheiro para serem recrutadas. Elas eram:

  • Spearman: Uma unidade corpo a corpo barata e pouco durável. Necessitavam de uma lança para serem recrutados, e podiam ser importantes para cavar ou cobrir fossos, absorver choques iniciais e empurrar escadas de seus muros;
  • Archer: Um arco, um pouco de dinheiro e um servo disponível eram necessários para uma das tropas mais úteis do jogo. Seu longo alcance e rápida velocidade os tornavam úteis para ataques ao enfraquecer inimigos a distância ou então defendendo em cima de um muro. Porém, eram pouco efetivos contra tropas que utilizavam armaduras pesadas;
    Arqueiros em torres faziam parte importante de suas defesas

  • Maceman: Bem mais resistentes que os Spearman, requeriam armaduras de couro, além da maça feita de ferro. Porém, eram uma potente e resistente tropa de choque para a maioria dos combates;
  • Crossbowman: Assim como os Maceman, também utilizavam uma armadura de couro, o que lhes dava uma ótima defesa. Suas bestas possuíam menor alcance e tempo de recarga maior que os arqueiros, porém isso era compensado com a maior potência de tiro, causando estrago em qualquer tropa;
  • Pikeman: Essa tropa utilizava armaduras e alabardas feitas de metal, o que os tornavam as tropas mais resistentes do jogo. Ótimos para defender pontos vulneráveis de um castelo;
  • Swordsman: A melhor tropa de combate a pé do jogo, esse espadachim necessitava de armadura de metal e espada para poder ser recrutado. Infelizmente, isso trazia um lado negativo, já que ele era extremamente devagar no campo de batalha e vulnerável a tropas de longo alcance;
  • Knight: Já que os Swordsman são devagar, vamos colocá-los em cima de cavalos para torná-los rápidos, que tal? A mais poderosa tropa de combate do jogo só tinha um defeito: não era possível descer do cavalo. Com isso, era impossível utilizá-los para invadir muros ou a fortaleza inimiga para matar o senhor feudal inimigo.
As unidades europeias são recrutadas a partir de uma Barracks, após obter as armas necessárias.


E como estamos falando de Cruzadas, ia ser estranho não existirem tropas árabes, correto? Elas podiam ser recrutadas após estabelecer um campo de mercenários em seu castelo, e não requeriam armas, somente uma quantidade maior de dinheiro. Aqui as possibilidades eram:
  • Slave: Um escravo, armado somente com uma tocha. São ainda mais fracos que Spearman, mas compensam isso sendo ainda mais baratos. E caso consigam passar a tocha algumas vezes em algum prédio, ele vai pegar fogo. E fogo pode espalhar;
  • Slinger: Utilizando uma funda para atirar pedras como na história bíblica de Davi contra Golias, eram uma tropa barata de longo alcance. Porém, suas fundas mal faziam arranhões em tropas com armaduras, então não tinham muito uso;
  • Arab Bow: Parecidos com sua contraparte europeia, porém levemente mais fortes por utilizarem um tipo de arco diferente. Apesar de serem mais caros que os europeus para serem recrutados, acabavam compensando pelo poder de fogo;
  • Assassin: Uma das unidades mais interessantes do jogo, assassinos conseguiam andar despercebidos por outras unidades, escalar muros e tomar portões. Muito úteis para desarmar defesas inimigas, e perigosos quando utilizados contra você;
  • Horse Archer: Os arqueiros montados em cavalos conseguiam atirar enquanto se movimentavam a altas velocidades. Isso os tornava úteis para táticas de atacar e correr, ou manter distância de tropas corpo a corpo enquanto causavam dano;
  • Arab Swordsman: Um pouco mais fraco que sua contraparte europeia, devido ao fato de trocar a armadura completa por uma cota de malha. Porém, isso os tornavam mais rápidos. Mesmo assim, seu ataque corpo a corpo era bem poderoso;
  • Fire Thrower: Essa unidade atirava bombas capazes de atear fogo no alvo ou no terreno. Eram úteis para defender contra unidades mais lentas como Swordsman ou então para atear fogo a distância em um castelo inimigo.
As tropas árabes trazem uma mistura diferente aos combates


Além desses, existiam algumas tropas iguais para os dois lados, que eram os Tunnelers, Laddermen e Engineers. O primeiro cavava um túnel de seu local de origem até o destino, danificando torres e muros no caminho. Já o segundo levava uma enorme escada, e a encostava ao chegar em um muro, possibilitando que suas tropas a escalassem. Por último e mais importante, o Engineer podia construir e manejar diversas unidades de cerco para atacar seu oponente, como catapultas, trabucos, balistas, aríetes, escudos e até torres de cerco.
Um cerco podia ser complicado e utilizar vários tipos de ataque ao mesmo tempo.

Os caminhos do deserto

Stronghold: Crusader fez um enorme sucesso desde seu lançamento, superando seu antecessor. Posteriormente foi lançada a coletânea Warchest, que o trazia junto do Stronghold original. E aqui o Crusader também ganhava novos mapas, inimigos e uma continuação da campanha Crusader Trail.

Eventualmente acabou recebendo uma nova versão com Stronghold: Crusader Extreme em 2008. Ela trazia um enorme aumento do limite de unidades possíveis ao mesmo tempo, alguns poderes temporizados e uma nova campanha Crusader Trail extremamente difícil. Posteriormente, o jogo ainda ganhou uma versão remasterizada em HD lançada em 2012, que incluía também o conteúdo da versão Extreme. E em 2014 ganhou uma continuação direta com Stronghold Crusader 2. Essa última atualiza o jogo para mapas em 3D e inclui várias novidades na jogabilidade, porém sem perder a essência estabelecida no primeiro jogo. Os mesmos oponentes caricatos, como o Rato e o Califa, continuam aqui, juntos a novas caras. Fazer parte desta história foi e continua sendo muito divertido.
A versão extrema trazia mapas com quantidades absurdas de tropas ao mesmo tempo

O segundo jogo melhora ainda mais a diversidade entre árabes e europeus, e torna o jogo ainda mais bonito em 3D.


Revisão: Vitor Tibério
Capa: João Leal

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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