É claro que há dragões, está no nome do jogo. Esse camarada aqui é o Drake. |
Parece até alguém narrando sua experiência em uma partida de RPG convencional (também chamado de RPG de mesa). Dragon’s Dogma: Dark Arisen é um dos poucos jogos que consegue se aproximar da sensação de descoberta e tensão de uma aventura. Lançado em 2012 para PlayStation 3 e Xbox 360, tornou-se um game do tipo “ame ou odeie” por sua tentativa de misturar elementos vistos em Dark Souls, The Elder Scrolls, Monster Hunter e Shadow of the Colossus.
Como vendeu dentro do esperado e gerou uma legião de fãs, ganhou uma versão atualizada em 2013, adicionando o subtítulo Dark Arisen e a ilha Bitterblack Isle, para jogadores de nível alto. Desde então os jogadores de PC pedem por um port. A Capcom, enfim, decidiu atender esse desejo, em toda sua glória 1080p/60 fps.
Gransys não é muito grande, só passa essa impressão por ter que andar muito. |
Levante, Arisen, e enfrente seu destino
Dragon’s Dogma conta a história de um ciclo, no qual um dragão chamado Grigori acorda e rouba (literalmente) o coração de uma pessoa. Esse azarado torna-se o Arisen, escolhido para enfrentar Grigori e tentar reaver seu coração. Até encontrar o bicho, temos que viajar pelo continente de Gransys para obter a ajuda do duque e, como em todo RPG, resolver outros problemas (ou seja, sidequests). Para cumprir seu objetivo, o Arisen (criado pelo jogador) conta com a ajuda dos Pawns, seres que vivem em uma dimensão chamada Rift e que são invocados para complementar a equipe do jogador.Os Pawns são o aspecto social do jogo. Criamos o nosso próprio Pawn, que é nosso companheiro fixo. Ele ganha experiência e níveis como o Arisen, e podemos trocar seus equipamentos, classes e habilidades. Nosso Pawn pode ser invocado por outro jogador, e nós podemos invocar o dele. Além de complementar o time, esses NPCs ganham e emprestam conhecimento. Podem, por exemplo, nos dar direções sobre uma quest que ainda não fizemos, mas que o Pawn já fez. E pode aprender a fraqueza de um monstro que não havia enfrentado. É melhor procurar por um Pawn bem criado, com conhecimento e equipamentos, do que simplesmente ir pelo nível.
Crie um bom pawn e ele vai ser invocado por mais gente. |
Toda a ação acontece em tempo real e com várias possibilidades. Podemos agarrar um goblin para que outro membro do grupo tenha a chance de acabar com ele ou arremessá-lo de um penhasco. Ou escalar um ciclope para atacá-lo diretamente no olho. Ao criar nosso Arisen, escolhemos entre três classes básicas: Fighter (guerreiro), Mage (mago) e Strider (arqueiro).
Se arco e flecha é sua praia, Dragon's Dogma é o melhor jogo para você. |
Apesar de algumas profissões serem um pouco desequilibradas, todas são divertidas de jogar. O destaque fica com os arqueiros e os magos. Usar magias requer mais estratégia, pois leva um tempo para carregar cada uma e só podemos equipar seis habilidades ativas por personagem. É como jogar Dungeons & Dragons e ter que memorizar as magias todos os dias. Para trocar, só voltando para a cidade. Os arqueiros estão mais próximos do Legolas do filme O Senhor dos Anéis. São rápidos e ágeis, e se o inimigo estiver perto, o jeito é partir para cima com duas adagas. Poucos jogos conseguem dar uma satisfação tão grande ao jogar com um arco e flecha.
Nunca provoque um grifo faminto se não tiver certeza que pode vencer o combate. |
O jogador é livre para explorar o continente de Gransys, sendo impedido apenas pela dificuldade do local. Ou seja, se está morrendo com facilidade ao seguir por um caminho, talvez seja melhorar voltar depois. É uma solução mais elegante do que colocar algum tipo de bloqueio. A geografia é outro ponto polêmico. Alguns reclamam muito da existência de apenas duas cidades no jogo: o vilarejo Cassardis e a capital Gran Soren. Existem alguns acampamentos em outros pontos do mapa. Viajar é perigoso, principalmente à noite. A visibilidade cai e os monstros são mais perigosos.
Se fosse na versão de consoles, o jogo estaria quase parando de tanta lentidão. |
Os problemas atacam em bando
Por mais divertido que seja matar monstros em Gransys, Dragon’s Dogma tem algumas falhas que podem desanimar alguns jogadores. Vamos direto ao coração do dragão e deixar bem claro: todas as mudanças realizadas na versão de PC envolvem o desempenho do game. Quem jogou as versões de PS3 e X360 lembra-se das constantes quedas de framerate. Bastava aparecerem mais inimigos e algumas magias na tela que a taxa de quadros despencava até ficar na casa de um dígito. No PC isso não acontece, pois o limite é de 150 fps e o jogo roda constantemente a 60 fps. Os gráficos melhoraram, agora em 1080p e sem as malditas tarjas pretas (letterbox) fixas que existiam nos consoles. O jogo pode rodar acima dos 4K, desde que seu PC aguente isso. Quem tiver uma máquina mais possante pode rodar o jogo com mods gráficos como o ENB.A transição para teclado + mouse funciona melhor do que o esperado, ao contrário de Dark Souls para PC. Deixaram passar alguns problemas, como a ausência de um botão que salve o jogo sem ter que pausar, e o backspace, que ao invés de apagar os nomes na criação de personagens, serve para voltar à tela anterior. Por outro lado, agora finalmente temos teclas de atalho para os itens. Ainda assim, recomendo que use um controle e atalhos no teclado para os itens.
Tirando a parte técnica, o jogo é 99,9% o mesmo que nos consoles. Os itens que eram vendidos via DLC ou que eram obtidos como bônus para quem tinha um save do Dragon’s Dogma pré-Dark Arisen estão disponíveis gratuitamente in-game. Infelizmente, a dublagem em japonês e os itens do anime/mangá Berserk foram retirados por problemas de licença. Nada que algum mod não resolva, como fizeram para que abertura volte a tocar Into Free, da banda japonesa B’z (tema da versão original).
Já que o jogo não mudou, quem não gostava de Dragon’s Dogma por aspectos que não envolviam seu desempenho vai continuar reclamando. Em uma era que os RPGs open-world abusam do fast travel, a Capcom apostou no contrário, para forçar os jogadores a caminhar pelo mapa. Existe fast travel no game, mas ele foi concebido de forma a desencorajar os jogadores. É necessário colocar um Port Crystal no local desejado para criar um ponto de teleporte. Esses cristais são obtidos muito mais tarde no jogo, custam caro e há um limite de 10 pontos de teleporte. Além disso, toda vez que for teleportar, é necessário usar uma Ferrystone. No jogo original, uma pedra dessas custava 10 mil.
Como muitos reclamaram, a Capcom equilibrou as coisas em Dark Arisen. Os itens ficaram mais baratos e surgiu a Eternal Ferrystone, que pode ser usada infinitamente. Particularmente, eu preferia viajar a pé mesmo, para manter o clima de aventura. Só passei a usar a Ferrystone quando passei do nível 150 e os inimigos já não representavam mais nenhum perigo.
Quanto maior o ciclope, maior a queda e a EXP ganha. |
Faltou um modo multiplayer direto, nem que fosse apenas para formar um grupo e enfrentar uma sala cheia de monstros ou o Ur-Dragon, um enorme dragão que tem uma barra de vida gigantesca. O sistema de troca de Pawns é sensacional e muito bem pensado, embora seja restrito pela falta de interação com os outros jogadores. Temos um ranking dos melhores do mês, podemos dar alguns elogios padrões e notas, mas é só. Para falar com outros jogadores e realmente incentivar a comunidade, é necessário recorrer a fóruns na internet. A promessa de eventos que unissem os jogadores de alguma forma ficou parada no Ur-Dragon. A versão online do monstro é compartilhada entre todos os gamers. Cada um irá enfrentá-lo e tirar uma parte de sua vida até que ele fuja. O próximo a enfrentá-lo irá continuar o trabalho, e assim vai até vencer. Quem der o último golpe ganha os melhores itens, mas todos que participaram recebem alguma recompensa. Só que o Ur-Dragon tem um limite de força e perdeu relevância – Bitterblack Isle tem inimigos mais difíceis e que dão recompensas melhores.
Viajar à noite é perigoso. Vai que uma quimera resolve te transformar em lanche da meia-noite. |
Considerações finais
Levou anos, mas Dragon’s Dogma encontrou sua forma definitiva no PC. Foi um dos meus jogos favoritos da geração passada e merecia uma versão à altura de seu potencial. A narrativa é ruim e tem quests repetitivas. E isso não vai mais importar a partir do momento em que sacar sua arma e começar a lutar contra ciclopes e dragões. Se gosta dos combates em RPG, Dragon’s Dogma é imbatível e você deveria dar uma chance.Prós
- O melhor combate em um RPG contemporâneo;
- Criar e compartilhar Pawns é divertido;
- Ambientação lembra as velhas e boas partidas de D&D.
Contra
- Não foge das quests repetitivas;
- Boa sorte para entender (e gostar) do enredo;
- Os Pawns são legais, mas seria melhor com um modo multiplayer de verdade.
Dragon’s Dogma: Dark Arisen – PC – 9.0
Revisão: Luigi Santana
Capa: Daniel Serezane