Análise: Tales of Zestiria (Multi) é um RPG intenso e imersivo

O 15º jogo da franquia traz uma aventura extensa com combate divertido e viciante.

em 05/11/2015
A série de RPGs Tales é uma das mais populares no Japão, ficando atrás somente de Final Fantasy e Dragon Quest. Para comemorar o aniversário de 20 anos da franquia, a Bandai Namco resolveu fazer um jogo que resgatasse as principais características dos títulos anteriores. O resultado é Tales of Zestiria, que foi desenvolvido originalmente para PlayStation 3 e depois adaptado para PlayStation 4 e PC. Com uma história focada na relação de amizade de humanos e espíritos, um sistema de batalha intenso e muito conteúdo, Zestiria já pode ser considerado um dos melhores da série.

Uma jornada para livrar o mundo da escuridão

Em Zestiria, acompanhamos Sorey, um rapaz que consegue ver e interagir com os serafins — uma raça com poderes mágicos que é invisível para praticamente todos os humanos. Ele parte em uma aventura para purificar o mundo da Malevolência, uma força sombria que corrompe as pessoas e traz a discórdia e o caos. Para isso, Sorey torna-se um Pastor: uma pessoa que consegue usar os poderes dos serafins para acabar com os seres infernais que assolam o mundo. Para deixar as coisas mais complicadas, os dois reinos desse lugar estão em guerra e farão o possível para usar os poderes do Pastor para seus próprios interesses.


A trama é exatamente isso: garoto do campo sai em uma jornada para livrar o mundo do mal. A história é simples e não há muita profundidade — por sorte o jogo não leva a própria trama muito a sério. Existem algumas coisas interessantes, como a questão do dom de ver seres que a maioria desconhece a existência: em muitos momentos, os monstros que os heróis enfrentam não passam de pessoas ou animais possuídos. É interessante ver as situações pelos olhos de Sorey, ao mesmo tempo que acompanhamos também como pessoas normais percebem os fatos.

Para compensar a trama rasa, temos personagens de personalidade interessante. Sorey é o típico herói disposto a sacrificar tudo, mas que é também fissurado em ruínas. Edna, a serafim da terra, é extremamente irônica e é a responsável pela maior parte dos diálogos divertidos. Já Rose é uma assassina de bom coração que não tem receio de falar o que está pensando. A personalidade dos heróis é explorada principalmente nas Skits, as conversas entre os personagens — não deixe de conferir todas, a maioria delas são bem divertidas.


Parte técnica mediana e textos em português

Tales of Zestiria foi originalmente desenvolvido para PlayStation 3, por isso seus gráficos não são o ponto forte do jogo. No lançamento ocidental, o título também chegou ao PlayStation 4 e PC com pequenas melhorias técnicas: as texturas estão melhores, os modelos dos personagens principais apresentam maior polimento e a ação tem menos engasgos. A questão dos gráficos medianos não seria tão aparente se a direção de arte do jogo fosse interessante, mas infelizmente ela é pouco inspirada: Sorey e seus amigos exploram planícies, castelos, desertos e outras várias localidades já muito exploradas em outros RPGs de temática medieval, poucos locais têm visual marcante. Por sorte, a aventura é bem divertida e tudo isso não atrapalha tanto a experiência.


Outro detalhe importante é que Zestiria é o primeiro título na série a ser completamente localizado para o português do Brasil nas versões de PS4 e PC. Para quem já conhece a franquia, pode parecer meio estranho em um primeiro momento, mas bastam algumas horas para se acostumar. A tradução está bem fiel ao inglês e conta com adaptações de termos para a realidade brasileira. Existem alguns pequenos problemas como palavras estranhas ou erradas e até mesmo texto espremido em alguns momentos, o que pouco atrapalha o resultado final. Sendo assim, jogue em português sem medo.

Explorando um vasto mundo e dominando sistemas

Uma novidade muito bem vinda é a estrutura do mundo: as áreas do jogo são vastas e repletas de coisas para fazer e segredos para descobrir. É muito divertido explorar os locais a procura de tesouros, pontos de interesse e calabouços opcionais. Zestiria lhe incentiva a vasculhar todos os cantos, pois encontrar coisas escondidas lhe dá pontos para ativar habilidades de combate.

Outra forma de encorajar a exploração é o recurso especial chamado Lorde da Terra: um serafim protege uma área e é possível ativar bençãos que provêm vantagens interessantes como equipamentos mais poderosos e itens especiais — caso queira, existe até a possibilidade de aumentar a força dos inimigos. Para usar essas opções, contudo, é necessário vencer lutas na área de influência do serafim em questão. Sendo assim, é importante revisitar locais anteriormente visitados.


O desenvolvimento dos atributos dos personagens de Tales of Zestiria é bem flexível e apresenta muitas opções. Desta vez, os heróis recebem novas habilidades ao equipar itens como espadas e armaduras. É possível fundir equipamentos para aumentar as características deles e combinar suas habilidades. Ao ativar várias melhorias específicas, os personagens podem receber poderosas habilidades-bônus. É um sistema complexo e repleto de possibilidades, por mais que as explicações dentro do jogo sejam um pouco confusas — não deixe de conferir nosso guia de fusão de equipamentos. De qualquer maneira, jogadores mais dedicados vão passar horas tentando montar equipamentos poderosos.

A mudança para uma espécie de mundo mais aberto foi uma ótima alteração, mas, infelizmente, a progressão da trama continua extremamente linear. Para piorar, em muitos momentos, é impossível visitar boa parte das áreas exploradas anteriormente, o que quebra a suposta liberdade prometida pela desenvolvedora. Por sorte, os cenários oferecem muitas opções de lugares para ver e coisas para fazer, logo esses impedimentos não afetam tanto o ritmo da aventura.

Juntando forças no combate

O combate é o momento mais divertido de Tales of Zestiria. Ele é em tempo real e lembra muito um jogo de luta por conta de seus combos, ataques especiais e feitiços. O sistema desse título é baseado no presente em Tales of Graces f (PS3) e conta com a câmera focada nas costas do personagem, ao contrário de outros jogos da série que têm visão lateral na batalha.


Em um primeiro momento, tudo parece muito simples: basta apertar o botão de ataque para golpear os inimigos e pronto. Mas, pouco a pouco, novidades são adicionadas ao sistema de batalha e tudo fica bem interessante. A flexibilidade é grande: em uma única sequência de ataques é possível misturar golpes normais, ataques especiais, movimentos de esquiva e até mesmo poderosas técnicas finalizadoras. Existe também hierarquia entre os tipos de ataques: certos golpes especiais interrompem movimentos dos inimigos — e vice-versa. Sendo assim, é extremamente importante ficar atento para tomar vantagem disso. O resultado é um combate muito mais técnico e interessante que o dos títulos anteriores.

Depois de avançar um pouco na aventura, Sorey recebe o poder da Armatização. Ele permite que o herói e um dos seus companheiros serafim se juntem temporariamente em um único personagem com ataques elementais ao toque de um botão. Nesse estado, Sorey se torna mais poderoso e tem acesso a técnicas devastadoras. Entretanto, alguns inimigos são extremamente resistentes aos ataques do estado Armatizado, por conta disso é necessário avaliar quando usar essa técnica.


Por fim, outra novidade de Zestiria é que os combates acontecem no mesmo local da exploração — nos títulos anteriores, a batalha acontecia em uma arena separada. É uma adição interessante, pois faz o jogador levar em conta elementos do cenário que podem influenciar o confronto, como árvores e paredes. Infelizmente a câmera do combate é problemática: em muitos momentos, ela fica presa em algum lugar ou então próxima demais da ação, o que atrapalha muito entender o que está acontecendo. Em locais fechados como cavernas e corredores, esse problema fica pior por conta das paredes. Até existe uma opção para customizar a posição da câmera, mas a melhor maneira de contornar isso é evitar confrontos em lugares apertados.

Acompanhando o Pastor e seus amigos

A sensação de jogar Zestiria é bem próxima de acompanhar um anime. Tudo está lá: uma trama fundamentada no poder da amizade, os personagens com os estereótipos de sempre, os vilões com motivações risíveis, as situações e reviravoltas previsíveis. Contudo, as personalidades dos heróis, as conversas opcionais e a grande quantidade de coisas para fazer foram suficientes para me fazer continuar jogando — é tudo muito divertido.


O combate é, sem sombra de dúvidas, a melhor característica do jogo. O sistema de batalha é ágil, repleto de opções e acessível. Comecei jogando na dificuldade “Normal”, mas logo passei para a “Difícil” por estar achando tudo fácil demais. Nesse nível de dificuldade, precisei pensar melhor meus movimentos e ficar atento a todos os golpes dos inimigos, sempre tentando explorar suas fraquezas. É muito recompensador criar sequências longas de golpes, fechando o combo com uma Ars Mística — um golpe extremamente poderoso e estiloso, com direito a uma grande ilustração do personagem cobrindo a tela. Perdi a conta das vezes que simplesmente fiquei lutando com os inimigos ao invés de avançar na história.

Infelizmente encontrei um problema extremamente irritante nos combates, além da câmera problemática: a inteligência artificial dos personagens controlados pelo computador é péssima. A situação é tão precária que os heróis, em alguns momentos, não são capazes de esquivar de ataques básicos, o que deixa tudo mais complicado na dificuldade “Difícil”. Até é possível dar algumas ordens para o grupo, mas são extremas: ou todos atacam sem pensar (e acabam morrendo), ou ficam completamente parados. Recomendo chamar um amigo para controlar a outra dupla de personagens.


Tecnicamente o jogo não tem nada de mais, o que já era esperado de um título de PS3 e de uma série que nunca se preocupou muito em apresentar gráficos incríveis. Nas cenas de história, os personagens até apresentam muitos detalhes, mas a maioria dos cenários são nada especiais. A música do título é de autoria de Motoi Sakuraba (responsável pela trilha sonora de outros jogos da série Tales) e Go Shiina (de Tales of Legendia, God Eater), o que traz qualidade oscilante. Algumas músicas, como temas de cidades e cavernas, são completamente desinteressantes. Já outras, como a música de combate e os temas dos templos elementais, são muito boas e memoráveis.

Uma jornada memorável

Tales of Zestiria é um JRPG imersivo e divertido por conta de seu ótimo sistema de batalha, personagens carismáticos e quantidade de coisas para fazer. De negativo, temos uma trama principal não muito interessante, visual nada especial e alguns problemas com a câmera. Mesmo com alguns problemas, Tales of Zestiria é um dos melhores títulos da franquia e é uma ótima maneira de comemorar os 20 anos da série.

Prós

  • Combate divertido, profundo e repleto de possibilidades;
  • Mundo extenso e com muitos lugares para explorar;
  • Personagens carismáticos e divertidos;
  • Sistemas de melhoria de personagens bem flexíveis;
  • Ótima localização para o português do Brasil.

Contras

  • Cenários sem muita inspiração;
  • Câmera do combate problemática, principalmente em ambientes fechados;
  • Inteligência artificial dos aliados mediana.
Tales of Zestiria — PS3/PS4/PC — Nota: 8.5
Versão utilizada na análise: PS4
Revisão: Luigi Santana

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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