Os jogos independentes sempre fizeram parte da indústria de games. Antigamente, eles estavam presentes e praticamente restritos aos computadores. A dificuldade para conseguir os kits de desenvolvimento para consoles e a publicação dos jogos desanimavam quase todos os desenvolvedores. O tempo passou. Os celulares ficaram mais potentes, surgiram os tablets e com eles, uma enchorrada de jogos independentes.
Títulos como Braid (Multi), Limbo (Multi) e Journey (PS3/PS4), criados por pequenas equipes de desenvolvimento, ganharam prêmios importantes e geraram muito dinheiro para seus criadores. Eles foram possíveis graças a algumas mudanças na indústria de games: A criação de ferramentas prontas para desenvolver um jogo, a multiplicação de plataformas para vendê-los, e da inovação e qualidade desses jogos.
Limbo foi um dos vencedores do Independent Games Festival em 2010 |
Facilidade para desenvolvedores
No passado desenvolver jogos não era pra qualquer um. Era preciso ter uma equipe de especialistas para realizar o desafio, com programadores experientes, designers com conhecimento em modelagem 3D, e torcer para que o jogo passasse por todas as etapas de avaliações das empresas de games para que o jogo fosse lançado.
Atualmente existem motores gráficos prontos, como o Unity e Unreal Engine, que economizam tempo de desenvolvimento, pois contam com alguns recursos prontos como atualização de tela e sistema de colisão. Essas mudanças são parecidas com o que aconteceu com o desenvolvimento de sites, hoje é possível criar um site sem saber nada de informática. Só precisa comprar um tema pronto, adequar o conteúdo e hospedar o site em servidores gratuitos. Tudo com apenas alguns cliques.
Além de todas as facilidades disponíveis nos motores gráficos, também existem diversos fóruns específicos para o desenvolvimento de games. Como o Unidev, que conta com vários usuários dispostos a ajudar com as dúvidas durante o desenvolvimento de games.
A distribuição dos jogos
A facilidade para o desenvolvimento não serviria para muita coisa se não tivessem surgido novas plataformas para disseminação dos jogos. Se antes era preciso gastar muito dinheiro com a produção e distribuição do jogo, hoje basta colocá-lo em uma das diversas lojas de download como o Steam — a principal plataforma de venda de jogos independentes.
Estima-se que, em 2014, cerca de 2 mil novos jogos foram publicados no Steam. Com um crescimento tão grande, era de se esperar que as grandes empresas tomassem atitudes para atrair os jogos independentes para seus consoles.
Não foi a toa que Jonathan Blow, criador de Braid, participou da apresentação do PlayStation 4. A Sony tomou uma série de medidas para tornar suas plataformas mais amigáveis aos desenvolvedores independentes. Retirou a taxa anual de US$99, simplificou a certificação para publicação de jogos na PSN e criou uma seção exclusiva para jogos independentes na sua loja virtual. Com isso, criou uma relação de parceria com os pequenos estúdios, confiando no seu trabalho e, inclusive, oferecendo auxílio financeiro com o Pub Fund.
Sessão de jogos independentes na PSN |
Ainda assim, alguns desenvolvedores têm ideias tão grandiosas que faltam recursos para tornar o projeto uma realidade. Mas até esse problema já tem solução. Quando o projeto não cabe dentro do orçamento, os criadores do jogo pedem auxílio no Kickstarter. Conseguir captar os recursos no Kickstarter não significa só tirar o projeto do papel, também é uma forma de conseguir aceitação do público.
Criatividade e inovação como marcas registradas
Ao passo que as grandes empresas de games tendem a manter a filosofia do “Em Time que está ganhando não se mexe”, os jogos independentes podem arriscar e ousar fazer o que nenhum estúdio fez antes. Um pensamento obvio já que fica difícil arriscar quando se tem um investimento de milhões que visa gerar mais tantos milhões de lucros.
Os jogos independentes nem sempre acompanham a obrigação de ser lucrativo, às vezes o jogo é criado como uma forma de expressão de arte dos desenvolvedores. Com uma equipe com poucos membros envolvidos, cada membro da equipe está fortemente relacionado com o projeto. E os resultados são verdadeiras obras primas.
Color Symphony é um dos títulos independentes que abusa da criatividade |
É claro que nem todo jogo será uma obra prima. Ao menos o desenvolvedor tem autonomia sobre o projeto. Enquanto as grandes empresas mantêm os seus jogos impessoais, os jogos independentes são reflexos da personalidade de seus desenvolvedores.
Os impactos causados
O crescimento dos estúdios independentes não significa que os principais estúdios de games estão perdendo espaço ou importância no mercado. Pois, assim como Hollywood precisa dos filmes de super heróis, a indústria de games precisa de empresas dispostas a investir bilhões em novas tecnologias para captura de movimentos, expressões faciais, dublagem, etc. Sendo assim, os jogos independentes têm que abusar da criatividade e inovação para ganhar espaço no mercado, preenchendo lacunas deixadas pelas grande desenvolvedoras de games.
Mas nem tudo é uma maravilha para os pequenos desenvolvedores. O grande número de jogos publicados faz com que o jogo lançado seja só mais um entre tantos outros. Gerando um problema para os pequenos estúdios e até para os jogadores, que ficam confusos em meio a tantos títulos publicados.
Splitplay surgiu com o intuito de destacar o trabalho de estúdios brasileiros e sul-americanos |
Felizmente para desenvolvedores e jogadores brasileiros existem algumas soluções. Com o intuito de agrupar os jogos nacionais e sul-americanos, a loja digital Splitplay foi inaugurada no ano passado, diminuindo a concorrência enfrentada no Steam. A outra forma de tornar possível o encontro dos jogos com os jogadores é através de sites especializados, como o GameBlast. A sessão de análise está cheia de jogos independentes que foram disponibilizados para nossa avaliação.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Guilherme Kennio