Análise: Kyn (PC): algumas escorregadas, mas muito potencial nessa aventura nórdica

Jogo mistura estratégia tática dos RPGs com jogos de ação, trazendo boas ideias ao gênero.

em 07/08/2015
Kyn, jogo desenvolvido pela Tangrin, estúdio independente localizado na Holanda, tem uma proposta interessante. Com uma mistura entre combates estratégicos e ação, o título traz diversas ideias interessantes. Contudo, nem todas são executadas com maestria, deixando brechas que acabam por “manchar” um pouco o que nos é apresentado.

Ambientado em um mundo baseado na mitologia nórdica, a história não é um primor de criatividade, mas cumpre o papel de servir como bom pano de fundo. Povos hostis estão começando a criar problemas e você, no comando de guerreiros de alto nível, deve proteger seu povo enquanto tenta descobrir o que aconteceu para o mundo virar de pernas para o ar.



Você começa o jogo controlando dois heróis, que acabaram de sair de um teste de provação — um lutador e um arqueiro. E desde o primeiro minuto, nota que o sistema de batalha não é do tipo convencional. Alias, até é, mas apresentado de outra forma.

Entendendo as batalhas

Cada personagem tem seu próprio set de equipamentos e skills, funcionando de forma praticamente independente em um primeiro momento. Porém, o que traz o diferencial de Kyn é que todos os personagens do grupo têm que funcionar como um só, para que haja sucesso no combate. Nesse começo de jogo, entender como esse trabalho em grupo funciona é fundamental para a compreensão de Kyn como um todo.


Porém, esse recurso, que na teoria é lindo, ao longo do tempo, começa a mostrar algumas falhas. Esses lados complementares realmente existem, mas meu trabalho se resumia a: joga o guerreiro pra atrair todo mundo, cura com o arqueiro, mata a horda de inimigos. E esse esquema foi praticamente o mesmo por um bom tempo.

O jogo até traz um sistema interessante de técnicas, permitindo que eu montasse, por exemplo, um arqueiro voltado para cura ou um focado em controle de grupo. Mas apesar de ser interessante o experimento, em nenhum momento me senti forçado a ter que pensar em estratégias diferentes da que relatei no parágrafo anterior.

Somos um time, não somos?

Alternar entre os membros do grupo é fácil — você faz isso com o Tab ou as teclas numéricas. Cada lutador tem três skils, que ficam nas teclas Q, W, E (na configuração padrão), o que está de bom tamanho. Pode parecer pouco, mas quando você pensa que podem ser até seis personagens no grupo, as coisas mudam de figura.



Controlar as ações do grupo na hora do combate também me deixou meio frustrado, principalmente em grupos maiores. Irei citar um exemplo que ocorreu no segundo capítulo, e ilustra bem o que quero dizer.

Em determinado momento, meu grupo contava com quatro personagens e eu tinha uma missão de escoltar um carro do ponto A ao ponto B. Como vinham inimigos de várias direções, ocorreram algumas vezes de cada herói correr para um canto, atrás de um oponente. E depois de matá-lo, por estar longe, o personagem ficava parado, mesmo que ainda tivessem inimigos do outro lado da tela.

Nessas horas, senti falta de um comando que reagrupasse os personagens, ou algum esquema de formação fixa.


Por fim, vale citar o recurso de Slow Motion. Ao usar esse comando, tudo fica em câmera lenta, permitindo que você dê comandos aos personagens, como uso de skills ou direções de movimentos.

Embora eu veja o uso dela em alguns momentos, devido à natureza de ação do jogo, em nenhum instante ela foi crucial para derrotar um inimigo. Consequência do meu estilo de jogo? Talvez, mas ainda assim, eu esperava que ela fosse mais presente, já que é um recurso com destaque no título.

Fora da batalha, tudo fica melhor

Se por um lado, as batalhas me decepcionaram em alguns pontos, os puzzles e missões me agradaram bastante. Os objetivos são variados, quebrando a rotina do “mate tudo”. O fato também de não haver uma chuva de missões de enrolação também é bem legal. Existem missões secundárias, mas você não vai passar 30 horas só fazendo elas. Há um equilíbrio bem bacana nessa parte.

Os puzzles também são um destaque positivo no jogo. Sem muitos excessos, a maior parte é bem equilibrada na questão do desafio proposto.

Outro ponto que merece destaque é o sistema de skills. Baseado em três grandes pilares, Mente, Corpo e Controle, o jogo te dá abertura para manipular várias possibilidades, como o exemplo do arqueiro citado lá no começo. Você pode até mesmo pegar aquele guerreiro brucutu e refazer os status dele para se tornar um mago curador. Ou ainda criar um exército de arqueiros.

Sábias palavras, jovem guerreiro

Bons gráficos, interface nem tanto

Graficamente, Kyn é muito bonito. Embora, sem recursos ultra espetaculares e modelos de personagens, de certa forma, modestos, o jogo consegue ter uma belíssima direção de arte. Fica o destaque também para a variedade de ambientes. Logo nos primeiros mapas, você já tem fases de dia, noite, cidades em chamas e montanhas nas neves. Simples, mas certeiro.

O mesmo já não posso dizer da interface do jogador, a HUD. Ela é meio rebuscada e, em resoluções maiores, fica pequena, o que atrapalha a visualização dos seus itens. Depois de um tempo pegando coisas, não é intuitivo saber o que eu peguei agora e o que já estava no meu inventário.

Janela de loja de NPC
O menu de lojas também tem seus problemas. Aquelas janelas comparativas, que mostram a força do item que você selecionou em relação ao que você tem equipado, são pequenas e, por várias vezes, eu não tinha certeza se a troca seria boa. Esse mesmo recurso, na comparação de itens do seu próprio inventário com o que seu personagem equipa, é bem melhor resolvida, não sei por que não foi usada a mesma interface.

Vou-me embora para Valhalla

Em um estilo que tem como base uma ação frenética, Kyn ousa por tentar trazer outros elementos, fazendo com que ele não seja só mais um “aperta botão” no mercado. Mesmo que, na execução, algumas das novidades não tenham ficado tão boas como no esperado.

Porém é preciso reconhecer o trabalho do time desenvolvedor. Eles estão lançando patchs constantes, com correções e melhorias, que devem dar um refinamento melhor ao produto.
A título de curiosidade, enquanto escrevia essa análise, o título recebeu uma atualização que melhorou câmera, com a adição do recurso de rotação, e a inserção das Opções do jogo no menu de pausa.


Assim, mesmo com alguns problemas, Kyn vale a pena se você curte jogos do estilo Diablo ou Torchlight, mas busca algo mais estratégico, cadenciado, com outra abordagem para esse sistema de batalhas.

Prós

  • Sistema de customização de habilidades de personagens;
  • Missões variadas e puzzles interessantes;
  • Diversidade de ambientes;
  • Bela direção de arte;
  • Trabalho em equipe realmente é necessário para o grupo.

Contras

  • Comandar o grupo em momentos de ação pode ser frustrante;
  • Algumas sequências de combate são meio repetitivas;
  • IA dos personagens poderia ser melhor;
  • Interface de usuário não intuitiva e precária. 

Kyn — PC/MAC/LINUX — NOTA: 7.5
VERSÃO UTILIZADA PARA ANÁLISE: PC

Revisão: Alberto Canen
Capa: Guilherme Kennio

Formado em Game Design, desistente da Matemática Aplicada e atualmente cursando Jornalismo. Ainda aguardo o retorno triufal da Sega, fã de Metal Gear, Dark Souls e várias coisas vindas lá do Japão.
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