O vácuo
Já faz 15 anos que vivemos sob a nostálgica saudade dos objetos com olhos gigantes, das dublagens com som de peido, das acrobacias de um urso e um pássaro... Em 2000, a desenvolvedora Rare lançou um de seus melhores jogos: Banjo-Tooie (N64). Sequência de Banjo-Kazooie (N64), Tooie nos deu a entender que cada novo game da dupla Banjo e Kazooie seria ainda mais incrível, ambicioso, belo e gigantesco do que o último. Afinal de contas, a própria vilã, Gruntilda, nos prometeu um "Banjo-Threeie" após o segundo jogo.
Um "teaser" que nos deixou esperançosos por mais de uma década |
Como sabemos muito bem, a história degringolou, e uma série de infelicidades afastou Banjo-Threeie de se tornar uma realidade. Em primeiro lugar, a Rare foi comprada pela Microsoft, e a saída desse celeiro de ideias para plataformas Nintendo veio junto com a demissão de muitos dos funcionários originais da Rare e uma mudança na direção da empresa. Após estragar muitas de suas séries (como Perfect Dark) com sequências horríveis e desenvolver novas aventuras meia-boca (Grabbed by the Ghoulies, eu estou olhando para você), a Rare concentrou-se em jogos casuais para plataforms Xbox.
E um outro "teaser" que quase destruiu essas mesmas esperanças |
Mas, mesmo acomodada desenvolvendo Kinect Sports, o grito dos fãs era unânime em sua prioridade de exigência: Banjo-Threeie. Apesar das tentativas falhas tanto para Microsft quanto para a Nintendo com o desnecessário Nuts and Bolts (X360) e o ainda fraco Grunty's Revenge (GBA). O desejo pela sequência de Tooie sempre esteve viva. O vácuo nunca deixou de existir.
Tweets da esperança
Em 2012, um grupo de ex-funcionários da Rare (de sua época gloriosa) revelou por meio de uma conta no tweeter, Mingy Jongo, o desejo e as ideias da turma responsável por Banjo-Kazooie e Donkey Kong Country em dar uma "sequência espiritual" a Banjo-Kazooie. Sequências espirituais são sucessores de jogos que não tiveram uma continuação oficial, mas que tem em um jogo uma espécie de "herdeiro". Nesse caso, seria apenas espiritual porque os direitos sobre Banjo, Kazooie e todo o seu universo ainda são da Rare. Muitas pessoas ficaram animadas com a possibilidade de Banjo-Kazooie receber o mesmo tratamento que Mega Man receberá com Mighty No. 9 (Multi). Ainda mais depois que Donkey Kong Country recebeu um incrível reboot pela Nintendo.
Mesmo revelando que o compositor das músicas do jogo seria o mesmo de Banjo-Kazooie e Tooie, Grant Kirkhope, os tweets de Mingy Jongo não davam nenhuma esperança sólida para um "Banjo-Threeie". Após um suposto cancelamento do projeto, a mesa foi virada no início desse ano por uma mudança na conta do tweeter, que se tornou "Playtonic" (nome do recém-criado estúdio da equipe de ex-desenvolvedores da Rare) e uma alteração no nome do projeto. Agora, era "Project Ukelele", que fez referência a Banjo-Kazooie até no nome inspirado em um instrumento musical. E a referência se tornou ainda maior quando foi finalmente revelado como será "Yooka-Laylee".
A primeira imagem de "Project Ukelele" |
Nada melhor para a estreia do projeto do que bater a meta inicial de doações para a produção do jogo em menos de uma hora e nas horas seguintes uma série de outras metas sendo ultrapassadas. Da noite pro dia, havíamos conhecido "Banjo-Threeie". Da noite pro dia, a espera de 15 anos estava prestes a acabar.
Yooka e Laylee
Seguindo o mesmo caminho de Keiji Inafune com Mighty No. 9, a Playtonic não quis fugir de comparações com Banjo-Kazooie. Muito pelo contrário, ela fez questão de deixar claro o quão fiel está sendo aos fãs das jornadas do urso e do pássaro. Mas, em vez de colocar um mamífero genérico com uma ave genérica na mochila para contornar o problema dos direitos autorais, a equipe resolveu criar personagens novos. Afinal, Yooka-Laylee precisa caminhar com seus próprios pés também.
Qualquer semelhança não é coincidência |
Fomos apresentados ao camaleão Yooka e sua companheira Laylee, uma morcega. Eles terão de combinar suas habilidades, como a extensa língua de Yooka e as asas e os ataques sônicos de Laylee, para desbravar mais de cinco mundos atrás de inúmeros objetos colecionáveis. E o principal a ser coletado são os Pagies (alguém lembrou dos Jiggies?), que permitem desbloquear novos mundos e expandí-los. Os outros itens colecionáveis (até agora só vimos as moedas com o triângulo azul no centro) servirão para alterar a jogabilidade de alguma maneira ainda não conhecida. Serão novos movimentos para Yooka e Laylee obrigatórios ou apenas alterações em seus atributos e bônus extras?
Coletar, coletar, coletar, coletar... |
Os mundos prometem ser orgânicos, com muitos colecionáveis, personagens memoráveis e chefes para enfrentar. O único mundo que já foi mostrado concretamente segue o padrão de mundo introdutório da série Banjo-Kazooie: uma paisagem bem verde com construções de uma civilização antiga (como em Mayahem Temple, de Tooie) ou primitiva (a exemplo de Mumbo's Mountain, de Kazooie). Além dele, uma imagem conceitual ilustra um mundo nevado Ambos os temas já foram usados em Banjo-Kazooie e Tooie, então será que a equipe se permitirá começar do zero na escolha das temáticas ou seguirão a premissa de Tooie de não repetir os temas dos jogos anteriores?
Será esse um dos mundos de Yooka-Laylee? |
No mais, Yooka-Laylee promete ser uma jornada incrível! Para os fãs de Banjo-Kazooie, tudo o que a franquia tem de melhor está garantido, até mesmo nos pequenos detalhes como objetos com olhos esbugalhados e dublagens na forma de sons esquisitos. E, para quem procura novidades, também há muita coisa. Afinal, o que serão essas "expansões" dos mundos? Que habilidades Yooka e Laylee terão? Como será o modo cooperativo?
Não podemos reclamar da direção artística, né? |
A equipe
Por que diabos estamos toda hora repetindo que Yooka-Laylee é uma criação de ex-funcionários da Rare? Simplesmente porque são os caras mais talentosos por trás dos melhores games da empresa. Não se engane com os games atuais da Rare, pois seus melhores cérebros já abandonaram a desenvolvedora há muito tempo. Yooka-Laylee é justamente a reunião dos melhores desenvolvedores que a Rare já teve. E todos unidos por um projeto que consiste em reviver exatamente o que fez a Rare ser fantástica.
- Chris Sutherland, direção e dublagem de Yooka e Laylee (dublador de Banjo, Kazooie e do narrador de Killer Instinct e programador principal de Banjo-Kazooie e Donkey Kong Country)
- Gavin Price, direção criativa (foi designer em Nuts and Bolts e Viva Piñata)
- Jens Restemeier, direção técnica (programador de Perfect Dark Zero e Jetpac Refueled)
- Mark Steveson, artista técnico (foi artista principal de Kameo: Elements of Power e Donkey Kong 64);
- Steven Hurst, arte dos cenários (trabalhou na série Banjo-Kazooie e Viva Piñata);
- Steve Miles, design de Yooka e Laylee (responsável pelo design de Banjo e Kazooie e de personagens de Donkey Kong Country);
- David Wise, compositor (compôs a trilha da trilogia Donkey Kong Country original e Donkey Kong Country Tropical Freeze)
- Grant Kirkhope, compositor (compôs a trilha de Banjo-Kazooie, Tooie, GoldenEye 007 e Viva Piñata);
- Steve Burke, efeitos sonoros (trabalhou na sonoplastia de Banjo-Kazoie, Conquer's Bad Fur Day e Kameo: Elements of Power);
- Andy Robson: roteiro e edição (do site GamesRadar).
É claro que essa não é toda a equipe, e possivelmente outros veteranos da Rare ajudarão na produção. Kevin Bayliss e Ed Bryan farão participações especiais como artistas.
Uma trilha sonora para não botar defeito
Lembra quando todos piramos quando David Wise foi confirmado como compositor de Donkey Kong Country: Tropical Freeze (Wii U)? Pois bem, nossas cabeças quase explodiram quando foi anunciado que não apenas esse veterano da trilha sonora de Donkey Kong Country, como também Grant Kirkhope, veterano das músicas de Banjo-Kazooie, e o ex-sonoplasta da Rare, o incrível Steve Burke, participariam de Yooka-Laylee. E, adivinha? A Playtonic já divulgou as primeiras duas demonstrações do que parece ser a música do primeiro mundo do jogo. Conheça Jungle World (de Grant Kirkhope) e Jungle Challenge (de David Wise).
Interessante notar o quanto os dois estilos são absurdamente diferentes, mas complementam-se na ideia de Yooka-Laylee. Enquanto Grant Kirkhope nos apresentou uma faixa no mesmíssimo estilo de Banjo-Kazooie, garantindo que sentiremos nostalgia em cada nota, David Wise trouxe uma canção complexa e das belíssimas músicas de Tropical Freeze, como Canopy Caos e Windmill Hills. Inovação e saudosimos complementam-se nas faixas de cada um dos artistas, e ficamos muito ansiosos para saber como exatamente elas se combinarão em Yooka-Laylee.
Cumprindo metas
Como vários outros projetos no Kickstarter, Yooka-Laylee não procurou apenas contribuições para poder viabilizar o projeto, mas também estipulou valores para cumprir outras metas. Uma mais ambiciosa do que a outra, vamos conferir agora cada uma delas. Afinal, tal qual Mighty No. 9, todas as metas foram alcançadas em pouco mais de 24h!
- O jogo será lançado para quase todas as plataformas possíveis, exceto portáteis: PC, MAC, Linux, Wii U, PS4 e XBO. O lançamento será simultâneo para todas elas;
- Haverá um modo multiplayer competitivo para até quatro jogadores. Esse modo será local, envolverá atividades inéditas e receberá mais quatro modalidades;
- Além do competitivo, foi confirmado um modo co-op local. Pode ser semelhante a um modo cooperativo encontrado nos arquivos beta de Banjo-Tooie;
- Cada chefe terá sua própria música tema, como em Banjo-Tooie, e os compositores prometem que serão épicas;
- Assim como em Banjo-Kazooie e Tooie, um Quiz Show acontecerá antes da batalha final, para testar seus conhecimentos sobre o jogo;
- Sessões em carrinhos de mina (vistos na série Donkey Kong Country) em perspectivas 3D e 2.5D. Não limitados à temática de minas.
- Transformações em coisas inesperadas, algo que Mumbo Jumbo e Humba Wumba fizeram em Banjo-Kazooie e Tooie;
- Traduções para o alemão, francês, italiano e espanhol. Haverá enquetes para outros idiomas serem incluídos também;
- Como já dito, haverá participações especiais de outros ex-funcionários da Rare no design de personagens.
Essas duas últimas metas foram adicionadas recentemente. Apesar de não terem sido atingidas ainda, é quase certo de que o valor das contribuições logo dará conta delas!
- Para os nostálgicos do N64, haverá um filtro de texturas para 64-bits e um clipe GK Rap feito por Grant Kirkhope nos créditos do jogo;
- Detonado feito pelos desenvolvedores e um vídeo com comentários da equipe.
As doações feitas pelos fãs também garantem alguns prêmios bem legais! Elas vão desde ter o seu nome nos agradecimentos durante os créditos do jogo e receber cópias do título quando ele for lançado até recompensas maiores, como dar seus pitacos aos desenvolvedores do jogo, dublar personagens e até ganhar o jogo numa caixa do mesmo estilo das caixas dos jogos de N64! Confira como você pode contribuir clicando aqui, pois já já a campanha arrecada o que precisa!
Quem não queria ter uma caixa dessas na estante? |
Todos prontos para Yooka-Laylee?
Planejado para outubro de 2016, ainda há muito tempo até que Yooka-Laylee chegue às nossas mãos. Mas não se desanime! Lembra de quando não havia qualquer perspectiva de que "Banjo-Threeie" virasse realidade? Agora, há! E a pouco mais de um ano de poder ser jogado. Até lá, podemos esperar por muitos trailers, imagens, novidades e, é claro, muito cuidado da Rare com o que ela anda querendo fazer com a série Banjo-Kazooie. Por que se Yooka-Laylee for realmente tudo o que promete ser, não precisamos mais correr o risco de jogar um Banjo-Kazooie meia-boca!
Capa: Alberto Canen