Enfim, a E3 retomava o glamour e reconquistava seu espaço nos corações dos jogadores do mundo todo. Entre os dias 14 e 17 de junho de 2010, os videogames passariam por uma revolução. Ou, pelo menos por uma tentativa. Além de grandes jogos e consoles, a feira representou uma mudança no mercado e até na postura do evento, apresentando novas tendências que buscavam tirar o jogador do conforto do sofá, incentivando o movimento e a imersão com uso de tecnologias inovadoras.
Retomando a magia
A situação da E3 realmente havia mudado, e para melhor, desde a E3 2009. O imponente Nokia Theater em Los Angeles foi tomado por jornalistas e desenvolvedores. Numa rápida olhada antes dos portões abrirem, o Renato Siqueira, editor da Nintendo World na edição de junho de 2010, avistou, no meio da multidão, Hideo Kojima (criador de Metal Gear) conversando com Suda51 (No More Heroes) e Yuji Naka (Sonic).Esse sentimento de reaproximação das empresas e desenvolvedores com o público da E3 (formada majoritariamente por jornalistas) foi constante em 2010. Era clara a tentativa de retomar a relevância do evento. Nosso amigo Renato Siqueira que o diga. O cara conseguiu entregar uma edição da Nintendo World ao próprio Shigeru Miyamoto.
Página da Revista Nintendo World #135, de junho de 2010. |
Na onda do movimento
O que se via nas conferências e estandes era uma enxurrada de novas formas de jogar, muito graças ao sucesso monstruoso do Nintendo Wii e seus controles por movimento que encheram os cofres da Big N. Monitores 3D e controles sensíveis ao movimento e capazes de reconhecer o corpo do jogador foram as grandes apostas da feira. Vimos a tentativa de tirar o jogador do conforto e fazê-lo se mexer e experimentar novas formas de jogar.Outro ponto importante na E3 2010 foi a longevidade da atual geração. As desenvolvedoras e produtoras, que até então alongavam a vida útil dos consoles por cinco ou seis anos, faziam o possível para estender esse período ao máximo, buscando atingir todos os tipos de jogadores, principalmente aqueles ditos casuais. E não ficou ninguém de fora dessa tentativa.
A Microsoft apresentou em definitivo o Kinect, resposta da empresa ao sucesso do Wii, da Nintendo. O mesmo fez a Sony, com o Move, controle bastante similar ao da concorrente. A lista de jogos que faziam uso dessas tecnologias de movimento era enorme e tentava cativar aqueles que se aproximaram dos videogames com uma experiência de jogo mais amigável e controles simples, como os do Wii, DS e celulares.
Todos prontos para o show? |
Sony apresenta artilharia de peso com novas tecnologias
Assim como fez com o Blu-ray, a Sony utilizava seu console de mesa para popularizar novas mídias. Neste caso, a tecnologia 3D, presente em boa parte da linha de novas TVs da empresa. Isso pôde ser visto em alguns momentos da conferência, quando os executivos pediam que os visitantes colocassem os óculos especiais para demostrar jogos como Killzone 3.O PlayStation Move também foi exaustivamente demostrado em jogos como Sorcery (no qual um aprendiz de feiticeiro usa uma varinha mágica para realizar feitiços) e Tiger Woods PGA Tour 11. Contudo, a maioria dos presentes viu o novo periférico como uma cópia descarada do Wii Remote.
Já sobre os jogos, a Sony detonou com os anúncios de MotorStorm: Apocalypse, The Sly Collection, Mortal Kombat, Crysis 2, Shaun White Skateboarding, Tom Clancy's Ghost Recon: Future Soldier, TRON Evolution, NBA 2K11, Dead Space 2, Portal 2, Assassin's Creed: Brotherhood, Gran Turismo 5, inFamous 2, LittleBigPlanet 2 entre outros para o PlayStation 3.
Já para PSP, as apostas para destronar o Nintendo DS foram ModNation Racers, Ace Combat: Joint Assault, Gravity Crash Portable, Dragon Ball Z: Tenkaichi Tag Team, Hot Shots Tennis: Get a Grip, Madden NFL 11, Patapon 3, Fat Princess: Fistful of Cake, EyePet, Piyotama, Kingdom Hearts: Birth by Sleep, The 3rd Birthday, Persona 3 Portable, Ys: The Oath in Felghana, e Valkyria Chronicles II.
Outra novidade da Sony foi o anúncio da PlayStation Plus, assinatura paga que daria direito a conteúdos exclusivos |
Microsoft captando seus movimentos
O sucesso de vendas do Nintendo Wii e do Nintendo DS afetava todo o mercado de jogos da época. Com a Microsoft não foi diferente. De olho na parcela de jogadores casuais, a empresa revelou o nome final do "projeto Natal". Nascia, enfim, o Kinect, dispositivo capaz de identificar o corpo do jogador, reconhecendo, inclusive, a voz.Produções para a família inteira curtir foram apresentadas na conferência da empresa, como Kinect Sports, Kinect Adventures, Kinect Joyride e Kinectimals. Outras empresas, como Disney, LucasArts e Harmonix também aderiram ao Kinect, prometendo novos jogos que fizessem uso da tecnologia do aparelho.
Mas assim como a Sony, a empresa também guardou uma boa fatia dos anúncios para os jogos mais tradicionais. Lá, os aguardados Call of Duty: Black Ops, Metal Gear Solid: Rising, Gears of War 3, Halo: Reach, Fable 3 e Kingdoms fizeram a alegria da rapaziada, mostrando que o Xbox 360 era um console realmente poderoso.
Outras boas surpresas agitaram os caixistas. A MS revelou uma nova versão do Xbox 360, mais compacto e silencioso e com HD de 250GB e wi-fi embutido. Além disso, a empresa contou que a Xbox Live teria representação oficial no Brasil, sendo o primeiro passo para uma parceria ainda mais valiosa.
Nintendo para todos os gostos
Toda a atenção da feira estava voltada para a Sony e a Microsoft e seus controles de movimento, Move e Kinect. Com isso, a Nintendo chegou com relativa tranquilidade e sem pressão para apresentar mais jogos para a máquina de dinheiro que era o Wii na época. A confiança era tanta, que meses antes a empresa já havia anunciado boa parte das suas atrações que estariam na E3, como a revelação do Nintendo 3DS e Metroid: Other M. Mesmo assim, a empresa levou algumas cartas na manga.Como poucas vezes se viu na história da Nintendo na E3, a gigante do entretenimento virtual uniu, em um mesmo ano, o resgate de algumas pérolas do catálogo da empresa com séries consagradas aparecendo na nova geração, com toda inovação técnica do momento. Começando com uma lenda.
Para cravar de vez o nome da série The Legend of Zelda na história da feira, o mestre Shigeru Miyamoto surgiu no palco segurando a Master Sword e o Hylian Shield — épico. Era o anúncio definitivo de Skyward Sword, sucessor do aclamado Twilight Princess. Ver aquelas armas se transformarem nos controles do console foi inesquecível. Pela primeira vez poderíamos empunhá-las, ou pelo menos, foi o mais próximo disso que chegamos até hoje.
Imagino que tenha sido difícil continuar concentrado no evento após essa apresentação, mas o show continuou com novos anúncios, como Mario Sports Mix, que mostrou a turma do Mario se enfrentando em diversos esportes, apostando no público casual, grande responsável pelo sucesso do Wii.
Ainda nesta perspetiva casual, veio o anúncio de Wii Party. Seguindo os passos da série Mario Party, o tabuleiro virtual jogado com Miis era mais uma aposta para as seções de sábado a tarde com a família (pelo menos foi assim que curti o game).
E quando todos se davam por satisfeitos com os jogos para a família, eis que a Nintendo apresenta dois títulos que deixariam a plateia em euforia. Primeiro veio um trailer de GoldenEye 007, marcando o retorno do antigo sucesso do Nintendo 64. Dessa vez, cheio de novidades e refeito com as tecnologias da época.
Logo em seguida os jornalistas/fãs presentes foram ao delírio com as informações de Epic Mickey, título que prometia trazer uma visão única e controles criativos para o universo da Disney através das mãos do brilhante Warren Spector.
Mas nada que se compare aos dois titãs que viriam em seguida — embora um deles não tenha se provado tão grande depois. Através de um vídeo promocional, a multidão se emocionou com as novas imagens no novo jogo da heroína Samus. Metroid: Other M causou excelentes impressões, principalmente pelo clima mais sombrio e a qualidade gráfica apresentada.
Mas o melhor ainda estava por vir. O som de tambores começou a ecoar no recinto, criando uma atmosfera mais selvagem, enquanto uma figura simiesca começou a surgir, fazendo lágrimas escorrerem pelos rostos dos presentes. Era Donkey Kong Country Returns e o retorno da série ao estilo que consagrou uma das mais importantes franquias da Nintendo.
Outros dois jogos, que mais tarde se tornariam clássicos cult da biblioteca do Wii deram as caras pela primeira vez. Falo de Xenoblade (o aclamado Xenoblade Chronicles) e The Last Story. Mesmo sem muitas informações, era evidente que coisa boa viria dessas títulos — e veio, claro.
Enquanto todos esperavam o tão aguardado Nintendo 3DS, a Nintendo cuidou em ainda manter acessa a chama dos proprietários de DS, com destaque para Golden Sun: Dark Dawn, Dragon Quest IX: Sentinels of the Starry Skies, Professor Layton and the Unwound Future, Mario Vs. Donkey Kong: Mini-Land Mayhem!, Pokémon Ranger: Guardian Signs, além de Super Scribblenauts e Sonic Colors, entre outros. Mas a maioria passou despercebida pelo público que contava os minutos para ver o novo portátil.
Claro que grandes jogos entram para a história da E3, contudo, nada se compara ao anúncio de um novo console. Neste caso, um portátil revolucionário. Com um modelo na mão, Satoru Iwata subiu ao palco e declarou: “Este é o novo Nintendo 3DS!”
Prometendo revolucionar, o novo portátil da Nintendo trazia tecnologias inovadoras, com destaque para a projeção 3D sem uso de óculos especiais, e uma biblioteca de respeito no seu lançamento.
Com uma tela superior grande, maior do que a inferior com 3,5 polegadas, o console também recebeu manete analógico, sensor de movimento (um acelerômetro), funcionalidades online melhoradas e a câmera com duas lentes. Além da potência, o portátil chamou atenção pela quantidade de bons títulos disponíveis logo no lançamento. Encabeçado por Kid Icarus (que marcou seu retornou após longos anos distante dos holofotes), a Nintendo mostrou uma lista de peso, com destaque para The Legend of Zelda: Ocarina of Time 3D, Paper Mario, Star Fox 64 3D, Mario Kart 7, Kingdom Hearts 3D, Metal Gear Solid 3D, entre outros.
Mesclando bem título inéditos, retorno de séries consagradas e até um novo hardware, a Nintendo fez bonito e eternizou a E3 2010 nos corações de jornalistas e jogadores.
Coadjuvantes de peso
As outras empresas também marcaram presença na E3 2010. E melhor do que isso, trouxeram grandes títulos para a feira. A Konami, por exemplo, apresentou Def Jam Rapstar, Karaoke Revolution: Glee, Beyblade: Metal Fusion, Deca Sports 3, Silent Hill, Metal Gear Solid: Rising, Castlevania: Harmony of Despair, Castlevania: Lords of Shadow, entre outros.Um dos maiores destaques da feira. |
Nem assim Tou2 Teste Drive Unlimited fex sucesso. |
Retorno de respeito
A E3 de 2010 foi um marco na história dos videogames e, porque não dizer, da própria feira. Após anos de instabilidade e críticas, o evento começava a retomar a relevância passada. Para isso, nada melhor do que um evento cheio de inovações tecnológicas, novos consoles e títulos que deixariam marcas na geração.Mesmo com algumas coisas não se popularizando como desejado, e as cópias desesperadas dos controles de movimento sem atingir o efeito planejado, vimos cada empresa apostar pesado, sem medo de errar. Tudo para atingir a maior quantidade de jogadores possível, e, claro, trazer futuros consumidores para o mercado.
Depois de uma das melhores E3 do últimos anos, aposto que vocês já devem estar ansiosos para saber o quê 2011 reservou para os visitantes em Los Angeles, não é? Aguardem os próximos capítulos deste especial e não deixem de comentar o que acharam sobre a E3 de 2010.
Agradecimentos especiais ao site Retroavengers, pelas revistas antigas com matérias da E3 2010.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Diego Migueis
Link para a matéria sobre a E3 2009.