Passagem de legado
A narrativa é contada através de cutscenes que são interrompidas apenas durante os momentos de luta, quando o jogador assume o comando, da mesma forma que ocorreu em Injustice: Gods Among Us (Multi, 2013) e Mortal Kombat (MK9). Foram acrescentados momentos de Quick Time Events — quando é necessário apertar o botão certo no momento certo para interagir com o personagem —, mas que não interferem no rumo da história, apenas na sua pontuação final. A duração é boa para um jogo de luta, cerca de 5h, o que varia conforme a sua habilidade de terminar os combates.QTEs são uma novidade do jogo. |
Essa nova geração de guerreiros da Terra tem Cassandra "Cassie" Cage (filha de Johnny Cage e Sonya Blade) como líder e conta ainda com Takeda Takahashi (filho de Kenshi), Jacqueline Briggs (filha de Jax Briggs) e Kung Jin (descendente de Kung Lao). Há mais lutadores novos: Kotal Kahn, Erron Black, Ferra/Torr (são dois que lutam juntos) e D'Vorah.
Kung Jin, Cassie, Jacqui Briggs e Takeda Takahashi: nova geração. |
Kung Jin é o primeiro personagem homossexual da saga Mortal Kombat, fato que ficou implícito em um dos flashbacks do personagem no modo campanha e foi confirmado pelo diretor da NetherRealm Dominic Cianciolo, através de seu Twitter pessoal.
A karnificina está de volta
O jogo roda a 60 quadros por segundo e o gameplay está mais dinâmico do que seus antecessores e ainda é muito democrático: novatos não se sentirão intimidados pelos controles, que permitem combos e golpes especiais fáceis de aplicar, e veteranos têm muita estratégia para dominar e aplicar com perfeição. Quem jogou MK9 e Injustice se sentirá em casa em MKX, já que o game toma ambos como base.O jogo conta com três barras: de HP (aconselho a não deixá-la chegar ao fim); de Energia (Stamina), que se autopreenche com o passar do tempo, fica logo abaixo da de HP e serve para correr (de forma parecida com MK3), como Quebra-Kombos e para interagir com o cenário, como em Injustice, mas de uma forma mais tímida, porém, mais estratégica. Há muitos pontos que permitem saltar de um lado para o outro, o que pode ser usado para evitar ataques em sequência e confundir o oponente. Além disso, alguns objetos são usados para atacar, mesmo uma pessoa passando pode ser arremessada contra o outro lutador — esse tipo de situação tragicômica é algo que só MK traz para o público e é um dos motivos pelo qual a franquia é tão adorada; por fim, na parte de baixo, temos a barra de Super, que serve para usar Quebra-Kombos, Quebra-Bloqueios, intensificar um golpe ou, na sua carga máxima, utilizar um especial que mostra os ossos e órgãos do adversário se partindo violentamente, o famoso Raio-X, introduzido no jogo anterior da série.
O título permite aplicar muitos combos longos e poderosos. Você pode muito bem perder sem ter a chance sequer de revidar. Para evitar isso, há várias formas de evitar ataques sequenciais. Além da defesa no momento exato (Quebra-Kombo), é possível fazer algo simples para confundir o adversário, como ficar mais tempo no chão ou rolar para trás após uma queda.
Cada personagem tem três estilos diferentes de lutar e que você escolhe assim que o seleciona. Scorpion, por exemplo, pode usar o "Ninjutsu", que lhe garante ataques rápidos e poderosos usando duas espadas, mas perde os golpes utilizando fogo; ele usa ainda "Infernal" e "Fogo do Inferno", que são estilos sem as espadas e fazem uso distinto do poder de fogo. Essas variações acrescentam ainda mais estratégia ao jogo, já que altera a forma de lutar dos personagens, e aumenta as possibilidades de lutas, pois enfrentar um Scorpion usando Nunjutsu, que aplica golpes de curta distância (apesar das espadas terem um bom alcance), é algo diferente de encarar um que usa Infernal, que pode evocar um "Assecla Demoníaco" mesmo de à distância.
Os três estilos de luta mudam significativamente a estratégia do combate. |
Os fatalities estão violentos como sempre. |
Guerra de facções
Assim que você inicia o jogo pela primeira vez, é necessário aderir a uma das cinco facções apresentadas, o que pode ser alterado a qualquer momento depois. Tudo o que for feito dentro do jogo, mesmo offline, contará pontos para a sua facção. Mas não precisa se preocupar muito com essa escolha inicialmente, já que ela não impede que você jogue com qualquer personagem que bem entender, trata-se mais da personalidade na qual você melhor se encaixa. Não é necessário jogar, por exemplo, com a Sonia Blade para fazer parte da facção Special Forces, nem precisa jogar com o Raiden para ser da White Lotus.Eu fui de White Lotus, e você? |
Torres e modos de kombate
Mortal Kombat X traz muitos modos para entreter o jogador por um bom tempo. Além do modo História, há o Teste a sua Sorte, no qual você enfrenta a IA com modificadores de jogabilidade aleatórios, como câmera balançando e chão queimando; o modo Treinamento também está presente e vale a pena passar um tempo por lá para dominar todas as técnicas ofertadas pelo jogo.As torres não poderiam ficar de fora. Temos a tradicional, do tipo enfrentar um certo número de oponentes, com finais específicos para cada personagem, e temos outras com modificadores de jogabilidade, tendo de sobreviver o maior tempo possível com apenas uma barra de HP, ou subindo uma torre sem fim o máximo que puder sem ser derrotado. Há ainda o Teste o seu Poder, no qual devemos quebrar objetos ao esmagar os botões o mais rápido possível.
Como novidade, temos as torres vivas, que mudam os desafios com o tempo: a cada hora, diariamente e uma principal, com objetivos e desafios temáticos, como derrotar Goro, que está disponível por DLC.
Assim como Goro, os demais personagens que serão lançados por DLC terão a sua própria torre Principal por um período de tempo. Dessa forma, os jogadores poderão conferir o personagem antes de comprá-lo.Os modos online estão bem diversificados, temos as klássicas Salas com diversos jogadores a nos desafiar e a serem desafiados, Versus, Batalha em Equipes, Rei da Colina e Batalha da Torre. Há muitas opções que garantem uma maior longevidade ao game, e, o mais importante, sem atrasos (delays) durante as partidas, o que sabemos ser mortal durante um jogo de luta, se me permitem o trocadilho. Perder por "lagality" certamente é a pior de todas as finalizações. Felizmente, MKX traz uma experiência bem fluida.
Outra novidade interessante e extremamente bem-vinda é o "Quitality". É uma forma bem-humorada e condizente com o jogo que a NetherRealm encontrou para penalizar aqueles jogadores que desconectam, ao perceber que vão perder, para manter o seu ranking intacto. Em MKX, uma desconexão equivale à perda automática de um ponto no ranking, com a vitória sendo creditada àquele que permaneceu online, e a cabeça do personagem derrotado explode — de forma simples mesmo.
Castigo para quem não sabe perder! |
Do fundo da Kripta
Ao invés de simplesmente criar uma área para o conteúdo desbloqueável, o pessoal da NetherRealm disponibiliza a Kripta, que é uma dungeon na qual você explora em primeira pessoa e destrava os diversos itens — artes conceituais, músicas, roupas, fatalidades e brutalidades — ao pagar o preço que cada túmulo exige. Os valores variam bastante e são pagos com aquelas moedas que você pena para conseguir durante as lutas, mas o conteúdo só é descoberto após o pagamento, de forma bem aleatória. Então, se você quiser desbloquear o segundo fatality do seu personagem favorito e os seus cinco brutalities, vai ter que explorar bastante a Kripta.Em termos de dungeon, não há um grande desafio, apenas alguns sustos ocasionais com criaturas saltando em cima de você sem o menor aviso, e pequenos puzzles, do tipo conseguir um item como o bastão do Raiden para poder passar em um certo caminho que o exige para tanto.
Boas-vindas à nova geração
Todos os personagens estão mais detalhados do que nunca, mas tiveram suas aparências modificadas, principalmente a ala feminina do jogo, que agora está com medidas bem menos exageradas e roupas mais comportadas, dando uma maior seriedade a elas como lutadoras. São 24 personagens ao todo, além dos que virão pelos DLCs.O visual do jogo está belíssimo e dá as boas-vindas à nova geração de consoles. Há muitos detalhes nos cenários e o sangue fica espalhado em tudo, deixando o clima ainda mais MK do que nunca. A arena com água, molhando os personagens, é muito bem feita. O grande problema é que são apenas 13 no total, então acabam sendo muito repetidas durante as partidas.
Equalizando o jogo
Se no título anterior da NetherRealm Studios, Injustice Gods Among Us, a dublagem ficou excelente — umas das melhores para jogos ao lado de The Last of Us (PS3/PS4) —, o mesmo não pode ser dito de Mortal Kombat X, no qual está apenas razoável nesse quesito.O fato de o jogo estar completamente em português é um ponto muito positivo, sem dúvida, mas a qualidade da dublagem precisa estar no nível que nossos ótimos dubladores são capazes de alcançar. O problema não foi apenas a cantora Pitty, mas muitas vozes não combinam com seus personagens, além de encontrarmos alguns casos de erros de escolha da frase correta no nosso idioma, como o emblemático "I got this", de Cassie Cage, traduzido para "Eu tenho isso" e que seria mais adequado "Eu cuido disso" ou "Deixa comigo".
Há outros erros, como Kotal Kahn errando o gênero de Tanya ao dizer "seu tolo"; a pronúncia de Mileena, que ora é americanizada (Milina), ora é abrasileirada (Milena); e personagens coadjuvantes, como soldados, soltam frases em inglês, sem dublagem alguma.
O melhor jogo de luta
Contando um belo visual, personagens bem detalhados, e jogabilidade dinâmica e precisa, Mortal Kombat X é a verdadeira estreia dos jogos de luta na mais recente geração de consoles e PC. A longevidade do game também está garantida com a enorme quantidade de conteúdo disponibilizado pelo pessoal da NetherRealm. O legado foi passado com sucesso à nova geração de guerreiros, neste que merece o título de melhor jogo de luta da atualidade.Prós
- Ótima jogabilidade;
- Modo online sem atrasos durante as partidas;
- Muitos modos de jogo;
- Visual belíssimo de nova geração;
- Fatalidades e brutalidades violentas e cômicas.
Contras
- Dublagem brasileira;
- Poucos cenários.
Mortal Kombat X — Multi — Versão utilizada: PS4 — Nota: 9.5
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Daniel Silva