Apesar de 2014 ter começado bem para a Ubisoft com sucessos como Child of Light e South Park: The Stick of Truth, a desenvolvedora perdeu muito do seu brilho com uma série de fiascos e polêmicas envolvendo o seu nome. Watch Dogs, um dos jogos mais esperados dos últimos anos, se mostrou um jogo na média; Assassin’s Creed Unity, uma grande promessa de revitalização da série mais rentável da empresa, foi lançado cheio de bugs e com o desenvolvimento praticamente incompleto, além de ter sido alvo da mídia graças ao descaso da empresa com personagens do sexo feminino.
The Crew, o ambicioso MMO de corrida que tem como cenário um mapa estilizado dos Estados Unidos, era a última esperança da empresa para limpar o seu nome em meio a tantos problemas. Infelizmente isso não aconteceu e, apesar de termos em mãos um jogo competente, muito do que foi prometido não foi cumprido e o resultado final não chega nem perto do potencial apresentado pela Ubisoft em 2013.
Limpando seu nome
Apesar do seu foco em corridas multiplayer, The Crew conta com uma campanha relativamente longa em que o jogador assume o papel de Alex Taylor, um excelente competidor de rachas que é incriminado pela morte de seu irmão.Após alguns anos na cadeia, o FBI procura o rapaz e propõe que ele se infiltre em uma gangue que comanda todo o país e consiga provas para limpar seu nome e prender os verdadeiros responsáveis pelo crime. O enredo se desenrola por meio de algumas cenas entre as missões que prenderiam o jogador se não fossem tão caricatas.
Digo isso, pois não dá para levar a sério o contexto pelo qual as coisas se desenvolvem durante a campanha. Em primeiro lugar, cada região dos Estados Unidos possui um líder de gangue que é identificado pelo número de suas tatuagens. Taylor precisa visitar cada um dos locais, conquistar a confiança dos bandidos e fazer por merecer suas tatuagens até chegar em um ranking alto o suficiente para desafiar o suposto assassino de seu irmão em uma corrida.
Em segundo lugar, tudo isso se desenvolve com diálogos péssimos e sem nenhuma inspiração, de maneira que não dá para se manter entretido por muito tempo se o que você busca é uma história envolvente e divertida de se acompanhar. Felizmente, The Crew possui algumas qualidades que se sobressaem, ainda que não consigam tornar o jogo completamente recomendável.
Um enorme parque de diversões
Se existe algo em The Crew que merece ser admirado é a escala de seu mundo. A recriação dos Estados Unidos realizada pelo time da Ubisoft é de saltar os olhos. Desde o tamanho físico do mapa, algo nunca antes visto em jogos do gênero, até a variedade dos cenários, tudo é feito para que o jogador se sinta livre para explorar e descobrir cada canto do do mapa enquanto evolui seus possantes.Obviamente, o país não foi recriado em total fidelidade, já que isso seria praticamente impossível para os desenvolvedores e até um pouco chato para os jogadores, dado o tamanho colossal dos Estados Unidos. Mas ainda assim, o jogo passa a sensação de estarmos viajando por um grande território de forma impressionante. Os maiores pontos turísticos estão lá e as características próprias de cada estado também. As rodovias se diferenciam muito bem umas das outras, e é possível até mesmo sair das pistas para sentir um clima de competição mais Off-Road.
Para distrair os jogadores em viagens de longa distância, The Crew conta com uma série de pequenas missões que não influenciam o seu trajeto. Pequenos desafios que vão desde atingir uma determinada velocidade em uma reta até passar em ziguezague por hologramas que dão pontos de experiência e novas peças para o seu veículo. É uma pena, no entanto, que entremos nos desafios em tempo real, mas saímos com um loading que acaba tirando completamente a fluidez da viagem. Além dos desafios, ainda é possível visitar pontos turísticos por todo o país, o que torna as viagens ainda mais divertidas.
Desbalanceado
Caso o único problema de The Crew fosse o seu enredo, o jogo ainda poderia ser considerado excelente. Infelizmente o título peca em sua estrutura de missões, que é incoerente e praticamente destrói toda a proposta do título em ser um MMO. O problema é o seguinte: durante as missões, o jogador ganha pontos de experiência, novas peças e dinheiro para melhorar seu veículo. As missões de história têm níveis recomendados para serem completadas, mas eles não precisam ser considerados porque a Ubi criou um sistema que normaliza os níveis de forma que a inteligência artificial dos competidores sempre se adaptará às suas habilidades atuais.Não obstante, a inteligência artificial é inconstante e injusta, de maneira que é normal ver um carro que estava muito longe do jogador ultrapassando-o nos últimos segundos da corrida sem que sequer houvessem chances disso acontecer. Além disso, também é normal ver, na sua frente, carros que você acabou de inutilizar. A deficiência e o desbalanceamento da IA ficam cada vez mais evidentes, sendo que nos últimos momentos do jogo se torna praticamente insuportável.
As missões também são muito repetitivas, e geralmente se limitam a corridas, fugas da polícia ou destruição de carros de gangues rivais. No começo, todos parecem divertidos, mas conforme se avança na campanha, os problemas vão ficando mais evidentes e a experiência mais frustrante.
Multiplayer de um jogador
Quando anunciado, The Crew parecia ser um paraíso para os amantes de automobilismo, que poderiam se reunir em gangues para vencerem desafios e avançarem no jogo. Na prática, isso não funciona muito bem. Ao entrar no jogo, o jogador cai em um servidor cheio de outros jogadores que mal podem interagir. Em minhas andanças pelos Estados Unidos, cruzei com alguns carros de outros jogadores em alguns poucos momentos e uma vez fui chamado para participar de uma corrida cooperativa.As corridas PvP, por outro lado, são extremamente divertidas e dão recompensas muito úteis para a campanha do jogo, como dinheiro para melhorar os carros e novos equipamentos.
Os sacrifícios de um mapa gigantesco
Era de se imaginar que um jogo com a escala de The Crew teria que sacrificar algumas coisas para funcionar bem, e isso aconteceu com os gráficos e os efeitos sonoros do título. O visual, apesar de bonito (já que qualquer jogo hoje consegue ser minimamente bonito), é bem inferior ao de jogos contemporâneos do gênero como DRIVEBLUB (PS4) e Forza Horizon 2 (XBO). Além disso, o jogo ainda dá algumas engasgadas e várias quedas de frame.Os sons também são bem na média e os efeitos sonoros mal são notados durante o jogo, o que é bem ruim para um game de corrida e, principalmente, para amantes de carros que adoram ouvir o ronco dos motores. A trilha sonora também é muito limitada e conta com poucas músicas, além de serem em grande parte, desconhecidas.
Potencial desperdiçado
Apesar das boas ideias e da diversão proporcionada pela Ubisoft ao permitir que os jogadores possam atravessar um país inteiro sem telas de loading, The Crew fica devendo graças às suas mecânicas estranhas, o seu visual ultrapassado e sua inteligência artificial extremamente mal executada. Um fim de ano melancólico para uma das maiores desenvolvedoras da atualidade. Ainda bem que já estamos em 2015 e certamente poderemos ver novos excelentes jogos da empresa após as lições aprendidas em 2014.Prós
Contras
The Crew – PS4 / PS3 / X360 / XBO / PC – Nota: 5,5Versão utilizada para a análise: Xbox One
Revisão: Leonardo Nazareth
Capa: Daniel Silva
Capa: Daniel Silva