Análise: Em Tales from the Borderlands Ep. 1 (PC), você escolhe seu caminho por Pandora

Telltale pega o universo de Borderlands para mostrar que sabe trocar o drama das suas séries recentes por algo épico e bem humorado.

em 21/01/2015

 Considerando o quão aclamados os jogos da Telltale têm sido, vocês provavelmente já ouviram falar deles. The Walking Dead (ambas as temporadas) ganhou diversos prêmios de “Jogo do Ano”, The Wolf Among Us foi sucesso de crítica… Então era de se esperar que os novos títulos da empresa, um baseado em Game of Thrones (cuja análise você confere em breve aqui) e outro em Borderlands, mantivessem o padrão de qualidade que a empresa tem demonstrado. Eu mesmo, como fã tanto de Borderlands quanto da Telltale, estava cético se a desenvolvedora seria capaz de fazer jus ao seu legado enquanto adaptava o conceito de Borderlands ao seu estilo de narrativa. O que eu não esperava, entretanto, é que o resultado fosse melhor do que tudo o que a Telltale ofereceu até agora.


Transformando um FPS em um point & click

A Telltale é conhecida por criar jogos que dão ao jogador o poder de decisão — ou ao menos a ilusão disso. O usuário precisa fazer difíceis escolhas e comandar a fala de quem ele controla para que a história se desenvolva, moldando as interações e o relacionamento com os demais personagens e ocasionando diversos desdobramentos no enredo. Tudo que você faz “será lembrado por alguém” — uma frase que chegou a virar meme, devido à quantidade de vezes que é utilizada nos jogos da empresa.

Partindo desse princípio de escolhas moldarem o enredo e uma mecânica básica de point & click, o conceito já foi aplicado a diversas franquias, cada uma com sua peculiaridade, e enfim chegou a vez de aplicá-lo em Borderlands. Os jogos da franquia se passam no inóspito planeta de Pandora aonde tudo gira em torno de cofres alienígenas e fabricação em massa das mais diferentes armas, para que os humanos lutem contra as criaturas hostis nativas da região (e, na maioria das vezes, outros humanos, para ser sincero).

Com altas doses de bom humor, partes de corpo voando e ação frenética, era óbvio que a Telltale precisaria se adaptar para fazer com que esse FPS se encaixasse no estilo dos seus títulos. Para que o foco deixasse de ser o tiroteio, a solução foi fazer com que os protagonistas não fossem os chamados “vault hunters” (pessoas habilidosas em combate que caçam os cofres alienígenas), e sim pessoas relativamente normais: Rhys, um empresário da empresa Hyperion (a principal vilã do segundo jogo), e Fiona, uma golpista.

A dinamica entre a dupla tira varias risadas do jogador

Uma mesma história sob duas óticas

Aliás, uma das novidades de Tales from the Borderlands é que você irá alternar constantemente entre os dois personagens Rhys e Fiona, cada um contando a sua parte e, mais importante, a sua versão de uma mesma história. O humor típico de Borderlands entra justamente quando os protagonistas fogem um pouco da realidade em prol de embelezar a história — e isso tudo a comando das ações do jogador.

O desenrolar da história, vista por duas perspectivas diferentes que constantemente se completam, é um dos pontos mais altos desse primeiro episódio, o Zer0 Sum. Nunca um enredo deslanchou tão rápido e de forma tão gratificante. As sequências de ação — que são controladas através de quick time events, apertando as setas ou clicando rapidamente em locais especificos — foram muito bem coordenadas e os ângulos e lutas são dignos de excelente filmes de ação (ou melhor, ação/comédia, dada a natureza das mesmas).


Mas se as cenas de ação e o enredo com um ritmo rápido e bom humor são os pontos fortes, infelizmente a Telltale ainda peca na atuação dos seus personagens. Embora a dublagem seja de alta qualidade e conte com grandes nomes, como Troy Baker (Joel de The Last of Us e o Coringa em Batman: Arkham Origins), as expressões e a sincronia labial dos mesmos não fica a par e acaba tornando os momentos muito caricatos. Isso é ainda mais evidente na primeira parte da narrativa, na qual Rhys (Troy Baker) conta sua chegada em pandora. As expressões chegam a ser tão exageradas que por várias vezes me lembraram os Sims do The Sims 2.

Felizmente, isso é algo que a empresa tem gradativamente melhorado e não atrapalha muito a experiência em sua totalidade, principalmente por que boa parte dos personagens (psychos, bandits, vault hunters e vários outros) utilizam máscaras — seja isso intencional ou não. Outros pontos fortes da franquia Borderlands são a coleção de armas (a variedade das mesmas é absurda) e saqueamento de cofres para adquirir dinheiro, ambas características que foram implementadas no jogo, ainda que de forma branda (ao menos neste primeiro episódio).

Adaptando com primor todos os conceitos do universo Borderlands

A questão das armas foi abordada de forma inversa: normalmente os Vault Hunters escolhem as armas que desejam para lutar contra bandidos, psicopatas ou robôs da Hyperion corporation. Dessa vez, entretanto, no comando de Rhys, que trabalha para a própria Hyperion, você pede o reforço escolhendo modelos de robôs diferentes (com escudo ou campo de energia, lança mísseis ou lança-chamas…) para te ajudar quando a situação aperta.


O dinheiro, entretanto, ainda não foi utilizado para recuperar vida ou comprar novas armas. O uso de moeda (outra novidade nos jogos da Telltale) pode ser usado para subornar pessoas ou comprar acessórios para certos momentos das jornadas — algo puramente visual, ao menos até o momento. Curioso é que até a aquisição de dinheiro é feita através do sistema de escolhas, podendo, por exemplo, escolher saquear um homem em seu leito de morte ou não.

Tal qual nos jogos de Walking Dead, alguns dos momentos mais legais são quando personagens já conhecidos dão as caras em algum dos episódios. Felizmente, devido ao rico universo de Borderlands, as possibilidades de easter eggs são inumeras — e isso é exponenciado pelo olho biônico de Rhys, que dá mais informações sobre os objetos (outra mecânica subutilizada no episódio) — e já no primeiro episódio temos um personagem de peso fazendo uma aparição: Zer0, um dos personagens que o jogador pode escolher em Borderlands 2.

Se depender do jogo, essa mecânica vai ser usada somente uma vez no episódio
Nesse quesito, parece que Tales from the Borderlands vai interagir com Borderlands 2 da mesma forma que este o fez com o primeiro Borderlands: os protagonistas irão se envolver mais com os vault hunters (os avatares do jogador) da geração anterior, podendo explorar mais as suas personalidades. O pouco que interagimos com Zer0 se provou hilário, principalmente nas cenas em que o personagem emite emoticons em seu monitor para comunicar suas expressões e sentimentos.

Uma grande introdução a esse crossover de gêneros

No geral, Tales from the Borderlands parece ser a fórmula da Telltale em sua melhor forma: o enredo de rápida progressão e bem ligado ao universo Borderlands prende o jogador mais do que nos demais jogos. A incorporação de todos os aspectos da série da Gearbox e 2K foi muito fiel, principalmente no estilo de humor. Apesar de tudo, como era de se esperar, esse primeiro episódio serve mais como uma grande introdução aos personagens, ao universo e às mecânicas do jogo. Muitas das coisas apresentadas (o olho biônico, as histórias de pescador, o dinheiro, escolha de armas etc.) não foram utilizadas mais do que uma única vez. Dito isso, o episódio foi não só o melhor primeiro episódio de uma série da Telltale como também um dos melhores episódios já feitos pela empresa de uma forma geral. Se você ainda não pôde experimentá-lo, corra e garanta seu season pass, para garantir horas de risadas e bastante diversão.

Prós

  • Enredo envolvente e de rápido desenvolvimento
  • Personagens e universo carismático
  • Ótima adaptação de todos os conceitos de Borderlands no estilo Telltale
  • Excelentes sequências de ação
  • Repleto de Easter Eggs
  • Humor sensacional

Contras

  • Expressões dos personagens muito forçadas
  • Muitas mecânicas interessantes apresentadas, mas todas foram subutilizadas.

Tales from the Borderlands: Episode One — Zer0 Sum — PC (Steam) — Nota: 9.5

Sem contar que rever Handsom Jack, ainda que como um holograma, não é nada mal.

Revisao: Alberto Canen
Capa: Hugo H. Pereira


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.