Entrevista: conhecendo melhor o Brasil no Espaço em Civilization Beyond Earth (PC)

Conversamos com os desenvolvedores da franquia, e não se preocupem: o Brasil não será um Império Bolivariano Espacial.

em 16/10/2014


No próximo dia 24, Civilization: Beyond Earth lançará não somente mais uma versão da série que já é sucesso desde os seus primórdios, mas também o sucessor espiritual de Alpha Centauri, um dos spin-offs mais badalados a sair dos limites de nosso passado e a explorar o futuro, com todas as incertezas e possíveis desenvolvimentos que o homem poderá ter fora da Terra.

Entre as oito facções que partem para a colonização interplanetária, o Brasil será pioneiro. Não só aguentamos as enormes catástrofes naturais, enchentes devastadoras e uma crise humanitária sem precedentes, como também fomos responsáveis pela ordem na reconstrução da sociedade e fomos os primeiros a partir para outros planetas e formar nosso novo lar.


No discurso na página oficial do jogo (em inglês), Rejinaldo (com J mesmo, afinal o futuro linguístico também permitirá  termos como “zuera” e “omem”) enaltece o enorme poderio militar da Organização dos Estados Sulamericanos, o grande desenvolvimento da América Latina e nossa capacidade de viajar no espaço. É um sonho bobo que possuo, e que a 2K e a Firaxis, os desenvolvedores da série, realizaram. Não só temos um programa espacial super desenvolvido, como também colonizaremos o espaço.

Vai Brasil!

A pesquisa histórica do pessoal da série Civilization sempre dá sinais de dedicação, como vemos no ícone da cobra fumando nos pracinhas em Civilization V e em pequenos detalhes de cada sociedade humana, dando um banho de cultura para quem busca os detalhes mais escondidos da história.

Citações como os Agulhas Negras, o mais famoso centro de formação de oficiais do país (e da região!). Brasília, nossa capital, sendo o centro de comando de toda a região latina, e até em nossa nave, Águia — não confundam com o Águia Dourada. A referência pode ser aos helicópteros que a Polícia Militar paulista usa em suas missões. Também há alguns acenos a termos bem regionais, como braço forte (referência ao lema das Forças Armadas: Braço Forte, Mão Amiga).



E temos o Rejinaldo Leonardo Pedro Bolivar de Alencar-Araripe. Com um pomposo nome, digno de imperadores, um deles (o que negritei) se sobressai.

Quando li Bolivar, e o discurso, senti como se o próprio Hugo Chávez tivesse se levantado da tumba, colocado seu cérebro em uma máquina e viesse diretamente para Brasília discursar aos colonizadores espaciais tupiniquins/incas/mapuches. Essa foi a primeira pergunta que fiz a Will Miller e David McDonough, chefes de desenvolvimento de Beyond Earth, que gentilmente nos cederam alguns minutos para falar sobre o Brasil no espaço e sobre Rejinaldo.

Eles logo acalmaram meus ânimos (e a todos que têm pesadelos com um futuro Brasil dominado pelas ideologias bolivarianas):

Não tentamos capturar nenhum movimento político moderno em sua personalidade. Ao invés disso, queríamos criar a ideia de um líder militar dinâmico que inspira lealdade a suas tropas, guiando-os em uma grande causa. Quando você joga como um líder de uma civilização numa partida de Civ, você quer assimilar o melhor, os aspectos mais positivos de sua nação escolhida. Quando você está lidando com uma organização política hipotética, queremos que estes líderes representem os aspectos positivos, porque esse otimismo é uma parte crítica de Civilization como um todo”.

Outra questão foi sobre os efeitos causados pelo Grande Engano (ou Great Mistake, um conjunto de catástrofes que levaram o mundo ao estado de precisar mudar de endereço no universo). Enquanto parte do mundo sofreu com crises de fome em massa, enchentes, hiperpopulação e guerras descontroladas, outra parte conseguiu prosperar, como é o caso de nossas terras. Tivemos uma inundação na Amazônia, que nos dias atuais seria visto mais como uma bênção. Com a inundação, abriu-se caminho para uma enorme rede comercial no interior do continente.


Com um problema a menos, veio a responsabilidade de fazer algo para ajudar quem mais precisava, e é aí que o Braço Forte foi bem amigo: com nossas tropas formando a maior parte do que sobrou do exército das Nações Unidas, contribuímos para a segurança dos resgates, ações humanitárias e até na cabeluda missão de chutar os traseiros de quem queria se aproveitar da situação para roubar os necessitados. Com tudo em ordem, veio a necessidade de desenvolver nossa indústria aeroespacial:

O Brasil e a América Latina se deram relativamente bem [das catástrofes do Grande Engano]. Se comparados ao hemisfério norte, o hemisfério sul na verdade prosperou. A nascente indústria aeroespacial eventualmente deu à organização da América Latina a capacidade de enviar forças de paz mundo afora, e deste corpo veterano de soldados, Rejinaldo recrutou a primeira expedição [chamada Seeding do original] para sair do Sistema Solar”.

Neste gameplay do Solar Gamer, Rejinaldo não fala português, mas algo muito mais parecido com o espanhol ou castelhano (o trecho onde ele fala está em 26:15).

É meio difícil prever o que vai acontecer em dez, ou vinte anos, mas podemos ter alguma noção de como nossa língua poderá se desenvolver nos próximos cem ou duzentos anos. O português de hoje não é o mesmo do português de cinquenta anos atrás, e há duzentos anos, o vós mercê ainda era usado. No futuro idealizado de Beyond Earth, nossa língua se mesclará com o que a maioria dos países latinos falam hoje. Will Miller e David McDonough explicam:

Uma das coisas que mais curtimos fazer quando estávamos desenvolvendo os líderes de Beyond Earth é a forma como eles usam a língua para contar a história sobre como o mundo é na época da Seeding. Rejinaldo nasceu no que hoje é o Brasil, mas ele fala uma mistura de espanhol e outras línguas, o que pode dizer um pouco sobre como as sociedades do futuro se misturaram um pouco”.

Já somos feras no portunhol e no portuglês. No futuro, seremos ainda melhores nisso!

 
Outra questão foi como a IA agirá com o enorme poderio bélico brasileiro. Até agora, sabemos que Rejinaldo e suas tropas terão +10% de força nas unidades melee, o que dará trabalho para os inimigos e alienígenas em qualquer fase do jogo. Será que seremos os fanfarrões porradeiros do espaço?

Brasilia não será a civilização mais agressiva, na verdade. Eles são fortes militarmente, mas não tão agressivo estrategicamente como as outras facções. Quando a IA os controla, ela tende a não tentar cobrir todo o mapa, mas terá um dos exércitos mais duros de se derrotar em termos de unidades individuais”.

Num futuro aos olhos de Civilization, o Brasil não só superará as dificuldades atuais — a ciência chegará às estrelas, teremos um dos melhores exércitos do mundo e (espero) seremos campeões mundiais no futebol mais uma vez.

Teremos cidades como Cidadela, Santo Adrião e Dourado explorando recursos alienígenas e se defendendo de enormes vermes malditos. E não teremos um sistema bolivariano vigente, e Rejinaldo até lembra um Capitão Nascimento.

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Felipe Araújo

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.