A aventura começa aqui!
Numa bela manhã de janeiro, ao acessar a loja da Steam, deparo-me com algo inusitado. Um jogo estranho chamado La-Mulana, com um desconto promocional de 90%, saindo a R$ 2,49. Eu nunca tinha ouvido falar nesse título, mas pelas screenshots e pelos vídeos me pareceu ser um jogo de plataforma em 2D, ao estilo metroidvania, meu estilo predileto. Ora, por que não comprar?, pensei. Foi aí que eu cometi o meu primeiro erro.No jogo, encarnamos o Professor Lemeza Kosugi, descendente de uma família de arqueólogos, que treinou durante anos com ninjas para melhorar suas habilidades na exploração de ruínas antigas. Quase como uma sátira a Indiana Jones, Lemeza tem como missão descobrir os mistérios das ruínas de La-Mulana, que guardariam inúmeros tesouros e perigos. À primeira vista, pensei que se tratava de um jogo indie, contudo, depois fui descobrir que, na verdade, esta versão é um remake. O original, de gráficos pixelados, havia sido lançado em 2005, para os computadores Windows, mas restrito ao território japonês. O game se autointitulava como um “jogo de ação e exploração arqueológico”. Vamos ver então com o que estamos lidando.
Da superfície para o Gate of Guidance
Sigo pelo caminho da direita e me deparo com alguns inimigos básicos. Assim como em Mega Man, mesmo que você derrote todos os inimigos, ao passar de uma tela para a outra, as criaturas do cenário anterior retornam, ou seja, dão respawn infinito. Além disso, para a minha alegria, descubro que a jogabilidade não é a das melhores. Em muitos casos, eu estava caminhando normalmente por uma plataforma e, ao chegar a sua beirada, ao invés de saltar do ponto A ao ponto B à moda Super Mario, ou eu simplesmente não pulava ou errava a distância e caia em cima de algum inimigo. Minha nossa, parecia que o Lemeza tinha sabão na sola dos sapatos! Era quase como aquelas fases de gelo escorregadias. E havia ainda os inimigos voadores, misericórdia, como eram chatos esses bichos! Se te acertassem no meio do pulo, você perdia o controle do personagem, que ficava imóvel, e voava longe. Enfim, eu esperava que a diversão do jogo compensasse esse “pequeno” defeito. Ah, sabe de nada, inocente.
Demorou um pouquinho para eu me acostumar com a mecânica do jogo, mas segui em frente. Existem pedestais espalhados em determinados pontos do cenário e, ao apertar o direcional para baixo, depositamos um “peso”, itens dropados ao derrotar inimigos, ao quebrar vasos ou comprados em lojas. Ao acionar o primeiro pedestal, uma parede se quebra revelando o caminho para as ruínas subterrâneas. Ao adentrar no Gate of Guidance, sinto que estou preparado para desvendar todos os mistérios dessa aventura.
Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate' (Para aqueles que entrarem, percam toda a esperança) - A Divina Comédia.O cenário lembra as ruínas maias e os inimigos básicos são esqueletos e morcegos. Vou seguindo para a direita toda a vida, como é de costume desses jogos de plataforma… Espere aí, tem alguma coisa errada. Eu recebo alguns hits dos monstros, meu HP está no vermelho e eu não estou encontrando itens de cura. Por que será? É PORQUE NÃO TEM! Aqui não tem um frango assado escondido dentro de uma parede ou um coração pulsante dentro de um vaso que, assim que você o pega, se recupera! Em La-Mulana, não existem itens de cura! As criaturas derrotadas dropam orbes verdes, que de início eu pensava serem para regenerar a saúde, entretanto, esses orbes são pontos de experiência. Há uma barra de experiência que se enche conforme se coleta esses orbes e a barra de HP do personagem só se regenera por completo quando se completa essa barra e “sobe de nível”. Bom, existe outra maneira de recuperar a barra de vida, que é voltado para aquela vila do início do jogo, aonde há uma fonte termal. Mas eu tinha preguiça de voltar todo o caminho de volta…
Nas águas refrescantes de Spring in the Sky
Agora a cobra vai fumar
Uma coisa interessante nesse jogo são os chefes, aqui chamados de Guardiões. Normalmente em jogos desse gênero, como Castlevania, Metroid e Mega Man, o jogador percorre toda a fase derrotando inimigos inferiores aos montes, para chegar a uma determinada sala onde o chefão está te esperando para cair no braço com você. Em La-Mulana é diferente, aqui precisamos “invocar” os chefes. Existem itens espalhados pelo jogo chamados Ankh Jewels, escondidos dentro de baús de tesouro, que podem ser equipados como armas secundárias. Não servem para atacar, são como chaves que ativam os Ankhs (um tipo de cruz egípcia) e despertam os Guardiões.Cada cenário possui seu próprio Ankh localizado em salas determinadas e eles só aparecem depois que o jogador resolve algum puzzle na respectiva área. O puzzle de Gate of Guidance era bem fácil, consistia em empurrar alguns blocos sobre alguns botões e ativar alguns pedestais. Eu já tinha coletado duas Ankh Jewels e isso, por hora, seria um problema a menos para mim. Após ativar o Ankh, a sala se tranca e o cenário muda completamente para uma atmosfera, digamos, mais “ameaçadora”. Era como se eu tivesse sido mandado para outra dimensão.
Eis que surge Amphisbaena, uma serpente gigante de duas cabeças que cospe fogo. As cabeças ficam uma em cada lado do cenário. Enquanto uma solta uma baforada flamejante, a outra fica vulnerável para meus ataques. Eu morri apenas duas vezes para esse bicho, então, depois de um pouco de prática, eu decorei seus padrões de ataque e consegui sincronizar minhas investidas até derrotá-lo. Não foi difícil, apenas cansativo. Por sorte, após vencer a serpente, eu subo de nível e meu HP se enche por completo. A propósito, só depois eu fui descobrir que Amphisbaena é considerado o chefe mais fácil! Se essa minhoca bicéfala já me deu um pouco de trabalho, imaginem o boss final! Que seja, isso fica para uma próxima ocasião. Hora de desligar o computador e tomar um sorvete, porque eu já estava com os nervos à flor da pele.
Chega de estresse por hoje
Vocês já se sentiram frustrados no meio de uma jogatina e se deram conta de que estavam quase que se obrigando a continuar jogando? Seja para derrotar um chefe, adquirir uma conquista ou troféu, ou completar uma missão ou quest? Pois bem, eu me sentia assim o tempo todo enquanto jogava La-Mulana. Este foi apenas um prólogo, um aperitivo do que está por vir. Eu ainda tinha muito chão para percorrer. Mal sabia eu que tinha em mãos um jogo que considerado por muitos um Dark Souls em 2D.
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Diego Migueis