O RPG dos sonhos
Chrono Trigger foi publicado pela, então, Square em 1995 - primeiramente em março no Japão e depois em Agosto no mercado Americano. Foi desenvolvido por uma equipe que ficou conhecida como Dream Team (time dos sonhos); Hironobu Sakaguchi, o pai de Final Fantasy; Yuji Horii, o criador de Dragon Quest; Nobuo Uematsu, compositor por trás de diversos jogos, entre eles a série Final Fantasy; Yasunori Mitsuda, outro ótimo compositor; Masato Kato, roteirista de títulos como Chrono Cross, Final Fantasy VII, Xenogears e, claro, Chrono Trigger. E ainda contou com o trabalho de Akira Toriyama, o mangaka de Dragon Ball, na parte de design dos personagens, monstros, etc.Turma toda reunida |
Pedro Vicente
SIM - Chrono Trigger era um título com receita prontinha para dar muito certo: time dos sonhos no desenvolvimento, os traços carismáticos do mestre Akira Toriyama, um bom investimento por parte da Square e uma certa abertura que o gênero e a própria empresa já haviam conquistado no Ocidente. E deu mais do que certo. Eu poderia dizer que o jogo é perfeito por figurar na memória de muitos jogadores, inclusive de gente que diz “não curto RPG”, seguido de “ah, mas Chrono Trigger é sensacional”. No entanto, o que faz de Chrono Trigger perfeito é o fato de que ele é o melhor jogo de RPG japonês que poderia ser quando foi lançado.
Publicado alguns meses após o mais genial título da franquia Final Fantasy, o VI (III para os americanos), Chrono Trigger não possui uma narrativa tão complexa e soturna quanto este, mas uma que se adequava perfeitamente à proposta do título, ao ritmo da jogabilidade e aos traços simpáticos de todos os personagens. E falando neles, cada um é explorado de maneira leve, ainda que muitas das suas trajetórias pessoais sejam difíceis e tristes, nos fazendo se importar com cada um daqueles heróis que desafiavam o destino nas asas do tempo. O que quero dizer é que o enredo do jogo não deve nada ao Final Fantasy VI e a outros jRPGs da época, porque cabe direitinho no pacote que quis desenvolver.
Agora, quando falamos em jogabilidade, Chrono Trigger mostra porque é superior aos outros. O level design do jogo é impecável: a fluidez das dungeons, o posicionamento dos inimigos, a necessidade de utilizar golpes e combos que só acertavam o adversário se ele estivesse na área do ataque. Chrono Trigger é leve e divertido de se jogar, e é um dos pouquíssimos exemplos de jRPG que não sofre com dungeons enfadonhas e intermináveis, desbalanceamento e outras coisas irritantes que o fã do gênero até releva, mas preferiria não enfrentar. História simpática e bem desenvolvida, design maravilhoso, personagens para lá de carismáticos, diversos finais, mecânicas de batalha perfeitas e trilha sonora magistral. É, Chrono Trigger é perfeito!
Lucas Pinheiro Silva
SIM - É um jogo literalmente sem falhas. Não há jRPG, passado ou presente, com game design tão milimetricamente bem feito. Pudera: com a equipe dos sonhos que tinha, o mínimo que podia sair era um game extremamente bem planejado. Os inimigos, o ritmo, a narrativa, a estética… Todos os detalhes foram bem pensados. Não há nada fora do lugar ou que destoe a aventura.
Não considero o melhor jogo de todos, nem mesmo o melhor jRPG de todos. Outros títulos ocupam este posto pessoal, mesmo com suas falhas. Mas com certeza é o único que, em sua execução, não cometeu erro algum.
Italo Chianca
SIM - Chrono Trigger é um game genial nos seus aspectos primordiais. Personagens, trilha sonora, história, imersão, gráficos, mecânica e experiência de jogo. Embora seja simples e cômodo analisar o jogo hoje, com todo o avanço técnico da atual geração, é preciso nos desligarmos um pouco do que vemos e jogamos atualmente para pensar melhor em um game da era do Super Nintendo, pois a maioria dos que julgam o game perfeito são aqueles que experimentaram a aventura de Chrono e sua turma nesse período, ou uma ou duas gerações depois, não se prendendo as comparações com títulos da época e curtindo a experiência do jogo com menos preconceito. Contudo, não é apenas sua primazia técnica indiscutível que faz deste o meu RPG favorito de todos os tempos, mas sim o sentimento e a alma do jogo. Perdoem-me aqueles que jogam um game apenas por impulso da crítica especializada, pelo marketing ou para ver realismo gráfico, mas alguns jogos são feitos para serem apreciados como uma bela obra literária ou artística, para que possamos senti-la e nos aprofundarmos. E foi com a sensação de estar viajando numa fantástica história de eras antigas que dediquei várias horas nessa aventura indescritivelmente única. Cada nota de sua melodia parece tocar o jogador, as possibilidades de mudar a história e o final do jogo trazem uma liberdade grandiosa, assim como ter personagens apaixonantes e cativantes fazem com que nos apeguemos ainda mais às suas histórias de vida. Some isso a um enredo simples, porém forte, e temos a união perfeita de beleza poética e primor técnico, fazendo dessa obra, para mim, um jogo perfeito.
Jaime Ninice
SIM - Quando joguei Chrono Trigger pela primeira vez não acreditava nos gráficos e fui entrando no mundo dele aos poucos. A beleza do que se desenvolvia e a história que ia sendo muito bem contada, com lances individuais de cada personagem (a música do Frog não saía da minha cabeça), são elementos que tornam o game uma odisséia que deve ser jogada por todos os gamers. As batalhas, as conversas, os calabouços, tudo era tranquilamente belo e incentivador a nos fazer caminhar cada vez mais na tentativa de descobrir um pedacinho novo na aventura, ou mesmo de se surpreender com as novidades que vão sendo geradas ao passar da trama. E se não bastasse tudo isso, onde poderia-se imaginar que um game desta época teria 13 finais? É por este e pelos outros motivos acima mencionados que considero, sim, Chrono Trigger um jogo perfeito.
Vinicius Eleno
SIM - Chrono Trigger começa com uma história simples, uma feira demonstrando as novidades do mundo. Não foi nada difícil me colocar no lugar de Crono, com pequenas decisões e cenas do cotidiano acontecendo a minha volta. E tudo isso dá um enorme salto a partir da primeira viagem no tempo e a chegada a um mundo estranho. Realmente tudo é bem estranho, da posição de florestas às pessoas estranhando o seu modo de falar. Também me surpreendi em como atitudes no passado influenciam no seu retorno ao presente, culminando com o julgamento de Crono. O tribunal do reino de Guardia é uma bela exibição do trabalho da equipe de desenvolvimento dessa obra-prima. Do enorme vitral colocado no fundo aos sons do público discutindo, tudo explora quase que ao máximo as capacidades do SNES. E qual não foi minha surpresa ao ver que no julgamento exibiam depoimentos relacionados às minhas atitudes enquanto explorava a feira? Tudo se interliga nessa história.
Não demora muito até você estar imerso na narrativa desse mundo, principalmente ao conhecer o que o futuro nos destina. E ainda existe uma grande interação dos personagens com o mundo. É muito divertido correr contra Johnny pelas ruínas do futuro. Assim como tive um frio na espinha ao ver a introdução do combate contra Magus. Depois de vivenciar tantas sensações, é difícil não achar esse jogo perfeito. Após jogar Chrono Trigger, nunca me esquecerei que as boas atitudes que realizei no passado proporcionaram a chance de existir um mundo no futuro.
Pelo que vocês estão dizendo...
Opa, pera aí! Então vocês vão bancar a perfeição de Chrono Trigger sem nenhuma opinião contrária? Mais ou menos isso. Particularmente CT não é meu RPG favorito, a questão é que é muito bem desenhado, dos grandes aos mínimos detalhes. Extremamente bem pensado e muitíssimo bem executado, isso tudo nos idos dos anos 1990. No entanto, algumas críticas dispersas ao jogo podem ser encontradas pelos fóruns e sítios da internet, e vale a pena debatê-las também.
A primeira delas é que Chrono Trigger é um título curto. Claro, o new game + e os diversos finais combatem tal argumento, mas se pensarmos na história principal somente (e contando que a maioria das pessoas quer passar pelo jogo apenas uma vez), o título é, de fato, breve . Pode-se indicar, também, que o game tem um enredo não tão desenvolvido quanto outros títulos que já existiam na época, como por exemplo Final Fantasy VI, Dragon Quest V, Dragon Quest VI e mesmo Earthbound (os dois últimos seriam publicados ainda no mesmo ano de 1995).
1999 não foi um ano fácil. |
Muitos afirmam que CT é um RPG bem fácil, sem muitos desafios, e para muitos jogadores a questão da dificuldade é algo essencial em um game. Ou até mesmo que não é um título lá muito original. Porém, é muito mais fácil encontrar opiniões bastante favoráveis ao jogo, desde análises da crítica até sítios dedicados a pensar game design.
Se eu tivesse uma máquina do tempo..
Com certeza iria voltar a 1995 para detonar Chrono Trigger, naquela época boa de jovem em que os problemas eram distantes e o mundo era bonito. Passamos 1999, ainda estamos aqui, e por mais que a vida possa ser escura e violenta como em 2100 AD (Ano Domini, ou d.C - depois de Cristo), as memórias geradas por Chrono Trigger conseguem alegrar um pouco nosso coração. De certa forma, a máquina do tempo existe.
E para quem quiser ler um pouco mais sobre esse jogão, existe muito conteúdo interessante na internet, dos quais destaco: essa matéria no Gamasutra falando sobre os segredos do design do jogo, o excelente texto do Gamesfoda, e as análises do Eurogamer, do RPGamer (um sítio dedicado ao gênero) e, claro, aqui do GameBlast.
E você? Jogou Chrono Trigger? Não deixe de nos contar suas impressões sobre o jogo e se o considera um título perfeito. Lembrando que contamos com o respeito para com a equipe do Blast e os outros leitores.
Não deixe de conferir a próxima matéria do nosso especial na semana que vem. Que venham os colossos!
Revisão: Luigi Santana
Capa: Wellington Aciole