Shadowrun Returns (PC) é uma fusão de intriga, magia e tecnologia

Explore a cidade de Seattle futurista e sombria após o retorno da magia ao mundo nesse RPG situado em um universo cyberpunk.

em 26/07/2014

Shadowrun Returns é um RPG lançado após uma bem-sucedida campanha via Kickstarter. A campanha pedia US$ 400 mil para o desenvolvimento do jogo, e alcançou o incrível valor de US$ 1,8 milhão. O grande objetivo era ser um sucessor espiritual às versões de SNES e Mega Drive lançadas muitos anos antes e fechar a história contada nelas, incluindo combate tático e diferentes interações com a história enquanto explora as possibilidades do mundo de Shadowrun, um famoso RPG para ser jogado com papel, dados e caneta. Porém, com todo o aporte realizado, Shadowrun Returns conseguiu criar uma experiência bem mais refinada do que um remake. Entenda agora qual a motivação que levou fãs a investirem tanto dinheiro nesse game lançado pela Harebrained Schemes LLC para PC, Mac e tablets com iOS ou Android.

Finalmente uma continuação desde a versão de SNES

Shadowrun é um sistema de RPG de mesa, criado na mesma época de outros sistemas famosos como Dungeons & Dragons. Mas diferente de D&D, as histórias não se passam em um mundo medieval, habitado por cavaleiros com pesadas armaduras ou magos com chapéus pontudos. Aqui você se aventura por volta do ano de 2050, em um mundo um pouco mais avançado do que o nosso. Portanto as pessoas conversam via celulares, buscam informações na internet e viajam utilizando carros e aviões. Mas similar a D&D, você irá encontrar anões, orks e elfos nesse universo, assim como pode acabar lutando contra um dragão em algum momento. A convivência entre homem, máquina e magia já se tornou bem comum por aqui.

O renascimento

De acordo com o calendário Maia, o mundo acabaria em 21/12/2012. No caso de Shadowrun, o mundo não acabou, mas sim renasceu. O fluxo de magia foi restaurado ao mundo, gerando grandes mudanças. Algumas pessoas descobriram que agora podiam controlar os elementos da natureza. Tribos indígenas redescobriram o poder do xamanismo, invocando espíritos via totens e se voltaram contra a conquista do homem branco, retomando territórios e criando seus próprios países. Monstros adormecidos há séculos, como dragões, voltaram a voar pelos céus e aterrorizar as pessoas. Animais míticos como unicórnios voltaram a caminhar pelo mundo. E algumas pessoas ganharam novos traços e formas, tornando-se elfos, anões, orks e trolls. Até mesmo recém-nascidos entre dois humanos comuns começaram a dar origem a alguma das novas raças.
E a convivência entre todos é algo comum

Além disso, diversos conflitos por recursos naturais cada vez mais escassos aconteceram ao redor do globo. Armamentos com tecnologias cada vez mais avançadas destruíram e dividiram o mundo que conhecemos, abrindo brechas para novos poderes. Megacorporações reconstruíram e dominaram o que sobrou, sobrepondo-se até mesmo a países. A Aztlan é proprietária da região antes conhecida como México, por exemplo. Todas são extremamente poderosas, contando até mesmo com exércitos privados. Para evitar novas guerras globais, existe um conselho mundial regido pelas dez maiores corporações, que cria regras de convivência entre elas. Ao mesmo tempo elas buscam passar à frente umas das outras, buscando qualquer tipo de vantagem contra seus concorrentes. E como realizar isso sem levantar suspeitas públicas? Utilizando shadowrunners, mercenários sem ligação formal com ninguém e que agem por quem pagar mais.

Mapa da América do Norte em 2050

Diversas opções

Em Shadowrun Returns você encarna um shadowrunner que vive na cidade-estado de Seattle no ano de 2054. Você pode escolher qualquer uma das raças (humano, elfo, anão, ork e troll) para criar seu personagem, cada uma com vantagens e desvantagens. Além disso, você também escolhe um arquétipo para seu personagem:
  • Samurai Urbano, um especialista em combate com diversas melhorias cibernéticas em seu corpo;
  • Mago, que utiliza as energias dos elementos a sua volta para ajudar os aliados ou destruir seus inimigos;
  • Decker, um hacker especializado em invadir e combater dentro de ambientes virtuais;
  • Xamã, que invoca espíritos animais para auxiliar em seus objetivos;
  • Rigger, um especialista em máquinas que controla robôs e veículos ligados diretamente a seu cérebro;
  • Adepto Físico, que utiliza o fluxo de magia para melhorar seu próprio corpo, adquirindo habilidades super-humanas.
Escolha como você quer começar
E no caso são arquétipos e não classes, pois elas só determinam como seu personagem vai começar. A evolução dele depende de você. Acha legal ser um mago que encanta uma katana com fogo para queimar todos que cortar? Ok. Prefere ser um xamã especializado em metralhadoras? Ok também.
Customize seu personagem como quiser conforme ganha pontos de Karma
Como todo bom RPG, cada personagem terá uma experiência diferente no mundo. Portanto vale a pena jogar novamente com outro arquétipo com atributos diferentes. Isso vai te passar uma visão diferente das pessoas e será visível no mundo. Samurais urbanos conseguem identificar quais os inimigos mais perigosos e locais para se proteger contra tiros. Magos e Adeptos conseguem encontrar artefatos mágicos e locais onde pode recarregar suas energias ao enxergar o fluxo da magia pelo mundo. Deckers e Riggers preveem os efeitos de equipamentos eletrônicos que podem ser operados a sua volta. Já o Xamã consegue ler a aura que as pessoas e outros objetos projetam no plano astral, podendo distinguir seres vivos de máquinas e outros objetos.

O pontapé inicial

A história da campanha inclusa com o jogo (Dead Man’s Switch) começa ao se atender uma ligação. É uma mensagem automática gravada por alguém que lhe considerava um amigo. A mensagem foi programada para te contatar caso ele morra. Você é o único beneficiário de um seguro de vida que ele fez, desde que investigue e descubra quem o matou. Como você já está faz algum tempo sem trabalho e precisando do dinheiro, não tem por que negar, mesmo que não o considere tão amigo assim.
Arriscar a vida em cada trabalho, é assim que vivem os shadowrunners.
Com isso você vai parar em uma região degradada de Seattle, buscando informações sobre a morte de seu amigo. A partir desse ponto, tudo pode acontecer. Brigue com gangues nas ruas, contrate ajuda de outros shadowrunners, roube informações de megacorporações ou pare no bar local atrás de uma boa história. Tudo é possível de ser feito para se chegar ao fundo dessa história e finalmente receber uma boa recompensa. E se você já for um shadowrunner veterano dos consoles de 16-bits, vai reconhecer logo no começo da história Jake Armitage, protagonista da versão de SNES, que lhe ajuda a se adaptar ao ambiente hostil de Seattle. E prosseguindo a história você vai receber ajuda de Harlequin, um personagem que também guiou o protagonista da versão de Mega Drive durante sua aventura.

Jake será seu companheiro em parte de sua jornada de Seattle

Visuais old school

Apesar do visual sujo pela temática cyberpunk, Shadowrun Returns possui belos cenários em 2D, com diversos pequenos detalhes para enriquecer ainda mais seu visual. A visão da ação é baseada em uma câmera por cima do personagem, no ângulo isométrico. Essa percepção lhe passa uma sensação de 3D e era utilizada também em diversos jogos de videogames 16-bits, como FIFA International Soccer e o próprio Shadowrun de SNES. A câmera isométrica é importante para que você possa enxergar o ambiente a seu redor, com as percepções de cada classe conforme listado anteriormente.
Dos letreiros em neon à outdoors, todos pequenos detalhes do cénario são bem trabalhados
Infelizmente não é só o visual gráfico que lembra jogos de 16-bits. Enquanto os desenvolvedores capricharam no visual, efeitos sonoros ficaram em segundo plano. Não espere ouvir vozes dos personagens enquanto você anda por Seattle. No máximo vai ouvir barulhos como latido de cachorros ou carros passando ao fundo. Já músicas são batidas eletrônicas fracas e facilmente cansativas. Muitas vezes é melhor desligar ou abaixar o volume, pois não conseguem passar uma sensação legal ao acompanhar suas aventuras.

Escolha seus caminhos

Seattle não vai estar aberta para você ir onde quiser, infelizmente. Você só pode ir a locais que tenham relação com suas missões atuais. Porém, você pode escolher a ordem de algumas missões, e isso vai influenciar novas possibilidades de interação ou opções de conversas com outros personagens. Dependendo de suas atitudes, determinado personagem pode te pedir um trabalho novo ou pagar mais pela mesma tarefa.
Suas escolhas mudam tanto o dinheiro gasto quanto a qualidade da informação recebida
Também é possível alterar as interações a partir de gírias de tribos urbanas. Você pode aprender linguajar policial, corporativo, de gangues, entre outros, e usá-los a seu favor. Um policial pode ser mais amigável e te ajudar a conseguir acesso a uma cena de crime caso você saiba como contar sua história no mesmo linguajar de seu dia a dia. Ou então pode ser possível lucrar um pouco mais ao vender informações se conseguir demonstrar ao comprador que você entende do que estão negociando.
Gastar 100 pratas ou um item? Não precisa se conhecer o linguajar de Segurança (Etiquette)


Você é livre para se movimentar pelo mapa atual até que comece um combate, seja por discussão com outros personagens ou por encontrar criaturas selvagens. Nesse momento a ação vai mudar para jogabilidade por turnos. Você ganha pontos de ação que determinam o que cada personagem pode fazer a cada turno. Dependendo dos atributos de seu personagem, você ganha mais ou menos pontos. Cada ponto utilizado lhe permite andar, atirar com armas de fogo, armar robôs, interagir com computadores, usar magias etc. Suas ações serão limitadas até o final do combate, quando volta sua liberdade de movimentação.

Enter the Matrix

Arranje bons companheiros para te proteger!
Outra possibilidade é se movimentar na Matriz (ou Matrix no idioma original). A Matriz é uma evolução da internet como conhecemos, e só pode ser acessada via realidade virtual. E como isso é feito? Com um implante plugado diretamente em seu cérebro e um computador de mão. Se escolheu Decker ou Rigger como arquétipo você já começa com um desses, então as coisas ficam mais simples. Senão vai precisar de um médico para que realize o implante em você. Agora é só encontrar um terminal vazio e se plugar na rede. Mas não faça isso no meio de um tiroteio ou sem um guarda-costas, pois seu corpo fica totalmente vulnerável enquanto você está ligado na Matriz.

Atividades na Matriz funcionam como no mundo real, custando pontos de ação. Já as informações importantes são protegidas por programas de segurança. Você terá que lutar contra eles antes de acessá-las e, quanto melhor seu computador de mão, maior será sua habilidade de combate na rede. Deckers experientes também conseguem executar programas de destruição, facilitando o trabalho por aqui. É possível também cruzar com outro Decker na rede, o que é mais perigoso ainda. Como perder uma luta dentro da Matriz frita o cérebro de alguém, certifique-se que o perdedor não seja você!

Cuidado com os objetos vermelhos. Eles são programas de defesa, e quanto mais tempo dentro da Matriz, mais forte eles ficarão

Construa o seu futuro

Shadowrun Returns está disponível em diversas lojas online, como Steam e GOG.com, com diversas opções de idiomas, mas infelizmente não o português. Para melhorar a experiência a desenvolvedora Harebrained Schemes LLC lançou o DLC Dragonfall. Nele você conhece outra história desse mundo, situada dessa vez na cidade-livre de Berlim, cuja região é governada por um poderoso dragão. E se cansar das histórias já feitas de Dead Man’s Switch e Dragonfall, ainda pode buscar novas campanhas criadas por fãs com o poderoso editor que acompanha o jogo. Existe muito conteúdo disponível, com histórias originais ou adaptações de material do RPG de mesa.
Existem diversas campanhas criadas por fãs disponíveis para download gratuito no Steam

A repercussão foi bem acima do esperado com Returns, e com isso a Harebrained Schemes LLC começou a desenvolver Shadowrun Online. Como o próprio nome diz, será uma espécie de MMO, para que diversos jogadores aproveitem ao mesmo tempo e compartilhem suas experiências. Segundo as projeções iniciais, será lançado próximo ao final de 2014 e promete ser uma grande adição aos fãs.

Se as aventuras no estilo de Baldur’s Gate juntamente a ambientes futuristas de Fallout e combates estratégicos por turnos como em XCOM: Enemy Unknown lhe agradam, você vai ter um prato cheio com Shadowrun Returns.

Prós:


  • Várias opções para customização de personagem;
  • História flui e se altera conforme suas ações;
  • Rico ambiente para ser explorado;
  • Apoio da desenvolvedora para conteúdo criado por fãs.

Contras:

  • Muitas interações somente em texto tornam a sessão cansativa;
  • Falta de diálogos com voz;
  • Não possui opção de português para os textos;
  • Mobilidade limitada conforme missões.
Shadowrun Returns — PC — Nota: 8.0

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Wellington Aciole

é formado em Administração de Empresas pela USP, e mestre em cultura inútil pelas experiências de vida. Desde 1993 gosta de explorar o mundo dos games em seu tempo livre. Pode ser encontrado reclamando da vida no Facebook e Twitter.
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