Cangaceiro ou Volante?
O jogo te dá duas campanhas para serem jogadas: ou você entra na pele de um Cangaceiro e sobrevive ao sertão ou incorpora um Volante e enfrenta a missão de acabar com o cangaço. A ideia é criar seu próprio personagem, dando um nome e colocando os pontos disponíveis nos atributos Força (que interfere nos tiros do personagem), Destreza (aumenta o raio de distância dos tiros) e Fé (usada para conseguir novas habilidades). O primeiro defeito é que as duas campanhas são muito curtas e mal explicadas, não tendo um plano de fundo real para saber o porquê de atravessar um mapa gigante e manter seu personagem vivo. Tudo bem, “manter o personagem vivo” é algo óbvio, convenhamos.O seu personagem ainda tem uma grande árvore de habilidades para serem desbloqueadas, ao passo de uma por nível que você alcança. Entre ativas e passivas, temos habilidades de cura, ataque, defesa, destreza e muitas outras. O problema das curtas campanhas, entretanto, esbarra aqui também: não dá tempo de abrir nem metade da árvore antes do jogo terminar. Eu mesmo terminei a campanha do Cangaceiro e só tinha conseguido três habilidades de mais de vinte disponíveis.
Uma belíssima ambientação
O ponto forte do jogo é, sem dúvida, mostrar que aquilo se passa no verdadeiro cangaço brasileiro e não uma versão modificada da história apenas, como muitos dizem, para “gringo ver”. A maioria dos elementos do jogo formam a atmosfera sertaneja, desde a parte visual até a sonora. Falando em som, a música de Cangaço é muito bonita, trazendo músicas que remetem automaticamente ao Nordeste. De quebra, a versão do jogo disponível no SplitPlay traz a trilha sonora para ser ouvida.Outros detalhes que, às vezes, podem passar despercebidos, dão o toque final na ambientação sertaneja. Todos os nomes de habilidades são baseadas na vida do cangaceiro e do volante; afinal, quando você esperaria que o personagem de um jogo falasse — literalmente, pois existe uma pequena dublagem no jogo — “Ave Maria” na hora de se curar? Ou então pudesse usar rapadura ou a “Cachaça Levanta Difunto” como itens de recuperação de vida? Ou ainda que um urubu começasse a voar em cima da cabeça dos personagens que já estão para morrer? São estas pequenas coisas que fecham o lindo Cangaço feito pela Sertão Games.
A ideia é ótima, mas…
Como eu tinha dito, não me decepcionei quanto à ambientação, pois isto foi feito com quase maestria. Os maiores problemas de Cangaço são quanto à sua jogabilidade. A proposta, aliás, é bem interessante: um jogo de estratégia em tempo real com apenas quatro personagens, no máximo, sendo que apenas um evolui níveis e ganha novas habilidades (no caso, o que você mesmo cria). Pena que a execução não foi tão boa assim.O jogo chega a ser repetitivo em algumas partes. Pela falta da indicação de história, você simplesmente tem na sua cabeça a ideia de “ir andando e matar qualquer inimigo que aparecer” e, em tese, é isso mesmo que fazemos. Uma vez ou outra você deve enfrentar um bando de Volantes para salvar um amigo cangaceiro ou recuperar um item escondido, mas, quase sempre, a ideia é só chegar ao ponto final do mapa. Junte isso às curtas campanhas e os níveis de animação só se sustentam pela temática do sertão.
A movimentação dos personagens é quase questão de sorte. Quando você anda com apenas um personagem, tudo corre bem e ele vai ao lugar que você quer. O problema começa quando você seleciona mais de um: apenas o primeiro vai ao local marcado, os outros simplesmente escolhem onde ficar, até mesmo ultrapassando o lugar e, inevitavelmente, morrendo. Depois de muitas tentativas, é possível perceber que eles tentam formar um padrão, mas quase sempre fica só na tentativa. Tem vez que o personagem nem sai do lugar!
Alguns bugs também aparecem durante o jogo: as músicas param de tocar depois da primeira vez (ou seja, não continuam repetindo e criam um silêncio estranho) e as batalhas param sem motivo aparente (você tem que movimentar algum personagem para que o tiroteio continue). Entretanto, tenho certeza que estes serão corrigidos em futuras atualizações do jogo.
Algumas mecânicas, entretanto, funcionam muito bem. O sistema de dia e noite, por exemplo, dá um ar mais realista ao jogo e mostra a dificuldade de se aventurar pelo sertão sem o sol raiando no céu: só é possível enxergar alguma coisa se um dos personagens estiver com uma lamparina em seu inventário. Aliás, o inventário é bem interessante e inteligente: não existe forma de equipar itens ou colocá-los no uso rápido. O jogo automaticamente escolhe o seu melhor arsenal e o disponibiliza na tela para ser usado.
A promessa do sertão
Cangaço não é um jogo ruim. Ele só poderia ter sido muito melhor do que é. Com toda a ambientação pecando apenas na falta de uma trama mais consistente (ou seria existente?), as falhas de jogabilidade são os responsáveis por não tornar o jogo uma verdadeira Maria Bonita. Entretanto, com a promessa de atualizações importantes e a inclusão de novas campanhas e modos multiplayer e de criação de fases, o jogo poderá se tornar uma grande flor no sertão. Por enquanto, Cangaço é apenas um game mediano e lindo e eu realmente espero que se torne um game ótimo e lindo. Você pode adquiri-lo na SplitPlay.Prós
- Visual “3D feito à mão” é lindo e combina com a proposta;
- Músicas que trazem o sertão nordestino para o jogo;
- Pequenos detalhes finalizam a ambientação majestosamente;
- Mecânicas de dia e noite e inventário inteligente funcionam muito bem;
- É totalmente em português.
Contras
- História é rasa, que não conta muito sobre a vida dos personagens;
- Campanhas disponíveis são curtas;
- Mecânica de jogo acaba sendo repetitiva em alguns momentos;
- Movimentação dos personagens falha com mais de um personagem;
- Alguns bugs estragam a experiência de jogo.
Cangaço — PC — Nota: 5,5
As imagens e vídeos usados na matéria foram disponibilizados no kit de imprensa do jogo e não correspondem ao produto final.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Felipe Araujo