Vamos brincar de índio
Durante o jogo, você controla Aritana, um pequeno curumim que tem a missão de encontrar a mística Pena da Harpia, a única coisa capaz de curar o cacique de sua tribo de uma terrível maldição. Sua principal arma é o cajado do pajé, que, além de ser melhorado durante o progresso no jogo, ainda te dará todo o poder necessário para enfrentar os vários inimigos e chefes.A primeira ideia que temos de títulos indies é o apreço aos jogos 2D, muitas vezes com visual em pixel art. Esqueça tudo isso aqui: o que temos é um game de plataforma 3D, todo colorido como uma verdadeira floresta brasileira. É lindo de cair o queixo, definitivamente. Tudo parece estar vivo na tela. Bem difícil que toda a “alegria brasileira” tenha sido melhor representada em um jogo.
Além disso, para melhorar o visual, toda a interface do usuário é muito bem acabada (além de estar totalmente em português) e a história é contada em filmes animados, desenhados à mão. Muito explicativos mesmo sem narração, introduzem os jogadores à missão de Aritana e à cultura indígena tranquilamente. Este último, aliás, ainda recebe o apoio de outros elementos da jogabilidade: a “moeda” do game são frutas de guaraná, as vidas são representadas por potes de urucum e a energia por folhas de árvore. São nos pequenos detalhes, como em Cangaço, que a desenvolvedora consegue mostrar o capricho feito para apresentar o Brasil dentro de um jogo.
A música é um outro espetáculo à parte. Com trilhas formadas por compassos bem marcados e um grande uso de percussão, a Duaik conseguiu demonstrar como as canções indígenas podem encaixar bem, desde a tela de título até os momentos mais decisivos. Não estranhe se parar apenas para ouvir uma ou outra trilha que está tocando.
Arruma essa postura, menino!
Por mais que não traga uma homenagem aos clássicos da plataforma em seu visual, essa missão fica para a jogabilidade de Aritana e a Pena da Harpia. Antes de tudo, o jogo é difícil, então se você é um daqueles que reclamava que os títulos atuais são muito fáceis, deve experimentar esse indie brasileiro. Como diria alguns, esse jogo não é para índio criado no leite com pêra, definitivamente. Se você não tiver um PC muito potente, ainda terá que enfrentar o desafio do lag causado pelo visual 3D, que acontece mesmo com os gráficos nas configurações mínimas.O ponto principal do jogo é a troca de posturas de Aritana. Usando apenas um botão, é possível trocar entre as posições de Força e Agilidade. Enquanto se está forte, o cajado assume a coloração roxa e é possível atacar e ver os inimigos, mesmo com a velocidade pequena. Quando se troca para ser ágil, além da coloração verde, os inimigos se tornam esferas e não podem ser atacados, mas Aritana fica bem mais rápido e pula mais alto. Imagine que elas são usadas em conjunto: você deve usar a posição de Agilidade para pular em um inimigo, trocar para Força e atacá-los por cima, usando o impulso para atravessar um desfiladeiro. Esse elemento de jogabilidade traz uma estratégia - na qual você deve pensar antes o que fazer - e completá-las com rapidez e coordenação motora.
Todo o game é pensado para ser completado com essa troca constante de posturas. Assim, elas acabam sendo usadas de várias formas, mesmo que repita algumas situações depois de um tempo. Ao longo da jornada, é possível encontrar totens, que dão bônus de energia ou guaraná de acordo com o número e a forma que inimigos são mortos. Os chefes são igualmente pensados para aproveitar desta mudança.
O uso dos controles também é fundamental: existe botões separados para movimento e ataque (no teclado, são outras teclas e no controle do Xbox 360 - que, aliás, o jogo suporta -, é o analógico direito o responsável por matar os inimigos). Logo, você se movimenta com o analógico esquerdo, pula usando um botão e, ao estar em cima do monstro, você ainda precisa direcionar o analógico direto para baixo, causando um ataque. É uma mecânica que pode parecer estranha, mas é bem natural. O único problema fica pela imprecisão dos analógicos ao usar um controle: você bate o dedo e acha que ele foi para baixo, mas ele foi um pouco para a direita. Se isso acontecer, dano é tomado e o ataque, não realizado.
Fases bônus com muito estilo
Aritana traz fases bônus ao fim de cada estágio principal, baseados em uma mistura de Donkey Kong Country, Sonic e Zelda. Eu explico: todos os níveis têm cinco medalhões colecionáveis (como as letras KONG) e, ao coletar todas, você ganha acesso ao bônus. Toda a mecânica é alterada para um labirinto em forma de esfera, onde se deve achar o final antes do tempo acabar (como as clássicas fases extras do ouriço). Ela termina com Aritana ganhando um “pedaço de coração”, que dá ao personagem um novo recipiente de energia a cada dois coletados (como acontece com Link).
Uma ótima pedida para um curumim
Aritana e a Pena da Harpia é uma aventura que deve ser jogada. Não apenas pelo lindo visual, pela interessante jogabilidade de posturas ou por tratar de uma história brasileira tão bonita, mas pelo conjunto que forma uma verdadeira obra-prima sobre a cultura indígena. Se você gosta de um bom (e difícil) jogo de plataforma ou apenas de desafios, corra no Splitplay e ajude Aritana em sua missão em busca à Pena da Harpia!Prós
- Cultura indígena bem mostrada, com detalhes incríveis;
- Visual 3D colorido e lindo;
- Trilha sonora que combina, com muita percussão;
- Esquema de posturas funciona bem;
- Colecionáveis e fases bônus;
- Se você gosta de jogos difíceis, saiba que ele é bem difícil;
- Aceita controle de Xbox 360;
- É totalmente em português.
Contras
- Se você não gosta de jogos difíceis, saiba que ele é bem difícil;
- Computadores fracos sofrem com lag mesmo no mínimo;
- Algumas partes dos cenários ficam repetitivas com o tempo;
- Analógico direito do controle e ataques não funcionam todas as vezes.
Aritana e a Pena da Harpia - PC - Nota: 9,0
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Daniel Silva