Uma história fragmentada
Assim como Bastion, Transistor é muito mais do que apenas um jogo, graças a vários de seus aspectos estruturais. Um destes é a narrativa do título. Você controla uma famosa cantora chamada Red que, devido a eventos misteriosos, perde a voz. Logo no começo da história você encontra a arma falante que dá nome ao game, a espada Transistor (dublada por Logan Cunningham). “E é só isso?”, você deve estar se perguntando. Sim, apenas isso é conhecido pelo jogador, de forma que toda a construção da história e dos eventos que culminaram na perda da voz de Red e no seu encontro com a misteriosa espada Transistor, serão desvendados ao longo da jogatina.Apenas isso, entretanto, não seria o suficiente para justificar o quão original é a história do título da Supergiant, visto que muitos jogos já utilizaram esse mesmo esquema de narração não linear. A diferença é que Transistor, de forma até mesmo sinérgica com a jogabilidade do game, nos obriga a pensar na trama, pois muitos pontos da história são deixados propositalmente em aberto. Além de tornar a experiência como um todo única para cada jogador, essa proposta abre espaço para que revisitemos o título mesmo após seu término.
Visuais de tirar o fôlego
Se a primeira coisa que chama atenção em Transistor é a história (em sua ordem cronológica, pois o maior destaque será falado em breve), a segunda são os cenários do jogo. A narrativa se desenrola na cidade de Cloudbank, um lugar que, antes dos eventos já descritos, possuía alta densidade populacional e que era dotado de alta tecnologia. Com seu design cyberpunk, esta cidade nos faz parar muitas vezes apenas para que apreciemos sua forma imponente.Mas não é só em Cloudbank que o design do jogo chama a atenção. Tudo em Transistor é muito bem planejado de forma a tornar a experiência única. Desde os inimigos, denominados de processos, até os outros NPCs, dificilmente você verá nesta obra algum traço que não seja completamente original e autêntico.
Planejamento é tudo
Planejamento é uma palavra que pode, de certa forma, definir toda a jogabilidade de Transistor. Com sua arma em mãos, Red dispõe de uma variedade de habilidades com nomes de funções algorítmicas famosas no mundo da programação. Esse é um detalhe que passará despercebido por muitos, mas aqueles que, como eu, sabem algo de programação, perceberão que os golpes muitas vezes fazem jus às funções que os denominam (como a função get(), que no jogo tem poderes magnéticos).A grande função destaque do jogo, entretanto, é a chamada join(), que permite a Red parar o tempo e planejar uma sequência de ações que depois serão executadas quase que instantaneamente. Embora seja possível executar ataques fora do join(), dificilmente você o fará, pois o bom uso dele pode significar a diferença entre ganhar e perder diversas batalhas do jogo. Outro ponto interessante é que essas funções, à exceção da join(), podem ser equipadas de três diferentes formas: como uma habilidade ativa, como uma forma de aumentar o poder de outra função ou como uma habilidade passiva para Red.
E é aí que se encontra o grande ás na manga da Supergiant para justificar nosso retorno ao jogo após seu término (por meio da função return(), como o próprio título chama). A possibilidade de combinações diferentes é quase infinita e abre espaço para a criatividade do jogador construir o set que ele julgar mais poderoso para cada batalha. Como se isso não fosse o suficiente para dar motivos para o jogador explorar esse sistema de funções, para cada uso que você faz de uma determinada habilidade é destravado um pedaço da história de alguma figura importante de Cloudbank, incluindo Red.
Você vai ficar sem palavras
Lembra que eu disse que o grande destaque do jogo ainda seria apresentado? Pois bem, mais uma vez a Supergiant Games mostrou ao mundo o que sabe fazer de melhor: uma bela trilha sonora. A OST de Transistor é simplesmente perfeita, tanto que o título ganhará um texto semana que vem apenas para falar sobre ela, mas é impossível analisar este jogo sem citá-la. Darren Korb mais uma vez mostra o seu grande talento de não só criar músicas belas, mas de integrá-las à história e aos eventos do jogo.Todas as músicas presentes em Transistor têm uma sinergia enorme com o momento no jogo em que elas nos são apresentadas, fazendo com que a trilha sonora seja uma parte fundamental na história e na construção da experiência do jogo. Como se não bastasse a genialidade das músicas instrumentais, temos mais uma vez a excelente Ashley Barrett nos vocais das músicas cantadas. Uma dica de amigo? Se você for comprar o jogo após esta análise, compre a trilha sonora junto.
Uma obra de arte
Eu comecei esta análise dizendo que ainda é muito difícil caracterizar um jogo como obra de arte. Pois bem, se Bastion já havia feito muitos se questionarem se isso é verdade, Transistor veio para sepultar de vez essa dúvida. Jogos podem sim ser obras de arte, e Transistor poderá ser lembrado para sempre como uma das mais belas que a indústria de jogos pode nos proporcionar. Com uma jogabilidade única e, possivelmente, com a melhor trilha sonora do ano, me dói dizer que o único defeito deste jogo é sua curta duração (cerca de 5 horas são necessárias para concluir o jogo pela primeira vez). Contudo, isso não é o suficiente para tirar o brilho de um dos melhores jogos do ano.Prós:
- História interessante e não-linear;
- Trilha sonora padrão Supergiant Games de qualidade;
- Sistemas de batalha e de customização inovadores.
Contras:
- Curta duração da história principal.
Transistor — PC — Nota Final: 10
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Vitor Nascimento