Quando se pensa em terror psicológico nos videogames, um dos primeiros nomes que vem na cabeça é Silent Hill, a franquia de survival horror da Konami. Apostando na tensão e no suspense no lugar dos sustos, a série deixou muita gente com medo de desligar as luzes na hora de dormir.
Se hoje a cidade maldita não tem mais tanto reconhecimento como um dia já teve, pelo menos ela serviu de inspiração para muitos jogos de terror, principalmente indies. Esse é o caso de Anna, um game desenvolvido e publicado pela italiana DreamPainters. Com uma forte inspiração em Silent Hill 2 (PS2), mas com seu próprio charme, Anna prova que o terror psicológico ainda pode oferecer experiências interessantes para os gamers.
Você não é bem-vindo...
O jogador toma controle de um homem que tem recorrentes pesadelos envolvendo uma casa de campo. Em seus sonhos, ele se lembra do nome "Anna", o que o deixa incomodado, mas sem saber o porquê. Sem enrolação, ele resolve investigar o lugar. O problema é que alguém, ou alguma coisa, não quer que ele descubra sua ligação com a casa.
Pelo menos o quintal é bonito... |
O enredo se desenvolve por meio de flashbacks e anotações encontrados durante o gameplay. Os mistérios são muitos. Quem é Anna? Qual a relação dela com o protagonista? O que aconteceu com ela? Os desenvolvedores não dão as respostas diretamente nas mãos do jogador; ao invés disso pistas são reveladas para que se possa descobrir o desenrolar da história até o seu dramático final.
Anna é uma história sobre amor, obsessão e loucura. Está longe de ser uma jornada leve e feliz. A atmosfera é sombria e tensa, e os estranhos eventos que ocorrem durante a história são suficientes para deixar qualquer um incomodado. O game conta com finais alternativos, alguns bons, outros nem tanto, mas que de qualquer forma são estímulos para jogar novamente.
Como é de se esperar, o título progride lentamente por meio de puzzles. São bem inteligentes e requerem alguns momentos para entendê-los, oferecendo um bom desafio para quem gosta de enigmas.
O grande problema do game é que o uso dos itens nem sempre é intuitivo. Diversas vezes é necessário combinar artefatos do inventário para conseguir novos itens, e então usá-los nos enigmas. Em alguns momentos a lógica realmente fica evidente; em outros simplesmente não dá para entender a relação entre o objeto "X" e "Y". Isso pode ser um detalhe bem irritante, já que o jogo nem sempre se preocupa em deixar pistas claras para o uso dos objetos coletados.
Olhos que não veem
Graficamente, Anna faz um trabalho bonito. A iluminação é bem utilizada na composição de ambientes escuros e claros, e as texturas são bem feitas. Infelizmente, alguns efeitos de fumaça e névoa ficaram estranhos no jogo, como se tivessem sido retirados de outro título e colados grotescamente nos cenários. Também não pode-se negar a existência de alguns bugs gráficos que podem eventualmente aparecer. Felizmente, eles não chegam a atrapalhar a jogatina.
Já o áudio é, de longe, uma das melhores características do jogo, em especial na parte da trilha sonora. A maior parte das faixas traz consigo um clima melancólico, com violão e piano marcando bastante presença. Os efeitos sonoros também são ótimos. Barulhos de passos que não são do protagonista ou de objetos caindo no chão são suficientes para deixar o jogador com os cabelos em pé.
O segredo de Anna
Anna é um título intrigante. Ele aposta pesado na história e no terror psicológico, e cumpre essas partes com louvor. Certamente é um título que todo o fã de horror deveria jogar. Em adição a isso, ainda temos puzzles inteligentes e uma trilha sonora incrível para completar o pacote.
Claro que o game tem alguns aspectos negativos, como os bugs gráficos, mas talvez seu maior pecado seja sua curta duração. Mesmo com todos os finais alternativos não se leva mais que quatro horas para finalizar tudo e entender toda a história. Ainda assim, é inegável que Anna é muito bom enquanto dura, e certamente vale o tempo gasto. Uma rara pérola entre os jogos de terror atualmente.
Prós
– História intrigante e bem construída;
– Atmosfera sombria e tensa;
– Puzzles legais;
– Trilha e efeitos sonoros marcantes;
– Gráficos bonitos;
Contras
– Alguns bugs gráficos;
– Relação lógica entre os itens do inventário nem sempre é aparente;
– Pouca duração;
Anna – PC – Nota: 8,5
Revisão: Marcos Vargas Silveira
Capa: Stefano Genachi