Resolução de Ano Novo: "Este ano, prometo ser um gamer melhor"

em 31/12/2013

Mais um ano se passou. Foi um ano corrido e agitado, com altos e baixos em todos os setores da vida, como todos os anos anteriores. Claro,... (por Fellipe Camarossi em 31/12/2013, via GameBlast)

Mais um ano se passou. Foi um ano corrido e agitado, com altos e baixos em todos os setores da vida, como todos os anos anteriores. Claro, algumas coisas desse o tornam diferente, especial, mas não são todos os anos assim? O tempo passa, a gente conhece pessoas novas, temos novas experiências, perdemos contato com outras, e isso vale também para o mundo dos jogos. Eu vejo minha prateleira cheia de caixas, cheias ou vazias, algumas com nomes que eu vejo direto, outros que eu nem lembrava que possuía. Isso me traz muitas lembranças, e acho que vou deixar algumas delas aqui, nessas palavras, nesse desabafo.


Eu me lembro de ter discutido com um amigo sobre qual console era superior, o da produtora X ou da Y, falando sobre diversão, citando gráficos e jogabilidade como se todas as pessoas tivessem os mesmos padrões de julgamento para o que é bom e o que é ruim, quem dirá o que é melhor. Pensando agora, é incrível como eu conseguia começar discussões totalmente fúteis e sem nenhum motivo, talvez apenas pela simples graça de discutir. Quantas vezes eles ficaram bravos de verdade por causa de algo que eu disse? E se eu já ofendi alguém por causa dos meus utópicos padrões de qualidade?

Lembro de uma vez que vi um rapaz falando em uma publicação do Facebook sobre como um certo jogo “A” era muito melhor que um outro "B" porque ele tinha uma história melhor, mas sem perceber que a jogabilidade do outro era superior. Por algum motivo a opinião dele me incomodou. Eu tive de ir lá para contra-argumentar, sem me importar que estava colocando a minha opinião contra a dele em uma rede social, talvez me ridicularizando por pensar diferente. Ao perder a calma, poderia até acabar por ofender alguém sem nenhuma necessidade. Nesse momento de reflexão, eu vejo o quão estúpido eu fui, sem pensar na palavra “opinião”.

"Digimon tem personagens muito mais carismáticos e uma história bem superior em relação a Pokémon."
Sabe, eu acredito que existem diversos tipos de gamer, e cada um tem a sua preferência para um certo tipo de jogo. Eu gosto de jogos com uma jogabilidade fluida e de fácil aprendizado, assim como gosto de jogos com uma boa história e com uma grande beleza artística. Reparem que não falei de gráficos, pois isso é irrelevante para mim se o jogo tiver um belo design. Hoje eu percebo que existem jogadores que não estão nem aí para esses fatores, que preferem jogos de ação contínua, outros com mais desafios lógicos, e alguns gostam de jogos esportivos. Nenhum gamer vai ser igual ao outro, pois somos todos humanos e nossa individualidade é justamente o que nos torna tão interessantes.

Não importa qual é o melhor,
apenas jogue.
Quando repenso no assunto, eu vejo quantas discussões eu poderia ter evitado só de simplesmente aceitar a opinião alheia, sem querer impor a minha como se fosse lei. Sempre achei que tivesse problemas de auto-estima, mas quando relembro dessas infinitas discussões tarde da noite quando deveria estar dormindo, essa suposta baixa de amor próprio revela um grande narcisista orgulhoso aqui dentro, ansioso para ter uma oportunidade de mostrar que o que eu gosto é melhor do que os outros gostam, quando isso não vai definir nada no meu caráter ou no conteúdo que tenho a oferecer. Na verdade, até definem, mas não de uma forma boa.

O pior é que eu sei que não sou o único assim. A intolerância é algo predominante nos gamers em todo o mundo, formando suas próprias classes sociais de jogadores (como os que gastam dinheiro com jogos, os pedintes, etc), preconceituosas e injustas, com patamares inalcançáveis de perfeição que conflitam uns com os outros com seus gostos e desgostos. Enquanto boa parte dos jogadores fogem da realidade ao entrar no mundo virtual, eles acabam por trazer a mesma desigualdade para dentro desse globo que devia ser feito para a diversão. A boa notícia é que ao menos numa coisa todos nós somos iguais, a má notícia é que está na nossa relação com as produtoras de jogos.

Tirinha extremamente precisa.
Independente se são jogos independentes ou de grandes nomes, nunca estamos verdadeiramente satisfeitos com o que recebemos. Olhei para a estante de novo e vi um jogo que me deixou muito revoltado ao testar, por identificar várias falhas que podiam ter sido evitadas no desenvolvimento dele mas, pensando com o sangue frio, errar é humano. É natural que haja falhas em tudo que é feito pelo homem, não há como criar algo verdadeiramente perfeito porque cada pessoa vai identificar defeitos que não batem com os seus padrões.

Peguei aqui um jogo lançado esse ano que eu simplesmente amei, não encontrei uma falha sequer nos meus padrões, supostamente o tornando perfeito. Quando conversei com um amigo, ele falou que não gostou do aspectos X, Y e Z, dizendo que aquilo era algo que a produtora devia ter evitado. Isso já torna o jogo imperfeito, pois alguém identificou nele falhas que eu não vi, mas eu não creio que sejam problemas. Isso faz do jogo perfeito e imperfeito ao mesmo tempo? Não, isso torna o jogo normal.

Como fãs, nós simplesmente adoramos apedrejar as produtoras e exigir jogos cada vez melhores, esnobando a esmo o esforço que dezenas de pessoas tiveram com o seu desenvolvimento, quando no fim todos os jogos terão seus alvos que ficarão felizes e outros não. Não é culpa da produtora se o jogo não alcançou os seus patamares de perfeição, ela pode ter errado, mas declarar ao mundo através de um post mal educado no Facebook não vai tornar o jogo melhor. Não, um tweet também não.

Pior mesmo é quando alguém fica com raiva porque você gostou de um jogo que supostamente é um grande erro da produtora, como os tão odiados “caça-niqueis” que se tornam algumas séries. Poxa, é como música, cada uma tem seu público alvo, e se você não curte aquele estilo, apenas respeite. Você se importa tanto assim com o que os outros jogam ou deixam de jogar? Não é tão difícil assim apenas apreciar o que você gosta e deixar de se importar com essa opinião alheia. Veja por você mesmo os prós e contras e se compensa, e caso tenha gostado, não tenha medo de dizer ao mundo. Só não deixe isso subir à cabeça e começar a criticar outros jogos em publicações online.

Convenhamos Warner, isso
aqui foi maldade.
É claro, também não vou dizer que é para aceitar tudo o que as produtoras nos jogam, assim como sou contra boas discussões. O que me refiro é a à cobrança excessiva em obras que têm a intenção de ser um bom jogo para os fãs, feito com dedicação e com o propósito de diversão, da mesma forma que concordo que discussões saudáveis são sempre bem vindas, mas nunca tente forçar garganta abaixo dos outros a sua opinião como se ela fosse a absoluta verdade. Ter bom senso e moderação é o objetivo, e pouco a pouco se pega o jeito nisso.

Agora que revi meu ano, percebendo que não sou o único que tem atitudes imaturas em relação à indústria dos jogos, eu acho que o começo de um novo ano me parece uma excelente oportunidade de me atentar a determinadas atitudes e amadurecer um pouco como jogador e como pessoa. É possível tirar uma lição de tudo na vida, e se eu vou aprender algo, espero poder ensinar para quem estiver lendo este desabafo também.

Não irei mais criar discussões desnecessárias com ninguém em lugar algum apenas para provar que minha opinião é superior, pois não é possível fazer ninguém ver pelos meus olhos e basta para mim saber do que gosto. Também não vou me deixar provocar por alguém que tem um gosto diferente do meu, pois é o direito de cada um ter a sua preferência e se expressar com ela, e de nada adiantará criar um stress para ver qual pessoa tem a preferência melhor.

Sejamos todos viciados
em harmonia.
Também não vou mais criticar cegamente um jogo ou uma produtora, pois muito foi investido para que aquele produto final chegasse. Ele pode ter suas falhas na minha visão, mas outros irão gostar e, para essas pessoas, pouco vale o que acho ou deixo de achar. Se eu não gostei, posso apenas esperar o próximo, ou educadamente mandar um feedback sobre as coisas que não achei boas. Quem sabe, com educação e cortesia, minha opinião pode ser ouvida?

Por fim, eu estou me prometendo que serei uma pessoa melhor em geral. O que aprendi com essa análise da minha própria índole e da minha maturidade pode me servir em outros campos da vida. Se todas as pessoas tiverem respeito com a opinião alheia, com o trabalho de terceiros e ter maturidade o suficiente para saber o que vale e o que não vale a pena entrar em discussão, talvez possamos ter um 2014 marcado por ser um ano melhor que seu antecessor, e que o legado continue.

Bem, acho que posso concluir por aqui. Obrigado a você que aguentou meu desabafo até o fim e espero que tenha sido mais útil do que maçante, e talvez tenha algo a ser aprendido ao ver o ponto de vista alheio. Sempre há tempo de recomeçar, e o primeiro dia do ano é o melhor para uma nova meta, para cumprir uma promessa. A minha é de, em 2014, ser um gamer melhor. Uma pessoa melhor.


Revisão: Alan Murilo
Capa: Vitor Nascimento

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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