Análise: Knights of Pen and Paper +1 (PC) é a prova que o RPG de mesa e o eletrônico podem andar lado a lado

em 06/10/2013

O RPG é um dos gêneros mais clássicos de jogos eletrônicos e, provavelmente, você já deve ter jogado um. A ideia, na verdade, é que ele é ... (por Gabriel Toschi em 06/10/2013, via GameBlast)

O RPG é um dos gêneros mais clássicos de jogos eletrônicos e, provavelmente, você já deve ter jogado um. A ideia, na verdade, é que ele é um dos gêneros mais clássicos de jogos, bem antes de se tornar eletrônico. O que conhecemos hoje por RPG de mesa (ou roleplay) é traduzida pelo significado da sigla: Role-Playing Game, ou, no bom e velho português, Jogo de Interpretação de Papéis. Isso, aquela brincadeira que as pessoas se juntam, falam que são cavaleiros medievais, jogam uns dados estranhos e a mãe deles nunca aprova. Este é o “verdadeiro” RPG.

Alguém, em um belo dia de sol (que acabou dando um bônus de Magia Elemental +2 por causa do calor), indagou por que não existiam tantos jogos que traziam as origens do RPG para os meios eletrônicos. Na verdade, esse alguém pensou “por que não?” e acabou criando um dos jogos indies mais divertidos dos últimos anos. Essa é a essência de Knights of Pen and Paper +1 Edition, lançado pela brasileira Behold Studios e publicado pela Paradox Interactive: lembrar como o RPG de mesa era legal e divertido, mesmo que no meio digital.

Chame o pessoal e faça o seu jogo

Ao iniciar um novo jogo, você não é apresentado a uma grande história ou a um tutorial: ao contrário, você tem apenas o Mestre do jogo e uma mesa, com cinco cadeiras. A ideia que o jogo te apresenta é simples: você realmente está jogando um roleplay, uma brincadeira. Sua primeira missão é criar seus personagens e escolher sua classe, dando início à grande customização do jogo, já que as possibilidades são grandes.


Após isto, você é finalmente apresentado à história, digna de um RPG de mesa medieval, na qual seu grupo se encontra em um lugar estranho e o seu destino vai sendo mostrado aos poucos. Porém, mesmo que tenha uma trama a ser seguida, você tem uma grande liberdade: o jogador é quem decide o que fazer e quando fazer, assim como em um roleplay.

As batalhas levam a liberdade a um nível bem inusitado: você escolhe com quais e quantos inimigos quer batalhar de cada vez, dentre os disponíveis em cada localidade do jogo. Isso faz tudo ter o seu próprio ritmo, de forma que você escolhe o quanto vai evoluir e como.


Pontos de experiência, habilidades, equipamentos, itens... tudo isto está presente no jogo, em meio a um esquema de batalhas por turnos simples, porém que funciona de forma perfeita e ainda necessita do jogador uma estratégia pela sequência de golpes entre os heróis e os inimigos. Ao vencer, você ainda pode ganhar ouro, que pode ser usado tanto para comprar ítens para a aventura medieval quanto para a própria sala de jogo dos nossos “personagens reais”, mudando a mesa, a parede, o tapete, os objetos e até mesmo o mestre do jogo, aumentando também os atributos na aventura. Porém, toda a quantia armazenada pode ser usada por todos os saves, o que tira um pouco da propriedade de sua aventura, já que, se você estiver criando duas aventuras distintas, uma acaba financiando a outra.

Uma mesa de vidro? É que você não percebeu o Mestre dos Magos, o robô caipira e a coroa do BK

Totalmente nas origens

Além de voltar à origem quanto à ideia e à história, Pen and Paper ainda traz gráficos 8-bits que se encaixam muito bem à proposta, além de serem muito bonitos. Tudo é bem colorido e vivo, fazendo com que os gráficos, incluindo menus, sejam um acréscimo muito bom ao conjunto final. O problema da versão de PC é que ela é apenas na proporção 4:3 e monitores widescreen terão de se contentar com faixas pretas em ambos lados da tela.


As músicas do título são muito contagiantes e todas feitas em chiptune, como se estivéssemos jogando realmente um RPG do NES ou do Mega Drive. Por mais que bonitas e bem feitas, elas começam a se tornar repetitivas durante algum tempo, já que não há variação, principalmente quando se fica em um local do mapa por muito tempo ou em uma batalha muito longa.

Tinha que ser brasileiro

Sabe quando você olha alguma coisa ou alguém e ele tem aquele jeito brasileiro de ser? Knights of Pen and Paper tem um pouco disso por causa do seu humor. São aquelas piadinhas descompromissadas, que realmente podiam ser feitas por jogadores de roleplay… Afinal, não é todo dia que um dos personagens do seu jogo pede para o mestre uma garota bonitinha para pedir a missão pra você, né?

Parece que viajantes do espaço-tempo não gostam muito deste deserto...
Porém, acima disso, nós temos os trocadilhos. Pen and Paper foi um jogo de nerds feito para nerds e isto é provado pelo amor aos trocadilhos, algo que dá um charme muito especial ao jogo. Fãs da Sony gostarão de visitar a Vila Journey, em meio a um grande deserto “onde só tem areia”, assim como fãs de um certo seriado britânico poderão comprar uma TARDIS para a sua sala de jogo (ou encontrá-la em uma tempestade de areia, com um Stargate). Entre as outras opções de compra, estão o Confuser, um tapete colorido bem parecido com o do Twister, a coroa do Burger King e alguns novos mestres, que, consideravelmente, são bem parecidos com o Mestre Splinter, o Mestre Yoga, o Mestre dos Magos e o Doc Brown.

Beleza, acho que você já entendeu que o nível de referências deste jogo é mais de 8000
E nem todas as referências são para quem gosta do mundo geek. Afinal, ao adentrar a temida Floresta Negra, é bom te avisarem que não tem nada a ver com o bolo. Ou então você pode chamar a Prof.ª Helena, de Carrossel, para fazer parte da sua equipe. Como tinha dito antes, este humor de trocadilhos traz um charme especial ao jogo e tirará alguns sorrisos involuntários durante a partida.

“Depois da agressividade de Super Meat Boy, do alto nível de estratégia de FTL, da beleza de Braid e da genialidade de FEZ, é incrível como o universo dos jogos indie consegue nos surpreender mais uma vez. Knights of Pen and Paper é um RPG simplesmente brilhante. Em vez de deixar para trás os RPGs de mesa como os videogames sempre fizeram, ele volta atrás, caminha até as esquecidas fichas de papel e dados e diz: “vamos unir forças”. Mesmo que o jogo não traga uma funcionalidade multiplayer para realmente reviver os tempos de RPG de papel, o uso de dados, as diversas piadinhas, as opções de customizações e os clichês nos remetem de cara a essa atividade. O pacote é embalado por uma variedade imensa de sprites, cenários e animações que revivem o estilo 8/16-bits. O mesmo pode-se dizer das músicas em chiptune, embora estas não sejam tão bem trabalhadas e viciantes. O resultado é um RPG único, capaz de fazê-lo suar nos momentos difíceis e rir nas conversas com o “mestre do jogo”. E toda essa “esquisitice divertidamente jogável” foi feita por um pequeno estúdio brasileiro. E é claro que disso não poderia deixar de sair a opção de jogar o jogo inteiramente em português”.
- Rafael Neves, redator, revisor, diretor de publicações do GameBlast e narrador do BlastCast

Prós


  • Jogabilidade customizável, dos personagens às batalhas;
  • Ótima volta ao gênero do RPG de mesa em meios eletrônicos;
  • Humor inteligente, cheio de referências;
  • Gráficos 8-bit muito bonitos e vivos;
  • Totalmente em português do Brasil.

Contras


  • Dinheiro conseguido é distribuido entre todos os saves;
  • Músicas boas, mas que, com o tempo, se tornam repetitivas;
  • Apenas disponível na proporção 4:3.

Knights of Pen and Paper +1 Edition - PC - Nota: 9,0

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Vitor Nascimento
Colaboração: Rafael Neves

sempre com projetos criativos, estranhos ou os dois ao mesmo tempo. desenvolvedor de software, game designer e escritor sobre as coisas que eu gosto.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.