Análise: Descubra a história da família Greenbriar no incrível Gone Home (PC), a evolução do gênero Adventure!

em 01/09/2013

Houve uma época em que os Adventures dominavam completamente o mercado. Obras-primas como Grim Fandango e Escape from Monkey Island era... (por Unknown em 01/09/2013, via GameBlast)


Houve uma época em que os Adventures dominavam completamente o mercado. Obras-primas como Grim Fandango e Escape from Monkey Island eram os jogos favoritos de muitos jogadores graças a seu carisma e suas histórias muito bem escritas e executadas. Contudo, com a evolução técnica dos jogos chegando a um patamar quase inimaginável, este gênero foi caindo cada vez mais no esquecimento. Percebendo esse nicho de mercado esquecido, produtoras como a Telltale Games começaram a retomar seus esforços para criar jogos de aventura. Além de trazerem de volta a sensação incrível dos jogos de outrora, tais empresas ainda se aproveitaram do potencial dos hardwares atuais para inovar e adicionar novos elementos ao gênero. O resultado dessa empreitada foi nada menos do que um grande sucesso, e jogos como The Walking Dead se consagraram como alguns dos melhores já lançados nos últimos anos.


Neste contexto, a estreante The Fullbright Company decidiu investir no gênero com Gone Home, um Adventure que é bem diferente do que estamos acostumados a ver por aí. No papel de uma garota que retorna à sua casa após uma viagem de um ano, o jogador deve investigar o motivo pelo qual seus pais e sua irmã não estão em casa – sem pensar que a simples tarefa resultaria para a garota em uma jornada emocional que a faria conhecer sua família muito mais a fundo.

“Família, cheguei!”

Ambientado na década de 1990, o jogo conta a história de Kaitlin Greenbriar, uma garota que chega de viagem e percebe que sua família não está em casa. A primeira pista encontrada pela garota é um bilhete de sua irmã, Samantha, avisando que na casa existiam respostas que poderiam levar Kaitlin para onde ela estava. Sem cutscenes ou nada do gênero, o jogador assume o controle de Kaitlin e deve vasculhar a casa em que cresceu, atrás de pistas do paradeiro de sua família. Parece bobo, não?

Lar, doce lar!
A questão é que a ambientação do título é espetacular. A casa, o clima e os objetos espalhados pelo cenário nos remetem não apenas à infância de uma personagem de videogame, mas à de qualquer um que cresceu durante os anos 90.  A casa criada pela desenvolvedora é um verdadeiro playground emocional em que testemunhamos o retrato de uma família, aparentemente feliz, mas que esconde diversos problemas e conflitos, comuns em nossa sociedade. Não entrarei em maiores detalhes quanto ao enredo da aventura, pois estragaria tudo de melhor que o título tem a oferecer, mas posso dizer que Gone Home possui um dos melhores textos já escritos para um jogo nos últimos anos, e manterá os jogadores encantados e presos até que cheguem ao final dessa jornada, que dura cerca de três horas.

Na pele de Kaitlin

Gone Home é um típico Adventure em primeira pessoa. No controle de Kaitlin, o jogador deve explorar todos os cantos da casa em busca de objetos que revelem novas pistas e que permitam que mais áreas da casa possam ser exploradas. Apesar do clima não ser muito amigável, já que a casa está vazia e uma grande tempestade está caindo do lado de fora, não há motivos para temer forças ocultas: o jogo não é sobre fantasmas e não tem a menor intenção de assustar os jogadores. Kaitlin é capaz de interagir com praticamente tudo o que encontra pelos cenários: gavetas, prateleiras, caixas, revistas, aparelhos de som e tudo o mais que lhe parecer interessante. Cada clique revela alguma surpresa que o manterá imerso no universo do jogo. Com diversas referências à cultura pop dos anos 90, é incrível como a The Fullbright Company conseguiu idealizar algo que parece transcender o jogo, de tão real. Ao contrário de diversos jogos atuais, que nos contam histórias muito bem articuladas de mundos fictícios, Gone Home se propõe a contar uma história que pode acontecer com qualquer um de nós. Este clima de realidade é constante, e traz aos jogadores algumas sensações talvez nunca sentidas em um jogo.

"Cara, essa série nova tá bombando! Até gravei os episódios!"

A ficção segue a realidade

Para uma história que tenta se manter presa à realidade o tempo todo, é necessário que o jogo consiga transmitir bem a sensação de que aquela casa e seus personagens realmente existem. Felizmente, a desenvolvedora consegue atingir seu objetivo com louvor. Apesar dos gráficos não serem perfeitos, eles são muito competentes e até bastante realistas. Durante minhas andanças pelos corredores da casa dos Greenbriar, nunca me passou pela cabeça que algo ali parecia falso ou estava fora do lugar. Isso se deve também à excelente direção artística empregada no desenvolvimento do título. A atenção dada aos detalhes – percebida por meio dos móveis datados, ou até pelos objetos encontrados pela casa, que condizem perfeitamente com a época em que o jogo se passa – é simplesmente fora do comum.

E as referências não param!
Como se não bastasse, a trilha sonora, aliada ao excelente trabalho de dublagem, está entre as melhores que já testemunhei em qualquer jogo. Nas dublagens, os personagens parecem realmente sentir as coisas que dizem, e as músicas nostálgicas nos remetem diretamente a um tempo que não volta mais. Realmente a parte sonora do título é a cereja que faltava para tornar o jogo praticamente perfeito, no que diz respeito a sua ambientação.

"Vou ouvir uma fita K7 enquanto jogo meu Super Nintendo"

Curto, mas intenso

Mesmo com tantas qualidades e conceitos muito bem executados, a aventura passa num piscar de olhos, e pode ser concluída em apenas três horas de jogatina. É uma pena que o jogo dure tão pouco. Contudo, estranhamente, no momento em que terminamos a aventura, tudo parece certo e talvez o jogo não devesse durar mais do que se propõe. O que pareceu ficar claro é que a desenvolvedora preferiu não se alongar utilizando-se de detalhes que desviassem a atenção dos jogadores das incríveis sensações e descobertas espalhadas pela jornada.

Street Fighter, só que não...
Gone Home é um jogo único e um excelente cartão de visitas para uma desenvolvedora estreante. Com uma ambientação de qualidade absurda e um texto de dar inveja a muito roteirista de cinema, o jogo abusa do lado emocional dos jogadores para criar uma aventura inesquecível, divertida e extremamente nostálgica. Imperdível!

Prós

  • O universo do jogo parece real;
  • História muito bem escrita e executada;
  • Jogabilidade simples e fluida;
  • Trilha sonora e dublagens impecáveis.

Contra

  • O jogo deixa um gostinho de “quero mais”.
Gone Home – PC – Nota: 9.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Daniel Silva 

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