Que jogos têm uma pegada artística, atualmente poucos discordam. Ainda assim, seria exagerado dizer que no início da década de 80, nos primórdios dos consoles, alguém imaginava o tamanho que a coisa tomaria nos tempos atuais. De filmes inspirados em jogos, a enormes eventos dedicados ao tema. A verdade é que o pós-modernismo de nossos tempos permitiu que o que era apenas um aglomerado de pixels saltasse dos consoles para o mundo real, e que canções escritas para blips de computador ganhassem também novas formas, para as mãos e instrumentos de orquestras completas. Espetacular, não?
Um evento para qualquer família
Realizado em Curitiba no dia 28 de junho, o concerto Games Classic Show 2013, trouxe para a cidade algumas das grandes canções dos games, fazendo a alegria do público presente no Teatro Guaíra. Para quem conhece, o perfil do evento em questão já é uma formula de bom sucesso. No cenário internacional, o concerto Video Games Live (VGL), elaborado por Tommy Tallarico e Jack Wall, roda o mundo já faz uns anos, interpretando obras de Zelda, Mario, Halo e afins. Musicalmente a Games Classic Show se trata de um evento semelhante, mas ainda carrega uma personalidade própria e notáveis diferenças na parte de produção.A orquestra, aqui composta por instrumentistas da capital paranaense, mostra-se muito competente. Para o evento, as canções foram arranjadas no formato medley, um agrupamento de melodias ajuntadas, que foram divididas em "estágios" referentes a empresas e clássicos dos consoles. Tivemos o estágio referente a série Final Fantasy, o estágio Capcom, o estágio Mario, e outros, garantindo ao setlist elaborado por Mateus Brandão, músico e arranjador curitibano, uma grande abrangência de temas em um curto espaço de tempo.
Outro dos grandes destaques do evento foi a apresentação de cosplayers. Megaman, Chun-li e outros personagens corriam pelo teatro durante as apresentações, arrancando risos e sorrisos. Também é digno de nota o fato que, além da orquestra, estavam presentes na edição de 2013 o guitarrista Nino MegaDriver, da banda MegaDriver, e os vencedores do concurso Game Music Brasil: Vinicius Kleinsorgen e Lucas Flicky, do Novastrike Soundscape, responsáveis pela trilha sonora do jogo brasileiro Toren, que também teve sua música tema apresentada.
Chegado o final do evento, conseguimos ainda descolar uma entrevista bacana com os quatro, tanto sobre o cenário musical quanto sobre a abrangência de eventos semelhantes no país.
Mateus, como surgiu a ideia da Games Classic Show?
Mateus: Isso aí começou com um grupo chamado Multiplayers, composto por alguns integrantes da orquestra, que levaram o projeto para o maestro Carlos Domingues, e numa parceria que eles fizeram, resolveram montar o espetáculo numa forma maior, e pra isso tudo, além de músicos precisariam de um arranjador, e devido à uma indicação, e eu fiquei bem feliz com isso, eu estou aqui, com todos estes outros músicos, atores e afins.
Dá para ver que temos uma orquestra bem jovem, não?
Mateus: Não somente, na verdade temos um pessoal também mais experiente, até da Sinfônica. Eu faço Belas Artes e a maioria do pessoal da percussão são meus colegas, mas também já fazem cachê com as orquestrar estaduais do Paraná.
O espetáculo tem planos de rodar o Brasil ou vai ficar por aqui?
Mateus: Olha, se você quiser contratar - risos -, por enquanto a gente só tocou aqui em Curitiba, mas tem projeto pra expandir, esse ano mesmo, para outras cidades do Brasil.
Você é só arranjador ou trabalha como compositor também?
Mateus: Até hoje, cara, eu não compus nada pra jogo. É a minha vontade, não ficar só na guitarra. Eu sempre gostei de música orquestral e de fazer arranjos, pra bandas também. Eu espero que este trabalho me abra as portas. Inclusive, as músicas que estavam lá no telão junto com as imagens na apresentação de cada sessão, foram músicas que eu fiz para o concurso da GMB, gravadas com essa orquestra, estes mesmos músicos. Como eu não tinha samplers, eu peguei uma grana e paguei para o pessoal, procura lá, Marcha do Universo, foi gravada inteira com instrumentos mesmo. Eu espero que algum dia dê pra trabalhar nesta área.
Vinícius e Lucas, vocês estudam música, são compositores?
Lucas: Então, a gente começou meio que como entusiasta no campo, quando a gente menos esperou, já estava-mos inserido nisso.
Vocês trabalham com isso apenas ou tem alguma formação?
Lucas: Então, ele estuda letras, tradução, e eu faço design.
Como está sendo trabalhar com a trilha de Toren?
Vinícius: Está sendo um trabalho super dinâmico, a gente tem contato direto com o pessoal da produção, mandamos exemplos pra eles, eles dizem onde tem que mudar.
Lucas: Nós não somos criativamente limitados, eles mandam a gente fazer alguma coisa e depois dão feedback para o que devemos mudar, então temos uma certa liberdade.
A nível de trabalho, por enquanto é só Toren ou tem procura de outras empresas?
Lucas: Outras empresas já procuraram a gente, mas, por enquanto, ainda estamos em coisas pequenas.
Vinícius: Toren foi a primeira coisa grande que pegamos. A princípio, a gente começou com coisas pequenas, jogos protótipos pra Universidade do Rio Grande do Sul e jogos pequenos de celular, essas coisinhas sem muito escopo.
Já da para tirar um dinheiro nisso, ou ainda tem que trabalhar com letras e design?
Lucas: A gente consegue tirar um pouco, mas bem pouco. Não dá pra confiar inteiramente nisso, então ainda temos outras carreiras em paralelo.
Eventos, Global Game Jam e afins, tem participado?
Lucas: Ainda não, a gente está começando a participar dessas coisas agora.
Nino, como foi montar o projeto MegaDriver? Na época, você ficou famoso no meio da Game Music brasileira.
Nino: Cara, eu vou falar pra você, estar aqui hoje até arrepia. Eu comecei a tocar música de videogame em 1999, e assim, eu montei uma banda de um homem só porque a galera considerava isso nerd demais, ninguém queria tocar, então, por exemplo, eu ia tocar numa banda de garagem e começava a tocar a música do Ken - que é mó Rock`n`roll, né cara? Mas imagina se alguém queria tocar a música do Ken, a galera queria tocar cover de Iron Maiden, Metallica, ninguém queria saber disso daí, então não dava pra montar uma banda pra tocar, era muito pejorativo ser considerado nerd.
O termo gamer nem existia naquela época, pra você ter noção. Então, um camarada meu falou pra eu aprender a gravar os instrumentos, aí eu comecei a tocar sozinho. Foi em dezembro de 2003 que eu resolvi tentar voltar a formar uma banda, aí eu formei a MegaDriver, daí foi bem bacana. Acho que o cenário já estava outro. O primeiro álbum entrou no ar em vinte e poucos de dezembro de 2003, em 2004 a gente tinha conseguido sair em tudo que é revista de videogame, aí, de lá pra cá só evento, cara. Foi melhorando, né? Hoje em dia é muito bacana, a aceitação da galera é demais, antigamente era mais a galera antiga, mais aquele lance de nostalgia, hoje em dia não, um pessoal bem novo, é bem bacana.
A nível de resposta do público, dá para ver que o pessoal pede esse tipo de coisa. Tem projeto para o MegaDriver gravar mais músicas e sair por aí? Faz um tempo que eu não vejo a banda, vejo mais você apresentando em eventos.
Nino: Então, apresentação minha é mais no canal do Youtube. Lá fica difícil reunir todo mundo. Já é difícil reunir pra gravar o áudio, pra gravar o vídeo então… Mas a gente toca bastante, aqui em Curitiba tem pouco evento ainda, sabe? Está começando agora a melhorar os eventos daqui, mas a gente está sempre tocando.
O MegaDriver deve lançar um álbum agora, no final do ano, só com trilhas de jogos de luta. Fizemos uma enquete no site, teve mais de três mil votos, então o disco vai sair só com músicas que a galera pediu. Eu acho bacana que você fala jogo de luta e todo mundo imagina Street Fighter, mas tem vários outros jogos que a galera pediu e eu fiquei de boca aberta, mas eu não vou falar pra não dar spoiler. Mas, assim, até o ano que vem está pra sair esse álbum, e aí estaremos fechando uma turnê para o final do ano, que eu pretendo anunciar até o final de agosto.
Passa por Curitiba?
Nino: Com certeza.
Valeu pessoal e boa sorte!
Mas, e você, pequeno gafanhoto, já conferiu algum evento semelhante? Quanto a Games Classic Show, eu recomendo.
O termo gamer nem existia naquela época, pra você ter noção. Então, um camarada meu falou pra eu aprender a gravar os instrumentos, aí eu comecei a tocar sozinho. Foi em dezembro de 2003 que eu resolvi tentar voltar a formar uma banda, aí eu formei a MegaDriver, daí foi bem bacana. Acho que o cenário já estava outro. O primeiro álbum entrou no ar em vinte e poucos de dezembro de 2003, em 2004 a gente tinha conseguido sair em tudo que é revista de videogame, aí, de lá pra cá só evento, cara. Foi melhorando, né? Hoje em dia é muito bacana, a aceitação da galera é demais, antigamente era mais a galera antiga, mais aquele lance de nostalgia, hoje em dia não, um pessoal bem novo, é bem bacana.
A nível de resposta do público, dá para ver que o pessoal pede esse tipo de coisa. Tem projeto para o MegaDriver gravar mais músicas e sair por aí? Faz um tempo que eu não vejo a banda, vejo mais você apresentando em eventos.
Nino: Então, apresentação minha é mais no canal do Youtube. Lá fica difícil reunir todo mundo. Já é difícil reunir pra gravar o áudio, pra gravar o vídeo então… Mas a gente toca bastante, aqui em Curitiba tem pouco evento ainda, sabe? Está começando agora a melhorar os eventos daqui, mas a gente está sempre tocando.
O MegaDriver deve lançar um álbum agora, no final do ano, só com trilhas de jogos de luta. Fizemos uma enquete no site, teve mais de três mil votos, então o disco vai sair só com músicas que a galera pediu. Eu acho bacana que você fala jogo de luta e todo mundo imagina Street Fighter, mas tem vários outros jogos que a galera pediu e eu fiquei de boca aberta, mas eu não vou falar pra não dar spoiler. Mas, assim, até o ano que vem está pra sair esse álbum, e aí estaremos fechando uma turnê para o final do ano, que eu pretendo anunciar até o final de agosto.
Passa por Curitiba?
Nino: Com certeza.
Valeu pessoal e boa sorte!
Um evento ou um movimento?
Revendo hoje, a abrangência de eventos como a Games Classic Show, o aumento considerável do público, e, como o Nino falou, a mudança de faixa etária, é fácil perceber uma grande movimentação na indústria de jogos. Um aumento do público alvo, uma popularização, uma revalorização, enfim, diversos fatores que colaboram para a uma maior aceitação dos jogos na sociedade. Filosoficamente, acima da música, talvez este seja o aspecto principal a se pensar: o significado cultural por trás do concerto.Mas, e você, pequeno gafanhoto, já conferiu algum evento semelhante? Quanto a Games Classic Show, eu recomendo.
Revisão: Luigi Santana
Capa: Sybellyus Paiva
Fotos: Arkade