|
Descansem em paz, locadoras
do mundo. Sua ausência ainda
é muito sentida... |
Como as coisas mudam! Há uns dez anos atrás eu estava olhando os jogos da minha locadora favorita (que saudades, Enterprise do Centro Comercial de Copacabana...). Sem inspiração para escolher algum capaz de me divertir pelo final de semana inteiro, pedi ajuda ao meu estimado Jorge, dono da locadora e meu guru espiritual nas horas vagas. Sempre sábio e ciente de que eu já havia torrado uma pequena fortuna alugando
Harvest Moon, Jorge me recomendou um jogo que ele dizia ser meio parecido com o simulador de fazenda, mas que eu sempre via encalhado na prateleira. Era um tal de Animal Crossing: Population Growing para GameCube.
O bom selvagem
|
Uma gratíssima
surpresa! |
Mais do que encontrar um passatempo satisfatório para o final de semana, Animal Crossing acabou se revelando um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. Rapidamente percebi que apenas alugar o game não me permitiria ver tudo de legal ele tinha a oferecer, então corri atrás de uma cópia para minha coleção pessoal. E qual não foi a minha alegria quando finalmente coloquei as mãos nessa belezinha? Finalmente poderia curtir com calma a vida no campo ao lado de meus novos amigos animais!
Assim, ao longo dos meses seguintes, dediquei quase todas as minhas horas disponíveis às divertidas atividades de Animal Crossing. Munido apenas de Gamecube e de um caderno do Botafogo no qual anotava dicas e truques dos meus jogos favoritos, comecei a catalogar as espécies de peixes, insetos e fósseis que encontrava. Assim certamente conseguiria ajudar a coruja Blatters a completar a coleção do museu de meu vilarejo, que batizei de Makuco. Foi uma época muito feliz e, embora eu tenha ficado devendo alguns quadros ao pobre Blatters, e alguns milhares de Bells ao ganancioso
Tom Nook, minha diversão com Animal Crossing foi completa.
|
Quem diria que pescar poderia ser tão divertido? |
O troféu corrompe o homem
Alguns anos depois, com meu vício em Animal Crossing já transformado em nada mais que uma doce e saudosa lembrança, estava um tanto frustrado com a proposta casual do novo videogame da Nintendo, o Wii. Então resolvi arriscar a compra de meu primeiro console da Sony, o PlayStation 3. Estava um pouco cético nessa empreitada inaugural fora do eixo Nintendo-Sega que sempre norteou a minha vida, mas se há algo que os videogames me ensinaram é que nunca devemos fechar as portas para outro sistema.
|
A vontade de jogar Mass Effect, Uncharted e Metal Gear Solid
acabou despertando meu desejo por um PlayStation 3... |
Tudo ia muito bem e eu estava curtindo bastante o Brütal Legend que comprei junto com o PlayStation 3, até perceber que de tempos em tempos um troféu aparecia no canto superior direito da tela. É óbvio que a essa altura, diferentemente da década anterior, a internet já fazia parte da vida das pessoas e eu tinha plena noção de que os
achievements estavam bombando no Xbox 360, mas nunca tinha recebido uma condecoração dessas em um jogo antes, então foi uma bela novidade.
|
Quantos jogos não foram
vendidos só por contarem
com troféus fáceis? |
Conforme as semanas foram passando eu passei a me empenhar mais e mais na busca pelas tais condecorações. Comecei procurando no Google por “*insira nome de qualquer jogo com suporte a troféus* trophy roadmap” e planejando cuidadosamente o caminho até as tão desejadas platinas. Na medida que meu nível na PSN subia, crescia também a minha ganância e o desejo por mais troféus. Quando alcancei a marca dos 5000 troféus já estava chegando ao ponto de comprar jogos de qualidade duvidosa em lojas online pela pura vontade de somar mais troféus em minha coleção. Não fosse a intervenção da minha namorada eu teria chegado ao ponto de comprar um PlayStation Vita (obrigado de novo, Lú!) só para juntar mais alguns troféus em minha conta...
De volta às origens
|
Um verdadeiro cavalheiro
não corre atrás de troféus... |
A essa altura jogar videogames se tornava mais um trabalho que uma diversão, e eu já estava ficando um pouco de saco cheio dos troféus. Foi quando comecei a dar mais atenção ao meu Nintendo 3DS, que sempre me trazia um pouco de alegria com os excelentes
Professor Layton and the Miracle Mask e
Super Mario 3D Land. E não é que o portátil também recebeu uma versão daquele tal Animal Crossing que fez minha alegria tantos anos atrás? Eu havia ignorado as edições do DS e Wii com medo delas não fazerem justiça ao jogo original, mas imaginei que valia a pena tentar a sorte com esse
New Leaf que o mundo inteiro estava jogando.
|
Novo jogo.
Mesma diversão. |
E estava certo! Qual não foi minha alegria ao reencontrar o querido Blatters pedindo ajuda para completar seu museu com centenas de novos animais, e até mesmo ao rever o ganancioso Tom Nook, ansioso para transferir todo o meu dinheiro para o ramo imobiliário. O vilarejo estava maior e mais colorido do que nunca, com muitas coisas divertidas para fazer. Há outras lojas e até mesmo uma nova ilha para eu curtir uns mergulhos. Foi paixão à primeira (ou segunda, nesse caso) vista, e não consigo mais desgrudar do jogo. Na verdade, enquanto você lê este texto, provavelmente eu estarei me divertindo como prefeito da Nova Makuco (aliás, quem quiser me adicionar e jogar online, o Friend Code é 2637-9422-0176).
Como as coisas mudam... hoje em dia não há mais locadoras, o Jorge não trabalha mais com videogames, a Enterprise deu lugar a uma lojinha de produtos esotéricos e minha obsessão por troféus veio e passou com a mesma rapidez. Quanto mais eu penso sobre a minha busca pelas platinas, mais percebo o quanto essa caçada me distanciava do real propósito dos videogames: a alegria descompromissada. Porque jogos eletrônicos não são e nunca foram nada além de um hobby. Uma diversão. Um brinquedo. É por isso que, no fim das contas, pescar me diverte mais que platinar. É por isso que a diversão trazida por Animal Crossing tantos anos atrás é exatamente a mesma que New Leaf proporciona agora. Certas coisas nunca mudam.
Revisão: Bruna Lima
Capa: Felipe Araujo