Dito isso, não há tantos jogos sobre computação. Quer dizer, temos várias IAs psicopatas como a GLaDOS de Portal, mas jogos cujo a trama principal gira em torno da computação em si são mais raros, e como alguém da área penso que seria legal ver mais obras com uma temática que me é comum. Talvez você já tenha sentido o mesmo, caso não seja piloto de carros de corrida, franco-atirador ou jogador de futebol.
O DLC Minerva’s Den (Abrigo da Minerva, em uma tradução livre), lançado como uma expansão para BioShock 2, de certa forma preenche essa lacuna. Sim, você ainda é uma monstruosidade da genética vestindo um escafandro numa cidade submersa no Atlântico, mas o enredo não deixa de ser uma homenagem às máquinas que hoje fazem nosso trabalho.
A história não contada
Minerva’s Den segue a mesma estrutura e mecânica de jogo da campanha principal de BioShock 2. São duas grandes áreas para explorar e mais uma terceira fase final, o que deve ser conteúdo suficiente para deixar os jogadores satisfeitos. Assim como no jogo base você está no controle de um Big Daddy, poderá usar os poderosos plasmids e terá que encontrar Little Sisters para conseguir os recursos necessários para sobreviver.Os eventos do DLC se desenvolvem em paralelo à história principal do jogo. Enquanto a Sofia Lamb e o Subject Delta travam sua disputa em algum outro lugar de Rapture, um outro Big Daddy, Subject Sigma, é ativado por Charles Milton Porter, que se apresenta como criador do poderoso The Thinker (O Pensador), um computador consciente por trás de toda a automatização e gerência da metrópole. Infelizmente para ele, seu antigo companheiro o traiu e assumiu o controle sobre a máquina, então sua missão é invadir o distrito tecnológico de Rapture, o tal do Minerva’s Den, melhor conservado que o resto dos ambientes, e imprimir uma cópia dos códigos da programação do Thinker.
A adição de um centro de tecnologia, robótica e computação ao jogo ajuda a elucidar alguns detalhes que nunca haviam recebido muita atenção até então, como a origem dos robôs de segurança que protegem Rapture e o funcionamento dos sistemas automatizados e até mesmo da manutenção da pressão da cidade. Para quem se pergunta onde estava toda essa maravilha da ciência na trama dos antecessores, a gravação de um funcionário revela que os cidadãos da cidade nunca deram muito valor ou reconhecimento ao trabalho realizado lá, apesar da sua importância fundamental na vida de todos.
Ironicamente, o DLC referencia várias vezes a história real de Bletchley Park, próximo a Londres, onde funcionou, durante a Segunda Guerra Mundial, um centro de inteligência britânico. Uma grande equipe de matemáticos, criptoanalistas, engenheiros e pessoas de várias outras ocupações trabalharam diariamente para decifrar as mensagens criptografadas da Alemanha Nazista e, em especial, quebrar o código da máquina Enigma, feito realizado por Alan Turing, hoje considerado pai da computação moderna, e da máquina Lorenz, que culminou na criação do Colossus, projetado por Tommy Flowers e seu time, o primeiro computador digital eletrônico programável da história. Apesar dos grandes feitos realizados por todos os envolvidos em Bletchley Park, o sigilo máximo exigido pelo governo britânico acabou escondendo essas histórias do público até elas começarem a ser liberadas décadas após o fim da guerra.
No universo do jogo, o Charles Milton Porter trabalhou com Alan Turing em Bletchley Park até o final da guerra e depois mudou-se para Rapture, desiludido pela morte da esposa num bombardeio a Londres. Embora a ficção científica da série BioShock às vezes seja bastante fantasiosa, esses pequenos fragmentos adicionados à história acabam sendo uma homenagem e incentivo para a busca por mais informações.
Em outro momento do DLC, esbarramos com Spitfire, que nada mais é que o primeiro videogame criado em Rapture, quando uma equipe de desenvolvedores entediados resolveu brincar com comandos e imagens na tela, o que remete ao surgimento dos antecessores dos videogames no mundo real. Spitfire aparece como um minigame jogável, mas, infelizmente para os jogadores de PC, devido a um bug os comandos do teclado não são reconhecidos, forçando o carregamento do último save.
Mudanças sutis
Além de uma história que aumenta o universo da série BioShock, Minerva’s Den apresenta algumas mudanças na mecânica de jogo. O básico está lá, você controla um Big Daddy, encontra novas armas e plasmids pelo cenário e procura Little Sisters para conseguir o precioso ADAM necessário para adquirir novos poderes, mas temos novidades.O Ion Laser, um canhão que dispara raios laser exclusivo do DLC, provavelmente será sua principal arma devido a sua praticidade e por ser muito mais legal disparar lasers contra os inimigos mesmo. Já o plasmid Gravity Weel, que gera um forte campo gravitacional que atrai todos os objetos a sua volta, foi subaproveitado, sendo usado apenas para resolver alguns puzzles de abrir portas bem óbvios. Também há um enfoque maior nos robôs de segurança, que inclusive receberam novas versões que podem atacar com lasers, mísseis ou raios elétricos. Outra diferença é que as máquinas Power to the People, que nos dois primeiros jogos oferecem upgrades para as suas armas, foram removidas e no seu lugar equipamento melhor é encontrado pelo cenário.
Talvez Minerva’s Den não seja tão atraente para quem procura algo muito diferente de BioShock 2, mas passa a ser item obrigatório para todos que quiserem se aprofundar no complexo e fascinante universo da série.
Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Stefano Genachi