O tempo passa, pessoas crescem, jogos se desenvolvem, épocas mudam, a vida continua. É impossível lutar contra o tempo, podemos apenas apreciar cada instante como se não houvesse o próximo. Isso vale também no mundo dos jogos, e todo e qualquer jogador da velha guarda sabe que mesmo com todos os jogos que temos hoje em dia, foi graças a uma geração de títulos que hoje chamamos de “clássicos” que eles existem, já que surgiram como resultado de uma evolução de mecânicas que pouco a pouco se condensaram em vários novos estilos de jogos.
É por esse motivo que hoje temos um mercado específico para jogos “retrô”, sejam remakes de clássicos que fizeram parte da infância de muitos gamers atuais, sejam novos jogos feitos com o estilo dos antigos, apenas para apelar para o lado nostálgico dessa velha guarda de jogadores. Eu mesmo sou um desses jogadores que amam esse estilo de jogo, que nos permite lembrar de detalhes que nos trouxeram para a geração atual, mas sempre me perguntei o que cada clássico teve a contribuir para nossos jogos atuais. Parece que foi nisso que a desenvolvedora indie Shiro Games pensou ao criar Evoland (PC/Mac), uma das experiências mais únicas que já tive o prazer de jogar.
“História do jogo”? Pense em “história dos jogos”
O subtítulo meio que diz tudo. |
Entenderam a situação? Você não joga o jogo para completar uma história em específico, mas joga para ir liberando tudo o que os jogos foram ganhando no decorrer da história dos videogames. Você vai encontrar baús que vão lhe dar cores de 8 bits, trilha sonora, barra de vida e até mesmo um baú que vai dar uma trama para o título! Aliás, essa é uma das grandes piadas do jogo, porque você não pode esperar do jogo alguma seriedade quanto à história, onde temos um grande clichê que era muito usado na era de ouro dos jogos: uma terra assombrada por um grande mal, cabe ao seu herói libertá-la dessa escuridão. Simples, direto, efetivo.
Agora o jogo tem cores! |
The Legend of Final Fantasy
É, você leu certo antes, o nome padrão do personagem (embora possa ser trocado) é Clink (C + Link). Mais a frente você consegue uma outra personagem para acompanhá-lo que se chama Kaeris (K + Aeris). Se acha que é pura coincidência, esse achismo vai se desfazendo conforme atravessa o mundo de Evoland, pois o jogo parece justamente uma mistura dos dois RPGs mais influentes da história dos jogos, The Legend of Zelda e Final Fantasy.O jogo lhe dá duas formas de jogabilidade, trocando entre elas de maneira situacional e só testando para ver qual está naquele mapa em questão. A primeira é ação em terceira pessoa, como é o caso de Zelda; você recebe uma barra de vida (após abrir o baú que lhe fornece isso) e deve brandir sua espada contra os inimigos que entrarem em seu caminho, sempre tomando cuidado para analisar como cada adversário se comporta antes de sair atacando-o sem pensar.
E algumas pitadas do estilo de luta de Diablo permeiam uma fase em especial! |
Tá, foi sim. Ocarina of Time (N64), estou olhando pra você.
Mas tudo tem limites
Infelizmente, a regra do título não se aplica para essa experiência também. Evoland não progride até a nossa geração atual, chegando no máximo ao estilo gráfico e de jogabilidade da sexta geração de consoles (PS2, GC e XB), o que ainda assim é um avanço e tanto. Convenhamos, é mais do que suficiente para o propósito do título de mostrar como evoluímos no decorrer das últimas décadas e como os jogos ganharam novas características que, lentamente, povoaram praticamente tudo que jogamos hoje em dia.Ainda assim, é uma mudança e tanto. |
O fator replay também deixa um pouco a desejar, já que a quantidade de colecionáveis é um tanto quanto limitada – estrelas e cartas bem escondidas ao redor do mundo do jogo para completar seus achievements. As cartas em especial podem ser usadas dentro de um minigame encontrado em uma das cidades do jogo que lembra muito o jogo de cartas presente em Final Fantasy VIII (PS), apenas um aditivo e mais uma forma de se jogar. Mas, como disse, é um aditivo, que serve apenas como distração. Se quiser se apegar em algo, apegue-se à experiência da evolução. Se não puder se apegar a isso, bem... Que tal comprar outro jogo?
Uma aula de história para se jogar
No fim das contas, Evoland serve bem ao seu propósito, que é apelar nostalgicamente aos velhos jogadores e dar aos novos um gostinho da experiência que nós tivemos no passado. Não é aquele jogo que você vai comprar para ter a experiência de uma história digna de uma odisseia, ou para experimentar uma jogabilidade única que coloca até jogadores experientes numa nova situação. É tudo sobre a nostalgia.É simplesmente lindo ver isso... |
...se tornando isso. |
Prós
- Estilo único que transita da era dos 8 bits até chegar perto da atualidade;
- Mescla de jogabilidade de duas grandes franquias, The Legend of Zelda e Final Fantasy;
- Colecionáveis bem escondidos que expandem as horas de jogo;
- Um jogo essencial para alguém que queira uma experiência nostálgica.
Contras
- Relativamente curto;
- Músicas repetitivas;
- Não comporta mais do que um save.
Evoland – PC/Mac – Nota: 8,5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Diego Migueis