Do clássico ao eletrônico: a eclética música de Masashi Hamauzu

em 22/06/2013

Quando o assunto é a música dos jogos da Squaresoft , o nome Nobuo Uematsu é sempre lembrado. Entretanto muitos outros compositores imp... (por Farley Santos em 22/06/2013, via GameBlast)


Quando o assunto é a música dos jogos da Squaresoft, o nome Nobuo Uematsu é sempre lembrado. Entretanto muitos outros compositores importantes trabalharam para a empresa, mesmo que muitos jogadores não os conheçam muito bem. Um desses é Masashi Hamauzu. O musicista começou sua carreira como trainee e chegou a ser o líder da equipe de música da Square Enix por algum tempo, até se tornar freelancer. Seus trabalhos mais conhecidos são algumas composições para Final Fantasy X e a música da série Final Fantasy XIII.

Do velho mundo para o Oriente

Masashi Hamauzu esteve rodeado por música desde o nascimento: sua mãe era japonesa e pianista, já seu pai era alemão e cantor de ópera. Hamauzu nasceu na Alemanha, mas sua família se mudou para Osaka, Japão, um ano depois. Durante a infância e adolescência seus pais lhe ensinaram música. Mesmo tendo raízes alemãs, Hamauzu não apreciava composições clássicas e preferia ouvir música pop. Ele também se apaixonou pelas trilhas sonoras de videogames, principalmente de RPGs como Dragon Quest.


Sob influência de seu pai, Hamauzu decidiu estudar música clássica na Universidade Nacional de Belas-Artes e Música de Tóquio. Lá ele passou a apreciar música clássica, em especial o trabalho de compositores impressionistas como Ravel e Debussy. Como estudante participou também de vários grupos musicais dentro da universidade, sempre tocando piano. Durante a graduação, ele percebeu que a Squaresoft dava grande valor à música de suas produções, por conta disso ele decidiu que trabalharia na desenvolvedora. Após concluir o curso, Hamauzu foi contratado como trainee da equipe de música da Squaresoft em 1995.

A vida de trainee e primeiros trabalhos

O currículo de Masashi Hamauzu impressionou seus empregadores e seu primeiro trabalho foi feito em conjunto com nomes importantes: compor quatro faixas para o game de ação Front Mission: Gun Hazard (SNES), sob a supervisão de Nobuo Uematsu, Yasunori Mitsuda e Junya Nakano. Ainda em 1995, Hamauzu compôs quatro faixas para o exótico jogo de luta Tobal No. 1 (PS). Seu último trabalho como trainee foi em Final Fantasy VII (PS,1997): Hamauzu foi responsável por operar o sintetizador na versão do game de “A Criação”, de autoria original de Joseph Haydn, e também foi uma das vozes do coral da popular “One Winged Angel”.

Junya Nakano, Nobuo Uematsu e Masashi Hamauzu
Depois de provar seu valor, Masashi Hamauzu foi encarregado de seu primeiro trabalho solo em Chocobo's Mysterious Dungeon (PS, 1997), primeiro spinoff da franquia Final Fantasy estrelando os chocobos e que nunca foi lançado no Ocidente. O foco do compositor foi arranjar temas clássicos da série, além de várias novas composições. O sucesso do jogo foi regular, entretanto, a música foi amplamente elogiada. Com isso, Hamauzu conseguiu recursos para fazer um álbum contendo arranjos orquestrados da trilha sonora do game.


Em 1999, ele trabalhou em SaGa Frontier II (PS), que foi um grande desafio para o compositor. Hamauzu pretendia seguir o estilo musical da série estabelecido por Kenji Ito, responsável pelas trilhas sonoras dos títulos anteriores da franquia SaGa e Seiken Densetsu (Mana, no Ocidente), entretanto, isso se revelou um grande problema. Quase no final do desenvolvimento, ele abandonou essa ideia e utilizou seu próprio estilo. Isso foi importante para que ele amadurecesse como compositor dentro da empresa. SaGa Frontier II recebeu um álbum arranjado, contendo interpretações impressionistas das composições em piano. 

O reconhecimento merecido

Foi somente em 2001 que Masashi Hamauzu começou a ser reconhecido mundialmente por conta da sua participação na trilha sonora de Final Fantasy X (PS2). O compositor entrou no projeto já em seus estágios finais de desenvolvimento, trabalhando em conjunto com Nobuo Uematsu. Por conta de seu histórico, ele também foi responsável por produzir o álbum Piano Collections do título. Já em Unlimited SaGa (PS2/2002), Hamauzu experimentou vários novos estilos, principalmente música eletrônica. 


Em 2004, seu trabalho árduo foi reconhecido pela já então Square Enix: com a saída de Nobuo Uematsu, Hamauzu foi promovido a líder da equipe de música da companhia. Além de ajudar outros compositores em seus trabalhos, ele idealizou o website dedicado ao time de musicistas da companhia. Após isso, foi o produtor musical de Musashi: Samurai Legend (PS2, 2005), sequência de Brave Fencer Musashi (PS). Seu trabalho seguinte foi Dirge of Cerberus: Final Fantasy VII (PS2, 2006), spinoff de ação de Final Fantasy VII. Masashi Hamauzu continuou expandindo e aperfeiçoando seu estilo com estes trabalhos.

Mesmo estando muito ocupado com as obrigações da direção de música da Square Enix, Hamauzu trabalhou em alguns outros projetos paralelos. O primeiro deles foi Sailing to the World Piano Score, um arranjo para piano de uma trilha sonora de Yasunori Mitsuda, feita a pedido do próprio Mitsuda. Seguindo a sugestão de vários produtores, Hamauzu produziu seu primeiro álbum original intitulado Vielen Dank. O compositor viajou até a Alemanha para gravar o disco, que teve faixas executadas na quinta edição do concerto Symphonic Game Music.

Das Zelt im Garten by Masashi Hamauzu on Grooveshark

Final Fantasy XIII e Monomusik

A maior surpresa da carreira de Masashi Hamauzu aconteceu em 2006, quando ele foi selecionado para compor a trilha sonora de Final Fantasy XIII (PS3/X360). A primeira faixa produzida para o título foi aquela do trailer do anúncio. Como o desenvolvimento do jogo foi conturbado, ele trabalhou paralelamente em dois outros projetos: um browser game chamado Oolong Tea Story e Sigma Harmonics, um RPG de DS. O compositor retomou a produção da música de Final Fantasy XIII em 2008, contando com o apoio de uma vasta equipe e até mesmo duas orquestras. A extensa trilha sonora reflete sua evolução como musicista e conta com inúmeros estilos. A música do game foi aclamada por jogadores de todo o mundo e é o seu trabalho mais importante até o momento.



Seguindo a tendência de outros compositores como Nobuo Uematsu e Yoko Shimomura, Masashi Hamauzu deixou a Square Enix em 2010 e fundou seu próprio estúdio de nome Monomusik. Inicialmente, ele continuou trabalhando com a companhia, sendo o foco Final Fantasy XIII. Foram produzidos vários álbuns baseados nas composições do game e Hamauzu participou de várias apresentações do concerto Distant Worlds: Music From Final Fantasy. O compositor é também o responsável pela música das continuações Final Fantasy XIII-2 (PS3/X360) e Lightning Returns: Final Fantasy XIII (PS3/X360).

Mitsuto Suzuki, Masashi Hamauzu e Naoshi Mizuta, os compositores de Lightning Returns
Com a liberdade de seu próprio estúdio, Hamauzu trabalhou em alguns outros projetos. Um deles foi fazer arranjos de Donkey Kong, Pikmin e Kirby para a série de concertos Symphonic Legends. O compositor também participou de um álbum em tributo à série Castlevania, compôs uma canção para o arcade Music GunGun! 2 e fez parte do time de musicistas da trilha sonora de Half Minute Hero 2 (PSP). Atualmente, Hamauzu está ocupado com o Imeruat, um projeto musical completamente desassociado de jogos.

Um compositor versátil

O piano é o instrumento preferido de Masashi Hamauzu, que o utiliza sempre que possível. A escolha é natural, já que o musicista pratica o instrumento desde a infância. Inicialmente, suas composições eram baseadas na música clássica, mas com o passar dos anos ele foi experimentando e agora seu som é uma mistura variada. Em uma mesma trilha sonora, estilos diferentes e conflitantes aparecem: tango, jazz, bossa nova, clássica, rock e até mesmo música eletrônica. Ele afirma que isso é resultado de suas influências clássicas (os impressionistas Maurice Ravel e Claude Debussy) e modernas (os artistas Hiroshi Miyagawa e Ryuichi Sakamoto). Seu pai é também uma de suas grandes inspirações, além de seus artistas favoritos.

Enigmatic Scheme by Masashi Hamauzu on Grooveshark

Um artista em ascensão

Mesmo contando com poucos trabalhos em relação a outros compositores de games, Masashi Hamauzu se destaca e já é considerado um dos grandes nomes na indústria musical de jogos. A variedade e complexidade de suas composições fazem com que os jogadores mergulhem completamente nos universos representados. Ele é também um artista versátil, sempre explorando novos estilos e oportunidades, como a série de concertos Symphonic Legends e seu projeto musical Imeruat. E vocês, já conheciam o trabalho de Hamauzu? Quais são suas composições favoritas?

Revisão: Alberto Canen
Capa: Diego Migueis


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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