Tem certos jogos que você bate o olho e sabe que não vai gostar; em um passeio em uma loja de games é certo que muito jogo você julga pela capa.
“Mais um shooter
genérico, meh”, e de repente um grande título de tiro pode ter sido jogado de lado.
“Esses japoneses não cansam de criar RPGs?”, e um dos melhores jogos do gênero passa pela sua mão e vai direto de volta pra prateleira. Acontece, e você sabe muito bem disso. É um mal que atinge muita gente, inclusive você e eu. E esse mal, muitas vezes, é um baita de um erro.
Foi assim comigo com
Persona 4 Golden, para
PSVita. Certo dia vi minha namorada jogando
Persona 3 no PSP e achei o jogo bastante estranho: um monte de adolescentes dando tiro nas próprias cabeças pra chamar uns monstros muito loucos pra bater nos inimigos (que eram monstros mais loucos ainda). Aquilo me pareceu bizarro demais, mas a gota d’água foi quando eles derrubaram os inimigos no chão e literalmente juntaram neles, descendo a porrada mesmo.
“Bizonho demais até pra mim”, pensei.
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Assim como Persona 3, em Persona 4 a união também faz a força |
Meses depois fui para a
E3. No dia em que fui buscar minha credencial percebi que junto dela vinha um anúncio da
Atlus, desenvolvedora das séries Shin Megami Tensei e Persona. O tal anúncio era um impresso com o desenho de um urso louco fazendo pose de “mamãe, tô forte”. Li que os primeiros visitantes do estande da Atlus receberiam uma
camiseta limitada de Persona 4 Golden. Nem liguei; afinal, nunca joguei Persona e naquele momento nem lembrei do tal Persona 3 e seus personagens pseudossuicidas.
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Se arrependimento matasse... |
Mais alguns meses se passaram e surgiu a oportunidade de viajar pra São Paulo. Aqui no Rio de Janeiro tem várias lojas de games, mas eu ainda não havia tido a oportunidade de conhecer as famosas franquias paulistas, daquelas com anúncios em várias revistas especializadas. Em uma certa manhã, saí pra dar uma volta com meu amigo
Igor Andrade, editor da
Nintendo World, e a gente acabou parando em uma famosa loja de videogames que eu era louco pra visitar. Passamos um bom tempo garimpando alguns joguinhos a bons preços, até que caí na seção de PSVita. Até o momento eu tinha bem poucos jogos pro portátil, e grande parte do tempo de utilização dele foi pra assistir a filmes e séries em
streaming (convenhamos, a tela dele é perfeita pra isso). E foi aí que eu vi a capa colorida de Persona 4 Golden e pensei:
“por que não?”. Pagamos e fomos embora, felizes, com uma porção de games.
Voltando do passeio, mostrei minha nova aquisição pra namorada, que olhou pra mim e disse:
“acho que você não vai gostar, você não curtiu Persona 3. Não acho que seja seu tipo de jogo”. Discordei, claro. Disse a ela que jamais ia saber se eu não experimentasse, mas no fundo eu pensava a mesma coisa: já dava o jogo como desperdício de dinheiro. O pior de tudo era que meu Vita tinha ficado no Rio de Janeiro, então eu só descobriria se fiz um bom negócio depois que voltasse pra casa. E voltei. Testei, joguei um pouco. Achei legal, mas meio arrastado. Não estava acostumado com esse estilo “meio-
dating sim, meio-JRPG”, mas até que curti. Ainda não sabia se a compra tinha valido a pena, de qualquer forma. Só que acabei comprando
Animal Crossing: New Leaf, para
Nintendo 3DS, e deixei P4G de lado.
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"Imagina, são seus olhos..." |
Algum tempo depois, lembrei que tinha parado o jogo em um momento interessante e resolvi retomar a jogatina. E foi aí que o jogo me ganhou: a partir dali eu simplesmente não conseguia mais parar de jogar.
É estranho, porque não sei explicar ao certo os motivos de ter viciado em Persona 4. Pode ter sido pela
imensa liberdade de escolhas que o jogo te dá e as diferentes repercussões que elas podem gerar. Você praticamente vive a vida do personagem principal durante um ano, e tem de decidir se vai estudar pra prova do dia seguinte, ler um livro, trabalhar durante a noite ou simplesmente ir dormir. Você também escolhe qual o clube do qual ele vai participar, se vai estudar música ou teatro, se vai jogar futebol ou basquete. E, dependendo das suas escolhas, você conhece diferentes personagens, cada quais com seus próprios problemas e motivações, e as coisas vão tomando rumos distintos. Você se importa com seus amigos, com o que pode acontecer a eles. E se emociona a cada novo acontecimento.
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Rumo à seleção! |
Ainda assim, apesar da liberdade de escolhas, o jogo muitas vezes não te dá opção alguma. Ele simplesmente “se joga pra você”, a história vai avançando por um rumo predeterminado e tudo o que você pode fazer é
assistir e torcer pra ter feito as escolhas certas anteriormente. Porque nem tudo está disponível pra sempre, nem todo mundo quer bater papo todo dia. Se chover, então, some todo mundo e suas opções de interação praticamente desaparecem. E ainda assim o jogo te prende.
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"Por que me abandonou?" T^T |
O pior é que você mal percebe que o jogo já te ganhou. Você esquece que
sua cidade em Animal Crossing precisa de você (pois é, minhas plantas estão constantemente
secando e morrendo), que parou no meio da história em
Injustice: Gods Among Us, que tem jogo novo ainda lacrado na sua lista de espera. Você só consegue pensar em elevar os rankings de interação com todo mundo ao máximo e sonha em algum dia conseguir
terminar o prato especial no Aiya Chinese Restaurant.
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"Você começa a achar que sua tigela é um portal para a Dimensão da Carne" |
Apesar do recente
problema com a Index Corp., atual dona da Atlus, torço pra um anúncio de
Persona 5 na Tokyo Game Show, já que dificilmente a desenvolvedora o fará na Gamescom, e que o jogo seja tão divertido, emocionante e viciante quanto P4. Pra ter uma ideia, estou com mais de 100 horas de jogo em Persona 4 Golden e prestes a começar um New Game + para conseguir o True Ending (e quem sabe platinar o jogo de uma vez). Penso também em comprar toda a série Persona na PSN, já que quase todos os jogos estão disponíveis para PSP (e, consequentemente, pro PSVita). E sigo arrependido por não ter ido até o estande da Atlus na E3 2012 pra pegar uma camiseta com estampa do Teddie.
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Vitor Nascimento