A linha entre o bem e o mal pode se mostrar extremamente
tênue em determinadas situações. Por mais opostos e paradoxais que possam ser
os caminhos, eles sempre acabam por se cruzar devido a diferentes pontos de
vista. Afinal, até onde um guerreiro querer salvar a vida de sua esposa pode
ser considerado errado? E se isso custasse a vida de milhares de pessoas? É
esse tipo de conflito que passa pela mente de Gabriel Belmont, o primeiro de
sua linhagem em Castlevania: Lords of Shadow (PS3/X360) e carregando uma história trágica
em suas costas.
O trilhar na penumbra
Gabriel é um cavaleiro treinado pela Irmandade da Luz (“Brotherhood of Light” no original) para encarar as forças das trevas que ameaçam a sociedade humana no século XI. É uma pessoa extremamente ambígua e extremista, contendo dentro de si tanto a escuridão como a luz – e isso é algo que se reflete até em suas habilidades de combate. Seu gênio forte se mostra uma característica crucial para seu senso de justiça, mas se mostra um empecilho perante a sua atitude explosiva e temperamento violento.Essas características estavam presentes no cavaleiro desde sua infância, onde era um simplório garoto de uma pequena vila. Cresceu ao lado de Marie, uma boa amiga de infância e a única que era capaz de pacificar a mente do jovem aprendiz da Irmandade quando este entrava em seus estados de frenesi súbito. Esse vínculo desenvolvido pelos dois foi o que acabou gerando um amor verdadeiro, e a história se concluiu com a união matrimonial do casal. A história seria linda se acabasse por aí.
Uma tragédia. Marie é assassinada. Gabriel, possesso, inicia uma busca por uma maneira de cruzar o véu da morte e trazer de volta sua amada esposa. Para isto, lhe é instruído que a lendária “Máscara de Deus” tem a capacidade de enganar a morte, e que com ela poderia se reunir com sua esposa. Entretanto, para concluir tal façanha, é preciso que o cavaleiro da irmandade derrote os três Lordes das Sombras que governam o submundo.
Em toda sua empreitada a naturalidade dúplice dos poderes de Gabriel são explorados ao máximo, em especial no uso de magia negra e branca, mostrando que o mesmo herói pode andar por dois caminhos diferentes. Após concluir seu caminho (e descobrir que fora iludido a matar a própria esposa) e enfim conquistar a Máscara de Deus, descobre que ela é apenas um alívio ilusório; ela não trás de volta a vida nenhuma pessoa, apenas dá ao portador o poder de ver e tocar os espíritos como se fossem seres vivos. A frustração de ter de deixar sua esposa partir foi o suficiente para afundar o cavaleiro de vez em um poço de autopiedade e ressentimento.
O alvorecer do dragão
Após algum tempo em reclusão social autoinfligida, Gabriel fora convocado por Laura, até então última vampira de classe alta viva. Ela precisava da ajuda do cavaleiro para derrotar o Esquecido (“Forgotten One”), um demônio poderosíssimo que havia sido selado pelos fundadores da Irmandade da Luz por não poderem controlar seus poderes. Com a derrota dos Lordes das Sombras, o selo enfraqueceu (pois os Lordes nada mais eram do que encarnações dos lados negros dos fundadores) e a criatura iria transformar o mundo num cemitério gigante. Como único capaz de encarar a criatura, Gabriel concordou em ajudar a vampira."Você deve se tornar uma criatura da noite, como eu." |
A luta que vem a seguir se mostra aterradora, o inimigo é forte demais até para Gabriel, mas sua fraqueza está no fato de que ele precisa diminuir os próprios poderes para quebrar os selos que o mantém preso. Em estado de frenesi ampliado pela corrupção vampírica, Gabriel se aproveita das fraquezas do inimigo e dilaceram o oponente imortal, derrotando o adversário ao absorver os poderes que antes o pertenciam. Agora, Gabriel é a criatura noturna mais forte já conhecida.
Em vez de amaldiçoar a própria existência, Gabriel deixa sua ira tomar o corpo e a revolta contra a humanidade que o ludibriara recair sobre o mundo. Quando assumiu o castelo, deixou para trás sua antiga identidade: Gabriel Belmont morreu para o nascimento do Dragão, “Dracul” – ou, como ficou conhecido dentre a sociedade, “Drácula”.
"Porque eu sou o dragão, Dracul! Eu sou o Príncipe das Trevas! E essa é a minha vingança." |
Poucos imaginariam que a origem da criatura mais temida da noite fora um caso de amor concluído em tragédia. Seria cômico se não fosse trágico. Olhando por este ponto de vista, quem pode culpar Gabriel por suas escolhas? Quem pode culpar o Drácula por querer se vingar pela dor que fora causada por uma humanidade odiosa? Quem são os verdadeiros monstros? O ponto de vista é um dom que todos temos, mas todos nós podemos usá-lo da maneira certa? Teremos de aguardar por Castlevania: Lords of Shadow - Mirror of Fate (3DS) e Castlevania: Lords of Shadow 2 (PS3/X360) para definir melhor até onde vai a dualidade de Gabriel.
Revisão: Ramon Oliveira de Souza