“Nada se cria, tudo se copia”
Poderíamos resumir a primeira geração de videogames neste simples ditado popular. Para começar a Discussão de hoje, precisamos relembrar como tudo começou. Ralph Bear foi o responsável pelo primeiro videogame doméstico da história, o Magnavox Odyssey. Ele trazia quatro jogos já na memória, sendo um deles um grande marco na popularização dos vídeogames: seu nome era Ping Pong e foi, realmente, o primeiro jogo comercial de rebater a bolinha (que era quadrada, por motivos óbvios) entre dois jogadores tentando imitar uma partida de tênis real.
PONG, a imitação original |
Enfim a bola de neve das imitações chegou. Novas versões do Odyssey apareceram como filhotes de coelho, cada vez mais buscando imitar o PONG de Bushnell, fazendo de Ralph um refém da imitação de seu próprio produto. Isso sem contar as versões baratas de consoles domésticos copiando PONG, que apareciam aos montes nas mais diversas lojas. Sendo sincero, uma versão mais vagabunda do que a outra.
Assim podemos resumir a primeira geração de videogames: cópias, imitações e plágios de um jogo de ping pong. Essa “Geração PONG” é passado, claro, já que hoje podemos desfrutar de games bem diversificados, porém, este padrão de “sempre a mesma coisa” não ficou totalmente para trás...
Odyssey 4000, uma das últimas versões a serem lançadas. E, sim, ela também copia PONG. |
Sétima geração: o “mais do mesmo”
Diga o que quiser: a expressão “mais do mesmo” no mundo dos jogos está se tornando muito recorrente atualmente. Talvez você deve ter a ouvido de um amigo, de um jornalista ou até lido em algum comentário aqui no Blast, mas seu significado é bem simples: a falta de inovação entre alguns dos jogos atuais. Se na primeira geração só podíamos jogar PONG, atualmente existe uma grande variedade de títulos cuja base é totalmente igual. Há muita coisa nova e inovadora aparecendo por todos os cantos, claro, mas esse mais do mesmo é algo que vem se tornando cada vez mais recorrente.
Antes que você se assuste, é bom deixar claro a grande diferença entre as épocas. Naquele tempo, a tecnologia era bem inferior à nossa e fazer algo além do padrão era realmente difícil, ainda que possível (afinal, os jogos evoluíram). Em tese, a primeira geração foi composta de imitações baratas, já que não dava pra mudar muita coisa. Hoje a inovação pode ocorrer livremente e isso de fato acontece, ainda que em níveis muito baixos.
Não quero dizer que Call of Duty e Battlefield são exatamente iguais ou que um é cópia do outro. Sabemos que cada um tem uma história melhor, mecânica ou modos de jogo diferenciados, mas pode-se dizer que os atuais títulos do gênero first-person shooter estão muito semelhantes; não só neste gênero, mas em muitas outros também. Sim, há inovações tanto dentro das próprias séries quanto entre elas, mas os games seguem com as mesmas mecânicas e, em nenhum momento, há uma mudança radical, que apresente novas experiências de jogo.
Que papelão, hein? |
“Pu que” você faz isso?
Certo, o que ocorre é claro. Talvez não tão evidente quanto na primeira geração, mas está acontecendo. A pergunta que não quer calar é: por quê? Estatística é a resposta neste caso. Recentemente foi anunciado uma lista mostrando os 10 jogos mais vendidos no Brasil para Xbox 360, PlayStation 3 e Wii no ano de 2012, segundo a GfK.
Para os consoles da Sony e da Microsoft, o jogo mais vendido foi Pro Evolution Soccer, em suas versões 2012 e 2013, sendo seguido de FIFA Soccer 13 (e, no caso do PS3, até FIFA Soccer 12 aparece na lista). Na lista do Wii, temos também Pro Evolution Soccer 2012, com a companhia da franquia Just Dance (que também mantém a mesma fórmula há algum tempo), com suas versões 3 e 4, além de New Super Mario Bros. Wii. Continuando a lista de jogos musicais, Dance Central e sua continuação também aparecem na lista do Xbox 360. Para os FPS, Call of Duty: Black Ops II aparece nas listas do PS3 e do X360.
Resultado: apenas de jogos de futebol, foram sete versões entre os consoles. De jogos musicais que seguem a fórmula de dança por sensores de movimentos, temos quatro, além da aparição da franquia Call of Duty como quinto lugar em vendas no país inteiro.
Mas afinal, por que as empresas tendem a barrar inovações? Porque vende. Não sou um fã assíduo de FPS, nem de futebol, mas sou um fã dos jogos de plataforma do Mario e de jogos musicais e posso afirmar, com toda certeza, que nestes casos e em muitos outros, nós necessitamos de novas ideias. Se antigamente as imitações apareceram porque PONG fazia sucesso e não era tão fácil criar algo diferente, hoje as vendas são mais expressivas que o próprio jogo. Tudo bem, eu até posso aceitar as inovações de Mario e Call of Duty, mas são estratégias como a da EA em FIFA 13 que mostram, claramente, o que está acontecendo.
A culpa é um pouco nossa também, acreditem. Compramos todos esses jogos “mais do mesmo” e é isso que gera o lucro do mercado. Não quero propor uma revolução contra o comércio de games, mas apenas uma reflexão. Muitos jogos hoje buscam inovar e no entanto não recebem a atenção merecida, como boa parte da indústria indie atual e muitos outros títulos que fazem a gente pensar diferente. Eles merecem sim a nossa atenção às vezes.
E essa inovação está na nossa cara e não percebemos. Existem tantos jogos exceção a essa regra, tanto vindo do mercado das publishers quanto dos desenvolvedores indies, que podemos ficar perdidos em tantos novos modos de jogar. FPS? Todo o universo de Portal e a atmosfera de Borderlands são poucos, mas ótimos exemplos. Para os jogos musicais, temos Rocksmith, vindo da própria Ubisoft (que também produz Just Dance), que, por mais que não seja de dança, pode ser considerada a real experiência de um jogo musical de guitarras. Eu aposto todos os meus Rupees que, se você procurar, vai achar muita coisa nova. Não precisa parar com os conhecidos, mas encontrar estes “desconhecidos” vai ser uma ótima pedida, acredite.
Braid, um dos ótimos exemplos de inovação no gênero plataforma vindo do lado indie da Força |
Se você é fã de FPS, você deve experimentar Portal |
O que você acha sobre isso? Você acha que os jogos estão cada hora “mais do mesmo” ou as pequenas inovações são totalmente válidas (e nada pequenas)? Poderemos ter um cenário parecido com o da primeira geração em um futuro próximo? Deixe sua opinião nos comentários.
Revisão: Bruna Lima