Blast from the Past: Civilization II (PC)

em 24/01/2013

Em 1996, o estúdio MicroProse já estava famoso graças ao trabalho de Sid Meier e Bruce Shelley. Cinco anos antes, numa época em que SimCi... (por Bruno Grisci em 24/01/2013, via GameBlast)


Em 1996, o estúdio MicroProse já estava famoso graças ao trabalho de Sid Meier e Bruce Shelley. Cinco anos antes, numa época em que SimCity e Populous estavam definindo a ideia de “jogar como um deus”, a dupla desenvolveu um jogo de história. Ou melhor, um jogo sobre mudar a história: Civilization, dando início a uma das maiores e mais importantes séries de jogos de estratégia da atualidade. Essa saga não poderia acabar em um único game, então surgiu Civilization II.

Embora leve o título Sid Meier's Civilization II, seguindo a fórmula adotada por toda a franquia, nem Sid nem Bruce, os criadores do primeiro jogo, participaram do desenvolvimento desta sequência, lançada para computadores Windows, Mac OS e posteriormente adaptada para o PlayStation da Sony. Aqui existe uma diferença significativa, pois o jogo original foi adaptado para diversas plataformas, incluindo Super Nintendo e Sega Saturn, muito embora Meier sempre tenha considerado a versão de computadores como sendo a definitiva.

Se Civilization II não foi tão inovador quanto o seu antecessor, evoluiu muito bem a fórmula, sendo até hoje um dos melhores capítulos da série. A câmera, por exemplo, deixou de usar a visão de cima para baixo para adotar a isometria, tornando o mundo mais “tridimensional”. Os gráficos do mapa principal e das unidades continuaram sendo sprites 2D pixelados, mas possuíam seu charme. Se na tela principal um império não passava de alguns pequenos pontos coloridos, ao clicar numa cidade era possível ver uma representação modelada em 3D da mesma com todas as construções, que mudavam de estilo à medida que seu reinado avançava através das eras. Antigos aquedutos acabavam se perdendo em meio a supermercados e arranhas-céus com o passar do tempo. Se você fosse um líder zeloso, passaria bom tempo apenas admirando suas cidades.

Uma cidade em Civilization II
Por falar em gráficos, não podemos ignorar o amplo uso de live-action no jogo. Primeiramente, temos os conselheiros da sua civilização, todos atores de carne e osso representando estereótipos cômicos das cinco áreas existentes: militar, ciência, diplomacia, economia e satisfação popular (um espécie de cover de Elvis Presley). Além de dar alguns conselhos óbvios e outros não muito sensatos, adoravam discutir entre si. Caso o seu reino descambasse para uma anarquia, tudo que eles fariam seria gritar uns com os outros. E, assim como a arquitetura das cidades mudava com o passar dos séculos, o figurino dos atores acompanhava a troca das eras.


O outro momento que utiliza cenas “reais” é os vídeos das maravilhas. Aqui cabe uma explicação: Civilization é um jogo de estratégia em turnos onde as unidades e infraestrutura são construídas pelas cidades. Cada unidade ou construção toma um determinado número de turnos para ser criada, dependendo do tamanho da cidade, dos seus recursos e das melhorias que você já possui. As maravilhas são feitos colossais e únicos da humanidade, variando da Grande Pirâmide de Gizé ao Taj Mahal, do Projeto Manhattan (desenvolvimento da bomba atômica) ao Sufrágio Feminino. O jogo possui várias maravilhas disponíveis, mas cada uma delas só pode ser feita uma única vez por uma única civilização durante toda a partida. Duas Torres Eiffel no mundo? Esqueça.

Concluir um desses projetos ambiciosos traz prestígio a sua civilização, além de alguns bônus. A Grande Biblioteca, por exemplo, garantia a descoberta “automática” de qualquer tecnologia dominada por outras duas civilizações enquanto a eletricidade não surgisse. Mas eles custavam caro e tomavam um número dolorosamente grande de turnos para ficarem prontos. O maior problema não era a impaciência, e sim a possibilidade dos rivais iniciarem a construção de uma maravilha na qual você já estava trabalhando. Levava o prêmio quem terminasse primeiro, então o risco de desperdiçar vários turnos e ter que jogar tudo fora era real. Mas se você concluísse uma maravilha antes de todos, um vídeo aparecia repentinamente na tela com desenhos e fotos da obra que você acabou de criar. Para quem está apenas lendo pode não parecer, mas era extremamente recompensador. O esforço foi grande, mas os resultados foram grandiosos.


Os vídeos não eram mudos, é claro, mas sim acompanhados por uma pequena melodia para deixar a sensação de vitória melhor. Sobre música, aliás, embora o jogo não tenha um grande hit como Baba Yetu, tema do quarto capítulo da série, a trilha sonora é muito agradável e passa uma sensação de diversidade, buscando inspiração em diferentes ambientes culturais. Os nomes das composições evidenciam a temática, como em “Harvest of the Nile” e “Aristotele's Pupil”.

Além dos gráficos, outro ponto que evoluiu muito entre o primeiro e o segundo título foi a inteligência artificial. Os eventos randômicos deram lugar a civilizações controladas pelo computador e lidando com os mesmos desafios enfrentados pelo jogador, proporcionando um grande salto na jogabilidade. Fora isso, mais conteúdo foi adicionado e o esquema de batalhas, bem como a topografia do mapa, foi alterado.

Capa do manual de instruções do jogo.
Uma coisa que todos devem saber sobre Civilization é que não se trata de um jogo simples. Entre colonização, gerenciamento de cidades, exploração de recursos, desenvolvimento de tecnologia, diplomacia, política interna e guerras, muitos fatores estão envolvidos. Um game assim precisaria explicar suas regras em algum lugar, não é mesmo? O passo a passo de como jogar Civ II está em um manual de instruções impresso que acompanha o game. E que manual: são 186 páginas explicando desde como proceder com a instalação até o que fazer caso os arredores de suas cidades estejam poluídos ou qual o bônus ofensivo ao atacar navios com unidades áreas.


E se você acha que escaparia de ler esse livro com a desculpa de não saber inglês, saiba que o jogo para Windows era produzido em Manaus e totalmente traduzido para o português brasileiro, inclusive as quase 200 páginas do manual e os diálogos dos conselheiros. Um feito que merece reconhecimento, dado o ano de lançamento e as proporções do jogo, que contém até mesmo uma enciclopédia interna, a Civlopedia, com detalhes de todas as civilizações, unidades, construções e demais elementos do jogo. As descrições não apenas indicam suas funções dentro do game, mas também possuem uma breve explicação com o seu contexto histórico, não deixando de ser uma fonte de aprendizagem.

Por falar nesse assunto, embora Civilization lide com vários elementos históricos reais, o objetivo da série nunca foi uma representação fiel do percurso da humanidade. As peças estão todas separadas, cabendo ao jogador decidir como montá-las em seu próprio mundo dentro do período de 4000 a.C até 2020 d.C., quando a partida acaba (mas sempre há o botão  “Espere! Só... mais... um... turno” para quem quiser prosseguir no futuro). Quer liderar um ataque romano com panzers a uma cidade viking fortificada por helicópteros e espadachins? Sem problemas.

Civilizações disponíveis:

  • Norte-americanos
  • Astecas
  • Babilônios
  • Cartagineses
  • Celtas
  • Chineses
  • Egipcios
  • Ingleses
  • Franceses
  • Alemães
  • Gregos
  • Indianos
  • Japoneses
  • Mongóis
  • Persas
  • Romanos
  • Russos
  • Espanhóis
  • Sioux
  • Vikings
  • Zulus

Além das civilizações, ainda existem os bárbaros, povos que vivem em aldeias espalhadas pelo cenário. O jogo conta com trinta e quatro opções de construções para as cidades, quarenta e cinco tipos de unidades, vinte e oito maravilhas e oitenta e nove avanços tecnológicos.

Há dois modos de vencer uma partida. O mais simples é eliminar todas as outras civilizações, restando como líder soberano de todo o mundo. O outro é alcançar a distante estrela de Alpha Centauri construindo uma grande espaçonave antes do ano 2020. Mas divertido mesmo era receber um “título” de acordo com a sua pontuação, sendo “O Magnânimo” a maior honraria.

Civilization II recebeu duas expansões que adicionaram novos mapas ao jogo, Conflicts in Civilization e Fantastic Worlds, este último trazendo elementos da fantasia para a série. O jogo foi relançado na Multiplayer Gold Edition, com uma nova inteligência artificial, as duas expansões inclusas e um modo multiplayer online. Em 1999 seria lançado Civilization II: Test of Time, que apesar do nome trata-se de um novo jogo com unidades redesenhadas, modos de campanha e mudanças na mecânica dos mapas. Por fim, em 2001, a Firaxis, agora responsável pela série, lançou Sid Meier's Civilization III, encerrando o capítulo da história de um dos mais aclamados jogos de estratégia de todos os tempos.


Revisão: Rafael Becker

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